O amor está no ar: casal de pilotos comanda voo junto pela primeira vez

O comandante Eric de Medeiros Viana é baiano, de Salvador. A copiloto Rafaela Loss Garcia é gaúcha, de Garibaldi. Eles se conheceram em Fortaleza, no Ceará. Moram juntos em Florianópolis, em Santa Catarina.

Quando conversaram com Nossa para essa entrevista, estavam em São Paulo, capital. No dia anterior, haviam feito o primeiro voo juntos desde que se casaram, em abril desse ano. Foram para Porto Alegre, no Rio Grande do Sul.

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A vida nômade de lá para cá pelo Brasil é rotina na vida do casal de pilotos da Latam — quando contam qualquer história sobre sua vida, citam diversos destinos. Mas, apesar de viverem no ar, essa foi a primeira vez em que a companhia aérea juntou os dois em um voo.

E a data não poderia ser mais simbólica: o feriado que antecedeu o Dia dos Namorados.

Eu estava tão feliz... estava radiante. Sempre olhávamos as escalas pensando no dia em que voaríamos juntos e isso finalmente aconteceu. Já o respeitava como profissional, mas ao ver a pessoa trabalhando, a minha admiração aumentou. Foi um prazer", conta Rafaela, empolgada.

No ar, o comandante Eric fez o briefing de voo ao microfone, com informações técnicas. Logo depois avisou os passageiros que a co-piloto ao seu lado era sua esposa. "O pessoal adorou. Temos treinamento rigoroso da empresa para voar dentro do padrão e correu tudo muito bem. O dia estava um espetáculo e o por do sol, maravilhoso", diz.

Um "almojanta" virou casamento

O caso de amor começou quando a tripulação chegou em Fortaleza, em 2019. Eric convidou a todos para um "almojanta", já que haviam chegado à cidade à tarde. No horário marcado, a única que aceitou foi Rafa. Ambos foram juntos a um restaurante beira-mar, perto de um píer, e lá conversaram principalmente sobre a vida de solteiros.

Era início de janeiro e brincamos com o fato de fazermos aniversário em dias seguidos, no dia 17 e 18 de janeiro. Combinamos de comemorar em algum lugar", Eric conta.

Rafa já tinha planos e foi deixando para depois. Na época, ela morava em São Paulo e ele dividia um apartamento com dois amigos em Salvador — o date rendia problemas de logística dignos de comédia romântica. O piloto perguntou aos amigos um bom lugar para levá-la quando as agendas coincidissem em São Paulo e recebeu a dica de ir ao Paris 6.

Depois desse encontro, marcaram um próximo. E outro. "E assim vai há quatro anos", lembra Rafa.

Mas no meio do caminho tinha uma pandemia que afetou de maneira pungente o setor em que ambos atuam. Decidiram morar juntos em Floripa, onde o custo de vida é menor. Passavam o tempo cozinhando, fazendo pães, jogando videogame e indo à praia com frequência. Viviam uma vida pacata enquanto esperavam o retorno das atividades e que a empresa os chamasse novamente para o trabalho.

Rafa brinca que passaram dois anos juntos para compensar cada dia longe, no exercício da profissão. "As áreas que envolvem o público foram muito atingidas. Mesmo na aviação executiva não havia muito mercado", lembra.

Foi só no começo de 2022 que voltaram a fazer voos. Rafaela ficou tensa: "Quando nos chamaram de novo, eu me perguntava: como é que se vive? Não lembrava como sair para o mundo de novo", conta.

Eric concorda que houve um impacto no retorno ao dinamismo da vida na aviação, de estar cada dia num lugar. "Voltamos para a correria após muito de tempo de marasmo, em que todos os dias fazíamos as mesmas coisas. Agora não tem rotina. Mas o trabalho dignifica. Foi ótimo", ele diz.

Só em 2023, com a retomada da vida normal, fizeram a cerimônia do casamento. A mistura da "Bahia gaúcha" funcionou. Na recepção do casamento, as famílias se adoraram e dançaram juntos uma mistura de ritmos. "Foi um sucesso essa festa", contou Eric.

Tão parecidos que assusta

Capricornianos, se dizem tão parecidos "que assusta". Passam grande parte dos dias em São Paulo, onde têm sua base em Guarulhos. Não são de baladas ou bares. Gostam de ir à academia juntos ou comer fora.

"Optamos pelo descanso. Às vezes, é melhor ficar no hotel, em São Paulo, do que pegar outro avião só para ir para casa. A gente está acostumado com a vida em uma mala", ela diz.

Eric garante que se sobrar só um pedaço de chocolate, ele deixa para ela. Rafaela confirma que ele não só diz, realmente faz muitas gentilezas. Ambos se olham de maneira apaixonada.

Quando estão em Floripa, um dos programas favoritos é caminhar na praia.

Ele é de Salvador e me mostrou como é viver no litoral. E eu mostrei para ele o que é o frio da Serra Gaúcha. Florianópolis junta essas duas coisas", diz.

Eric afirma que a realidade na aviação permite viver situações às quais normalmente não se tem acesso. Como, por exemplo, encontrar um amor num almoço despretensioso no outro extremo do país.

A esperança dos dois é que, agora, dois meses após a formalização do casamento, as escalas sejam cada vez mais parecidas. E, quem sabe, calhe de voarem mais vezes na mesma cabine. O sol se por de lá de cima é mais romântico, mesmo que seja a trabalho.