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Após título olímpico, Italo Ferreira entra no mar pelo bicampeonato mundial

Italo Ferreira conquistou o ouro nas Olimpíadas de Tóquio - WSL
Italo Ferreira conquistou o ouro nas Olimpíadas de Tóquio Imagem: WSL

Talyta Vespa

Do UOL, em São Paulo

09/09/2021 04h00

Italo Ferreira está na final do mundial de surfe, que acontecerá na Califórnia a partir de quinta-feira (9). Campeão olímpico, ele conta ao UOL Esporte que nem sequer descansou ao voltar de Tóquio. "Já passou, agora a próxima meta é ser bicampeão mundial, esse é o objetivo. A gente só descansa quando acaba tudo. Depois que acabar, vou ter um tempo para fazer viagens, treinar um pouco mais e descansar".

"Ainda assim, ter conquistado um ouro na Olimpíada foi algo incrível. Eu estava focado e queria muito. Sabia que seria uma oportunidade única. Treinei muito, me preparei e estava muito feliz. Quando cheguei às quartas de final, senti que estava muito conectado com as ondas e percebi que o ouro era possível. Entendi que as chances só aumentavam, e eu estava 100% entregue ao que estou acostumado a fazer."

Quando Italo Ferreira pisou na praia de Tsugaraki, em Ichimoya, o sol estava brilhando alto no céu e o mar estava agitado. Depois de um dia inteiro de ondas fracas, a aproximação do tufão Nepartak criou o cenário ideal para a primeira final de surfe da história das Olimpíadas. O japonês Kanoa Igarashi, seu adversário, se posicionou ao seu lado.

O brasileiro sentiu a areia escura e correu em direção ao oceano. Ele surfou a primeira onda, alta e volumosa, e foi derrubado quando ela começou a arrebentar. Na queda, foi engolido pelo mar e sumiu por alguns segundos. Quando voltou à superfície, estava balançando os braços em direção à praia. A fúria do mar tinha partido sua prancha ao meio e ele pedia ajuda.

Nas águas do Oceano Pacífico, sua prancha tinha dado perda total no pior momento possível. Igarashi, que tinha eliminado Gabriel Medina mais cedo com um aéreo desses de cinema, já estava pontuando. E os 30 minutos que separavam Italo do ouro olímpico já tinham virado 29.

Ele logo conseguiu se recuperar do susto, encontrou uma onda contínua e potente e conseguiu uma nota 7. Virou sobre o japonês e nunca mais deixou a liderança. A vitória veio com 15,14 a 6,60, um verdadeiro passeio, se passear no mar fosse possível.

"Todo mundo esperava que, lá, só tivesse ondas pequenas. Graças a Deus, teve uma tempestade que deu ondas melhores do que as que eu peguei treinando durante a semana da competição", diz.

Medalha para a avó

"Eu queria que minha avó estivesse viva para ver o que eu me tornei e consegui fazer. Ver o que consegui fazer pelos meus pais, por aqueles que estão ao meu redor e não sei, não tenho palavras, só agradecer realmente." Foi com estas palavras que o surfista Italo Ferreira traduziu a emoção após conquistar a primeira medalha de ouro do Brasil nos Jogos Olímpicos de Tóquio, na estreia da modalidade nas Olimpíadas.

A avó sempre foi uma referência forte na vida de Italo, que chorou emocionado após a conquista. Quando se tornou campeão mundial, em 2019 —superando o compatriota Gabriel Medina na final—, o potiguar ainda sofria pela perda recente de dona Mariquinha, com quem dividia a casa e as celebrações. Foi na avó, inclusive, que ele se inspirou a cada onda para conquistar aquele primeiro grande título.

"Tive grandes perdas na minha vida pessoal e isso me motiva porque eram pessoas que acreditavam muito em mim. É combustível para seguir em frente, afirma.

Perto de casa

Italo foi ovacionado ao retornar à pequena vila de Baía Formosa, em que nasceu e começou a surfar. "Foi a melhor coisa", afirma. "Estar com meus amigos, aproveitar aquele momento com eles, foi incrível. Porque são eles que estavam ao meu lado também quando fui mal".

"Quando vejo a reação das crianças quando me encontram, me lembro de como era minha reação quando eu encontrava meus ídolos. Viver isso é algo especial", diz.

Antes das competições, na tentativa de relaxar e se concentrar, o surfista prefere ficar sozinho ouvindo música. "Se tem gente em casa, peço licença e vou para o quarto. Coloco uma música que me deixa supermotivado e cheio de vontade. É legal ter esses altos e baixos antes da competição", conta.

Ao ser entrevistado após o título, Italo lembrou da correria que viveu quando o surfe ainda não era uma realidade na sua vida. Para participar de campeonatos, ele pedia dinheiro em hotéis e pousadas para completar a ajuda que seus pais lhe davam.

Tempestade brasileira

Em 2011, a imprensa americana cunhou a expressão "brazilian storm" para descrever os jovens surfistas que despontavam no cenário internacional. E essa geração, sob a liderança de Gabriel Medina, que terminou o torneio olímpico em quarto lugar, acaba de ser coroada com o ouro de Italo.

Desde 2011, quando Medina fez a sua estreia na elite do surfe mundial, o circuito sempre esteve recheado de nomes brasileiros, como Adriano de Souza, o Mineirinho, Alejo Muniz, Miguel Pupo e Filipe Toledo.

Em 2014, Medina se tornou o primeiro brasileiro campeão mundial e quatro anos depois, o Brasil já tinha a maioria na elite do esporte, com 11 participantes —contra oito da Austrália e seis dos Estados Unidos, além de quatro do Havaí, considerado um país à parte no surfe mundial.