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Novos incidentes no futebol italiano, comovido por escândalo Anne Frank

25/10/2017 18h58

Roma, 25 Out 2017 (AFP) - Uma coroa de flores jogada ao rio Tíber, uma conversa potencialmente comprometedora do presidente da Lazio e novos incidentes com torcedores radicais onde jogava o time da capital italiana: emoção e tensão continuaram em alta, nesta quarta-feira, agravando a polêmica sobre anti-semitismo de torcidas organizadas.

O escândalo começou no domingo, quando os torcedores "Ultras" colaram figuras da jovem escritora judia vestindo camiseta da rival Roma no estádio. Anne Frank ficou conhecida por detalhar em diário sua vida em Amsterdam durante a ocupação nazista na Segunda Guerra Mundial.

Os 'Irriducibili Lazio', principal grupo "Ultra" da equipe, anunciou ter renunciado a viagem à Bologna "para não serem cúmplices do teatro midiático das últimas horas", mas foram os torcedores isolados do clube que bagunçaram a rodada da Serie A italiana.

Segundo o jornal "La Gazzetta dello Sport, vários torcedores entoaram um canto fascista e fizeram saudações com o braço esticado, antes de entrar no estádio Dall'Ara de Bologna.

Como foi anunciado, os jogadores da Lazio vestiram camiseta com o rosto de Anne Frank durante o aquecimento, acompanhado da mensagem "não ao anti-semitismo".

- Homenagens -Como anunciou a Federação Italiana de Futebol na terça-feira, todos os jogos tiveram um minuto de reflexão sobre a Shoah e a leitura de um trecho do diário de Anne Frank antes da bola rolar.

O livro, assim como o doloroso testemunho de Primo Levi "Se isto é um homem" - escritor italiano com origens judaicas e sobrevivente do Holocausto-, foram entregues pelos capitães e árbitros às crianças que acompanharam os atletas durante a entrada no gramado.

No primeiro jogo do dia em Bérgamo, o minuto de reflexão se tornou um minuto de aplausos. O exemplo foi seguido em outros estádios com jogos nesta quarta-feira.

Em Turim, onde jogava a Juventus, alguns torcedores viraram as costas e cantaram o hino italiano durante este minuto. Já em Roma, onde a Roma recebeu o Crotone, alguns torcedores locais não respeitaram o minuto e cantaram músicas em favor do time.

Mais cedo, a coroa de flores depositada pelo presidente da Lazio, Claudio Lotito, na sinagoga de Roma na terça-feira desapareceu na manhã desta quarta. Mais tarde, as flores foram encontradas na margem do rio que atravessa a capital italiana, segundo fotógrafo da AFP no local.

Segundo o jornal 'Corriere della Sera', "os autores do gesto poderiam ser jovens da comunidade judia que teriam se sentido ofendidos com um recado deixado sobre as flores que dizia 'vocês têm irmãos judeus' e era assinada por Claudio (Lotito)".

- Gravação comprometedora -Lotito anunciou na terça que o clube organizaria uma viagem para 200 jovens torcedores da Lazio por ano, com o objetivo de visitarem o campo de concentração e de extermínio de Auschwitz. Anne Frank foi deportada e morreu no local com apenas 15 anos, em 1945.

No entanto, uma gravação publicada nesta quarta-feira no site do jornal 'Il Messagero' levantou dúvidas sobre as reais intenções do presidente.

"Vai estar o vice-rabino? Só o rabino? Não valem nada... Vê em que ponto chegamos? O rabino e o vice-rabino em Nova York. Faremos essa cena, você entende?", teria declarado Lotito segundo a gravação.

O presidente desmentiu as palavras e recebeu apoio do deputado do Dario Ginefra, que estava ao lado de Lotito no momento em que teria feito as declarações.

Entrevistado pela Radio Capital, Lotito garantiu que não espera "nenhuma punição".

"Não espero nada, porque o clube não fez nada. Pelo contrário, o clube implementou medidas para lutar contra o racismo", declarou.

"Os adesivos? Foi o comportamento de 15 idiotas que não sabem o que estão fazendo", acrescentou.

Segundo a imprensa italiana, os investigadores identificaram até o momentos 16 suspeitos por conta das imagens de uma das câmeras de vigilância do estádio. Três deles são menores de idade, dentre eles um de apenas 13 anos.