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Como sucesso em Saquarema deixa Brasil mais perto de sediar finais do surfe

Torcedores na praia de Itaúna no último dia do Oi Rio Pro 2022, em Saquarema - Thiago Diz/World Surf League
Torcedores na praia de Itaúna no último dia do Oi Rio Pro 2022, em Saquarema Imagem: Thiago Diz/World Surf League
Gustavo Setti e Marcello De Vico

Do UOL, em São Paulo e Santos (SP)

10/08/2022 04h00

Depois de passar por Saquarema e Jeffreys Bay, na África do Sul, o Mundial de Surfe agora desembarca no Taiti, onde a temida onda de Teahupo'o será palco da última etapa do Tour antes da grande final, marcada para setembro, novamente na Califórnia (EUA) —assim como foi no ano passado. A janela para o evento abre amanhã (11) e se estende até o dia 21.

Com um dia específico do calendário reservado apenas para definir os campeões das categorias masculina e feminina (o chamado WSL Finals), o novo formato da competição mundial provoca, naturalmente, uma corrida interna de cada região da WSL para garantir que a decisão aconteça em alguma onda de sua área, de preferência o quanto antes.

Funciona, por exemplo, como na Liga dos Campeões — ou, mais recentemente, na Libertadores ou Sul-Americana, que também adotaram esse modelo. A final é realizada cada ano em um lugar, e cabe aos países e regiões trabalharem para negociar a vinda do tão cobiçado evento.

Será, então, que o Brasil pode, num futuro breve, não apenas sediar uma prova do Mundial como também receber a grande final da Liga Mundial de Surfe? CEO da WSL na América Latina, Ivan Martinho acredita na possibilidade e sonha até com mais.

"A concepção original dos Finals é que seja um evento que rodizie e que, assim como nos outros esportes, tenha essa possibilidade de mudar, de viajar, porque é assim que vamos construindo novas audiências, trazendo mais atenção", explica Martinho em entrevista ao UOL Esporte.

"O que vai acontecer, é claro, é uma disputa nossa [da WSL] de onde a gente pode trazer. Eu cuido da América Latina, não só do Brasil. A América Latina tem muitas ondas possíveis no meio de setembro [período em que acontece o Finals]. É uma disputa aberta que, do meu lado, vou continuar batalhando para que, no futuro, a gente traga o Finals para cá", complementa.

A WSL conta com sete escritórios regionais: América Latina, América do Norte, Havaí/Taiti, Europa, África, Austrália/Oceania e Ásia

Ainda no embalo do sucesso do evento no Rio de Janeiro, Ivan Martinho não pensa, porém, em abrir mão de Saquarema como uma das etapas ao longo da temporada, como já acontece.

"O que eu não quero é trocar o Finals pelo evento de Saquarema. Quero adicionar, não trocar. O evento de Saquarema já se provou um sucesso muito grande. Muita gente na areia, 40 mil pessoas por dia... Se a Austrália tem mais de uma etapa, acho que o Brasil, com tudo que tem, também pode ter. Essa é minha ambição. Trazer mais etapas para a minha região, que, por enquanto, tem dois [Saquarema e El Salvador]. O Brasil tem ondas, recursos, atletas... Dá para brigar. É o objetivo meu de fazer isso acontecer e, por que não, sonhar com o Finals", acrescenta.

O sucesso de Saquarema

Tatiana Weston-Webb, com a torcida brasileira em Saquarema - WSL - WSL
Tatiana Weston-Webb com a torcida brasileira em Saquarema
Imagem: WSL

Sabe quando tudo dá certo? Assim foi a etapa de Saquarema de 2022, até mesmo nos resultados, já que quatro brasileiros fizeram as semifinais — com Filipe Toledo levantando o caneco.

O evento no Rio registrou recorde de patrocinadores, taxa de 100% de ocupação da rede hoteleira local e um público diário de mais de 40 mil pessoas na praia de Itaúna. Um modelo que daqui pra frente tende a ser adotado por diversos outros países onde ocorrem etapas do Tour.

Ivan Martinho, professor de marketing esportivo da ESPM - Divulgação - Divulgação
Ivan Martinho, CEO da WSL na América Latina
Imagem: Divulgação

Mas por que deu tão certo? "Eu acho que a premissa de pensar no fã em primeiro lugar, na relação do fã com o ambiente que estava montado, criando uma oportunidade de diversão, de entretenimento, de relação das marcas com os fãs", diz Martinho, que reforçou o sucesso do evento até mesmo nos dias em que não houve competição, como sábado e domingo, quando as ondas estavam fracas —as semifinais e finais aconteceram numa terça-feira.

"Estava cheio todos os dias, inclusive quando o evento não rolou. Se a prioridade tivesse sido comercial, teríamos feito as provas no sábado e domingo. Sabendo que as ondas melhores aconteceriam na segunda e na terça, a gente aguardou e fez o evento nesses dias, e fomos surpreendidos com o movimento incrível durante o fim de semana", diz.

'Não dá pra deixar mais um pouquinho?'

A etapa de Saquarema contou com uma vila com ações de patrocinadores, com direito a brindes para o público. Os estandes tiveram filas de manhã até o final da tarde, mesmo nos dias sem competições. Uma cena comum ao longo da tarde era um funcionário de alguma marca anunciar que os brindes do dia haviam terminado, para a frustração das pessoas que aguardavam na fila.

Uma das atrações que mais fizeram sucesso (ela estava entre as primeiras na entrada da vila dos patrocinadores) era a da Havaianas. O público pôde surfar sem água em uma piscina de bolinhas, usando pranchas em formato de sandálias. Havia uma loja também, com produtos da Havaianas em parceria com a WSL.

Outro patrocinador montou na areia uma pista de skate mecânica com sistema que imita as ondas do mar. Entre as ações na vila, ainda dava para surfar em uma prancha usando óculos de realidade virtual e compor looks para postar fotos e vídeos nas redes sociais.

"Pensando na possibilidade de tantos fãs na areia e como a gente poderia criar entretenimento para essas pessoas, criando um ambiente com oportunidades além da competição propriamente dita, as marcas vieram junto conosco e investiram em fazer ativações espetaculares. A turma até estava brincando 'tem um shopping ali'... A gente fez um corredor com a praça de alimentação e virou algo incrível. Quando estavam desmontando toda estrutura as pessoas falavam: 'não dá para deixar mais um pouquinho?' [risos]".

"Foi um sucesso total. O que a gente controla deu muito certo, e o que a gente não controla, que são as ondas, também deu. E o resultado para o Brasil, com os quatro brasileiros na semifinal, também acabou sendo uma parte importante do espetáculo, a cereja do bolo. Não é controlável, mas demos uma sorte e brindou o público brasileiro", complementou.

Teahupo'o define os cinco finalistas

Gabriel Medina durante onda em Teahupoo - Divulgação/WSL - Divulgação/WSL
Gabriel Medina será ausência do time brasileiro em Teahupo'o
Imagem: Divulgação/WSL

Quatro surfistas iniciam a etapa do Taiti já classificados para a decisão do título mundial de 2022: Filipe Toledo e Jack Robinson, no masculino, e Carissa Moore e Johanne Defay, no feminino. Portanto, restam outras seis vagas para a final, sendo três em cada categoria.

A primeira chamada do dia será amanhã (11), às 7h15 no Taiti, 14h15 no Brasil. Vale lembrar que os campeões mundiais Gabriel Medina e John John Florence seguem se recuperando de lesões e não irão competir em Teahupo'o.