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Transgênero tailandesa combate discriminação por meio do muay thai

A transgênero Nong Rose é tailandesa e luta muay thai - EFE/DIEGO AZUBEL
A transgênero Nong Rose é tailandesa e luta muay thai Imagem: EFE/DIEGO AZUBEL

27/09/2018 06h12

Noel Caballero.

Phimai (Tailândia), 27 set (EFE).- Com o rosto maquiado, batom vermelho e sobrancelhas delineadas, a transgênero tailandesa Nong Rose sobe no ringue de muay thai determinada a combater com ferocidade seus oponentes masculinos e a discriminação.

"Quando estou no ringue só penso em vencer", diz à Agência Efe, a atleta, de 22 anos, antes de um combate realizado na cidade de Phimai, para o qual entra na arena com macacão azul e uma bolsa da Hello Kitty.

Enquanto recebe as últimas instruções do treinador, dezenas de fãs se aproximam para desejar sorte à lutadora, que se tornou uma espécie de heroína local.

Apelidada de "a rosa venenosa", Rose começou no esporte por influência de seu tio, um famoso lutador aposentado.

"Quando declarei minha sexualidade - aos 13 anos -, no início a indústria do muay thai me menosprezava e me acusavam de sair em vantagem por vestir um sutiã esportivo durante os combates" enquanto seus oponentes lutavam com o peito descoberto, lembra a tailandesa, cujo nome de nascimento é Somros Polcharoen.

Atualmente, Rose é a única transgênero em atividade dentro deste esporte, uma luta considerada nacional no antigo reino de Sião, e segue os passos de Nong Toom, que se aposentou em 1999 - para iniciar sua mudança de sexo - após ser a primeira "trans" a romper as conservadoras regras desta centenária prática.

Enquanto se aproxima a hora de seu combate, a atração principal da noite, pugilistas mais jovens trocam socos e chutes no ringue e esquentam o clima na arena montada ao ar livre.

"As críticas me motivam para a vitória. Alguns oponentes me desprezam ao me verem lutando com maquiagem, pensavam que eu não tinha chance contra eles. No final, eu ganhava o combate", confessa a lutadora, que conta com mais de 60 vitórias em seu cartel.

O tom quase hipnótico das flautas tradicionais, parecido como utilizado por encantadores de serpentes, precede a luta.

Rose, que veste um calção de boxe e um top, e seu adversário dançam no ringue em uma espécie de ritual para dar sorte e intimidar o rival.

A tailandesa parece imitar uma borboleta que flutua sobre a lona balançando suas asas, enquanto o oponente corre pelos quatro cantos do ringue fazendo gestos de virilidade.

O gongo soa. Familiares e amigos de Rose aclamam e aplaudem cada golpe desferido pela lutadora.

Após os cinco assaltos e por decisão unânime dos juízes, Rose se sagra campeã e recebe o cinturão S1 do peso super pena.

"O que quero é que todas as companheiras transgênero que se sintam deprimidas (por conta da discriminação) se levantem e lutem. Todos somos bons em diferentes aspectos e trabalhos. Se persistirmos, um dia alcançaremos o sucesso", diz a atleta.

"Às mulheres transgênero que querem ser lutadoras de Muay Thai: pratiquem, trabalhem duro, sejam pontuais e poderão superar a qualquer um. Ser mulher transgênero é como qualquer outro homem que se levanta e briga pelo que ama", continua a lutadora.

Entre os feitos Rose está o de ter sido - em junho de 2017 - a primeira transgênero a lutar no mítico estádio Rajadamnern, o mais antigo deste esporte e cujo ringue nem sequer pode ser tocado por mulheres.

Apesar de sua juventude e uma longa carreira pela frente, que já a levou a lutar em outros países, como França e Japão, a tailandesa já tem um plano para o futuro.

"Quero abrir minha própria academia de Muay Thai para estrangeiros e tailandeses e iniciar o tratamento para uma futura intervenção para a atribuição de gênero, embora ainda não tenha planejado quando será", ambiciona a campeã.

Embora a Tailândia tenha fama de ser um país aberto em relação ao coletivo LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transexuais), associações de direitos civis denunciam que as pessoas deste grupo continuam sendo tratadas como cidadãos de segunda categoria.

"Minha família sempre esteve do meu lado. Agora há uma nova geração, a aceitação é maior e a situação tende a melhorar", conclui Rose.