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Blatter revela medo por prisões na Fifa: "Pensei que até Deus me abandonou"

24/02/2016 12h09

Paris, 24 fev (EFE).- A dois dias do congresso que definirá seu sucessor à frente da Fifa, o presidente suspenso da entidade, Joseph Blatter, revelou ter sentido medo, "inclusive fisicamente", quando a Polícia suíça deteve sete dirigentes, entre eles o brasileiro José Maria Marin, em 27 de maio do ano passado.

"Tive a sensação de estar abandonado. Nesse dia, pensei: 'até Deus me abandonou'. Quando te cai uma coisa assim em cima... Foi terrível, senti que tudo caía. Primeiro senti raiva, depois, tristeza", declarou Blatter em entrevista publicada nesta quarta-feira pelo jornal "L'Équipe".

Perto de completar 80 anos, o que acontecerá em 10 de março, aquele que durante 17 anos fora o principal líder do futebol mundial acredita que sua sorte teria sido diferente se a organização da Copa do Mundo de 2022 tivesse ficado com os Estados Unidos e não com o Catar.

"Se se tivesse votado nos EUA, os americanos não teriam tido razões para atacar a a Fifa porque teriam tido sua Copa, e hoje teria finalizado meus quatro últimos anos de mandato tranquilamente", considerou.

O dirigente suíço lembrou que o presidente da Uefa, também suspenso, Michel Platini lhe ligou em novembro de 2010 e lhe disse que tinha se reunido com o então presidente da França, Nicolas Sarkozy, e com o príncipe herdeiro do Catar, e que ambos queriam que o Mundial acontecesse no país árabe.

"A partir de então, soube que a coisa seria muito difícil, mas ainda tinha esperanças porque havia um acordo tácito para escolher a Rússia (2018) e os EUA (2022). Mas quando o Catar ganhou, pensei: 'começam as dificuldades'", relatou.

O ainda presidente de a Fifa, suspenso pelo comitê de ética dessa organização, voltou a lançar dúvidas em volta da figura de Platini, seu estreito colaborador durante anos e agora também punido.

"No jogo de abertura da Eurocopa de 2008 (em 7 de junho, na Basileia), me colocou, o presidente da Fifa, o mais longe possível da tribuna de honra. Foi muito simbólico. Não disse nada, mas nesse dia compreendi que algo passava", lembrou Blatter.

Anos depois, em maio de 2015, poucos dias antes que explodissem os vários escândalos de corrupção na Fifa que acabaram com a carreira de Blatter, Platini lhe recomendou que deixasse o cargo.

"Ainda não sei por que ele queria que me retirasse das eleições. Perguntei-lhe, mas ele não me respondeu. Ele falou com meu irmão: 'Diga a ele para não concorrer ou terminará na prisão'. Ele sabia do que aconteceria depois? A história um dia nos dirá", declarou.

Agora, com um certo ar de nostalgia, Blatter só espera que um dia sua imagem seja recuperada e que possa ser convidado para um congresso da Fifa para se despedir com honras. "Ainda espero esse final, porque tudo ainda não terminou", resumiu.