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Saquarema é comparada com o Havaí e viveu tragédia com destaque brasileiro

Etapa de Saquarema do Circuito Mundial de Surfe começou ontem - Divulgação/WSL
Etapa de Saquarema do Circuito Mundial de Surfe começou ontem Imagem: Divulgação/WSL

Gustavo Setti

Do UOL, em Saquarema (RJ)

24/06/2022 04h00

Saquarema, a cerca de 100km do Rio de Janeiro, recebe desde ontem uma etapa do Circuito Mundial de Surfe. A cidade, que ganha comparações com o Havaí por causa das ondas poderosas, voltou a receber o evento depois de três anos por causa da pandemia e pela primeira vez desde uma tragédia com um dos maiores nomes do surfe local.

A etapa da WSL (Liga Mundial de Surfe) tem como palco principal o Point, no canto esquerdo da praia de Itaúna. Caso as ondas no Point não estejam nos melhores dias, a organização ainda tem a possibilidade de levar o campeonato para as ondas tubulares da Barrinha.

Ainda entre as ondas mais famosas da cidade está a Praia da Vila, carinhosamente chamada de Pipevila, em homenagem a Pipeline, a onda mais popular do Havaí. Tudo isso contribui para que Saquarema seja chamada de "Maracanã do Surf".

Se você olhar a geografia, Saquarema foi considerada um erro geográfico que acabou dando certo e com ondas perfeitas. A geografia do local nos ajudou, mas também virou uma praia perigosa. Também tem seus momentos mansos, não é um mar que fica a vida toda com ondas grandes. Como o Havaí, fica flat [sem ondas], com onda pequena, média e grande. Quando o mar está com um certo tamanho, é só com profissional. Tem que respeitar. Depende muito do banhista ter respeito e seguir seu limite. Até o cara que surfa onda grande tem o limite dele. Ela é perigosa, sim, mas na prevenção dá para curtir Saquarema de boa"
Saullo Rodrigues, presidente da Associação de Surf de Saquarema

Caio Ibelli - Divulgação/WSL - Divulgação/WSL
Brasileiro Caio Ibelli pega tubo no Point de Itaúna, em Saquarema
Imagem: Divulgação/WSL

Os primórdios

Relatos apontam que, na década de 1950, surfistas americanos estiveram em Saquarema com pranchas. Mais tarde, os surfistas cariocas descobriram a cidade na primeira metade da década de 1960, ainda com pranchas de madeirite (compensado de madeira).

A aventura começava fora d'água pela dificuldade de ir do Rio a Saquarema na época, com direito a travessia de barca até Niterói e o resto via uma estrada antiga.

O primeiro grande campeonato em Itaúna ocorreu em 1975, o Festival de Surfe de Saquarema. O sucesso fez o evento do ano seguinte ser ainda maior, com uma mistura de competição de surfe e um grande festival de música, o Som, Sol & Surf. Nos moldes de Woodstock, o evento teve apresentações de artistas como Rita Lee e Raul Seixas.

Saquarema recebeu uma etapa do Circuito Mundial de Surfe pela primeira vez em 2002, com vitória do australiano Taj Burrow. A cidade só voltou a abrigar um evento da elite do surfe em 2017. Desde então, é a casa do Oi Rio Pro, que não foi realizado em 2020 e 2021 por causa da pandemia.

A pressão da onda, perfeição, levou Saquarema a começar a crescer. Hoje, recebemos 40 mil pessoas com estrutura durante a etapa do Circuito Mundial, mas a galera se virava ali, uma pesca artesanal com os índios. O início foi bem roots e de lá para cá a cidade entrou no cenário do esporte. O surfe trouxe excelente turismo. É igual Carnaval"
Saullo Rodrigues

Tragédia dentro d'água

Leo Neves - Reprodução/Origem Surf/Filipe Burjato - Reprodução/Origem Surf/Filipe Burjato
Leo Neves morreu em 2019 após passar mal no mar em Saquarema
Imagem: Reprodução/Origem Surf/Filipe Burjato

A cidade conta com nomes pesados do surfe que são locais de Saquarema, como Raoni Monteiro, Leo Neves e os irmãos Chianca, o ex-BBB Lucas Chumbo, especialista em ondas grandes, e João Chumbinho, que estreou no Circuito Mundial em 2022.

Leo Neves morreu, aos 40 anos, em novembro de 2019 após sofrer um mal súbito no Point de Itaúna, durante a etapa final da Tríplice Coroa Saquarema. Ele foi atendido na praia, mas morreu antes de chegar ao Hospital Municipal Nossa Senhora Nazareth, em Bacaxá.

O surfista foi duas vezes campeão brasileiro, em 2002 e 2003, e disputou, em 2007 e 2008, o Circuito Mundial de Surfe. Nos últimos anos, vinha se dedicando a um projeto de aulas de surfe em Saquarema, com o propósito de revelar novos talentos. Dois anos após a morte dele, a prefeitura de Saquarema inaugurou o Centro de Treinamento de Surf Leo Neves, que oferece treinamento a jovens surfistas locais.

Mesmo quem mal viu Leo competir tem noção do tamanho do legado do surfista, como é o caso de Luana Paes, 15 anos, progídio do surfe feminino e que compete por Saquarema.

"Quando ele faleceu, parece que Saquarema se apagou um pouco. Eu treinei com ele dois meses antes dele falecer. Eu não tenho nem palavras", diz Luana.

Ele era uma pessoa muito família com todo o mundo, queria ajudar a todos, tinha um coração enorme e faz muita falta a todos que conheciam ele. Era uma inspiração como atleta, pai, tudo Luana Paes