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Jogadores de Chile e Argentina pedem paz para 'final entre Hermanos'

01/07/2015 19h56

Santiago, 1 Jul 2015 (AFP) - A rivalidade histórica entre Chile e Argentina vai muito além do futebol, mas os jogadores de ambas as seleções tentam promover o clima de paz para a final da Copa América, marcada para este sábado, em Santiago.

"Tomara que as pessoas entendam que o futebol é um esporte, e não uma guerra", afirmou o volante argentina Javier Mascherano, líder natural da 'Alviceleste', conhecido por mostrar sempre muita garra em campo.

"Vai se uma partida jogada a mil, e muita coisa pode acontecer, mas é preciso haver respeito entre colegas. Temos que dar o exemplo, porque muitas crianças vão ver esta final", concordou o chileno Eugenio Mena, lateral do Cruzeiro.

O Estádio Nacional de Santiago vai ecoar ao som dos gritos de "Chi Chi Chi, le le le", mas muitos torcedores argentinos também devem marcar presença, por isso os organizadores temem um clima tenso nas arquibancadas.

Beagle e MalvinasOs dois países compartilham 5.150 km de fronteira, e não faltam piadas para provocar os vizinhos.

"Não há nada mais perigoso que um chileno com um mapa", dizem argentinos para alfinetar o vizinho, que acusam de ter 'roubado' territórios.

Para rebater, os chilenos, como todos os outros sul-americanos, criticam a "arrogância" dos 'Hermanos'.

Os dois países já enfrentaram períodos de forte tensão políticas, como a disputa pela soberania das três ilhas do canal Beagle, no fim da década de 70. O episódio quase levou Chile e Argentina à guerra, mas o problema acabou sendo resolvido com mediação do Papa João Paulo II, em 1984.

Também há um forte ressentimento dos argentinos pelo apoio que a ditadura de Augusto Pinochet deu ao Reino Unido durante a guerra das Malvinas, em 1982.

"Isso faz parte do passado, não podemos colocar o esporte no meio da política. Somos países irmãos, temos que nos respeitar e nos ajudar", sentenciou Mascherano.

"Temos que respeitar o próximo, todos devem passar esta mensagem. Se apelamos para a agressão e a violência, estamos equivocados. Os valores do esporte precisam ser exaltados. Estamos aqui para nos divertir, não é uma guerra, apesar de ter um vencedor e um perdedor", insistiu 'el Jefecito', que jogou no Corinthians com o compatriota Carlos Tévez, em 2005 e 2006.

'Decime que se siente' ofensivoApesar dos esforços do volante do Barcelona, a mensagem de paz não foi ouvida pela torcida argentina que, criou uma nova versão para o hino "Decime que se siente", que provocava o Brasil durante a última Copa do Mundo.

No ano passado, a música lembrava a derrota brasileira para os 'Hermanos' nas oitavas de final da Copa do Mundo de 1990, com o gol de Caniggia, depois de um passe de Maradona.

Na versão 'chilena', a letra é muito mais agressiva, com brincadeira de mal gosto referindo-se ao tsuname que devastou o país em 2010, matando 500 pessoas.

O hino chama os chilenos de "traidores, vigilantes e dedos-duros", que "venderam a Guerra (das Malvinas) por medo", concluindo com o verso "tomara que o mar inunda, que os ingleses te ajudem a nadar".

Freguesia históricaA rivalidade também é muito forte dentro das quatro linhas. O Chile, que nunca conquistou a Copa América, é 'freguês' histórico da Argentina, que nunca venceu (18 derrotas, e cinco empates).

A seleção argentina se sente em casa quando joga em terras chilenas, já que venceu quatro das seis edições disputadas no país (1941, 1945, 1955 e 1991).

Messi e companhia querem encerrar uma seca de 22 anos desde a conquista último troféu continental, e ainda têm a oportunidade de igualar o recorde de títulos do Uruguai (15).

Para quebrar a escrita, o torcedor chileno vai cantar o hino nacional a plenos pulmões, com um trecho a capela, como aconteceu na Copa do Mundo antes das partidas da seleção brasileira, enquanto a 'banda louca da Argentina' vai "dar a vida pelas cores".

Cada torcida tem seu canto predileto. Além do "Chi Chi, le le le", os anfitriões entoam "Vamos, vamos chilenos, esta Copa... Vamos a ganhar".

Já os argentinos cantam: "¡ole ole ole, ole le ole ola, cada día te quiero más, soy argentino es un sentimiento, no puedo parar! (cada dia te amo mais, sou argentino, é um sentimento que não pode parar).

Que vença o melhor, com espetáculo em campo, e paz nas arquibancadas.

msa-jt/ol/lg