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Pan 2019

Campeão do tênis no Pan contou com 'paitrocínio' para não largar o esporte

João Menezes em ação na final contra o chileno Marcelo Barrios no Pan - Ivan Alvarado/Reuters
João Menezes em ação na final contra o chileno Marcelo Barrios no Pan Imagem: Ivan Alvarado/Reuters

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em Lima (Peru)

05/08/2019 12h00

Não foram poucas as vezes que João Menezes pensou em largar tudo e desistir da carreira de tenista. A começar pelas dificuldades de sair de casa ainda adolescente, passando por três cirurgias no mesmo joelho - a última delas seguida de uma hérnia de disco -, até chegar à fase mais difícil, longe da família e dos amigos. Mas o tenista de Uberaba (MG) segurou a barra até atingir o momento mais alto de sua ainda breve carreira, ao ganhar o ouro nos Jogos Pan-Americanos neste domingo (4) em Lima.

A conquista veio no que diz ser uma "crescente muito boa'. "Comecei o ano como 380 (do ranking mundial) e agora estou no 212. Eu estou no melhor momento da minha carreira. Espero aproveitar essa maré, da medalha de ouro, da confiança", afirmou, já com a medalha de ouro no peito.

Essa crescente só foi possível porque João, que nunca foi apontado como o grande nome de sua geração, contou com apoio dos pais para continuar jogando. Afinal, para correr o circuito mundial sem resultados, só com patrocínio ou o famoso "paitrocínio", que foi o caso dele.

"Tive apoio da minha família, do meu pai, que consegue bancar essa vida que não é fácil. Todo mundo acha que tem muito glamour, mas as aparências enganam. Sou afortunado de ter uma família que me banca", comemora. Segundo ele, só agora a contas estão começando a "empatar". Ou seja: os prêmios compensam os gastos com viagens. "Com meus resultados estou conseguindo pagar o que eu gasto, então tá zero a zero."

O site da ATP indica que nessa temporada João ganhou cerca de US$ 26 mil em premiações. Nas três temporadas passadas, somadas, as premiações não passaram de US$ 30 mil. Como consequência das lesões, João não conseguia manter uma continuidade de resultados até este ano.

"Operei o joelho esquerdo três vezes. Da última vez, fiquei 11 meses sem competir e logo depois que voltei tive um problema de hérnia de disco e pensei em parar. Daí tive uma mudança total na minha vida", lembra, citando uma passagem pela prestigiada academia do ex-tenista Galo Blanco, na Espanha. Lá treinava com apostas como o russo Karen Khachanov, atual número oito do mundo, com boa estrutura e torneios mais próximos de sua base.

O brasileiro ficou 18 meses na Espanha, mas decidiu voltar. "O tênis é um esporte de perdedor. Se você não ganha o torneio, você perde. Então você sempre sai com sensação de derrotado a não ser que você ganhe o torneio. Eu perdia e ficava triste. Não tinha nenhum familiar, nenhum amigo, e o que acontecia é que me colocava para baixo. Isso virou uma bola de neve. Voltei para o Brasil e passei uns 45 dias em casa, sem fazer nada, dando um tempo. Só voltei a treinar em novembro do ano passado", conta.

João Menezes com medalha de ouro do Pan - Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br - Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br
Imagem: Abelardo Mendes Jr/ rededoesporte.gov.br

As condições adversas para sua evolução não impediram Menezes de fazer em 2019 a sua melhor temporada, com o primeiro título de Challenger, além de um vice-campeonato e uma semifinal nesse segundo escalão do circuito. Dois dias antes de estrear no saibro do Pan, estava jogando em quadras duras nos Estados Unidos.

Tenistas que durante o circuito juvenil estavam em melhores condições de resultados, apoio e visibilidade, hoje têm mais dificuldades para se firmar entre os profissionais. Orlando Luz foi para a Espanha, bancado pela CBT, mas seus resultados estão longe das expectativas nele colocadas depois que atingiu o número 1 do mundo no ranking juvenil, enquanto Marcelo Zormann teve depressão e ansiedade, o que interrompeu sua carreira.

Luz e Zormann foram ouro nas duplas dos Jogos Olímpicos da Juventude em Nanquim-2014, competição na qual Menezes tinha ranking para se classificar, mas esbarrou no limite de dois atletas por país e com isso não teve a mesma visibilidade dos dois. E hoje ele corre na frente dos brasileiros de sua geração.

"O tênis é um esporte em que os resultados podem vir um pouco mais tarde também. Tem muitos jogadores que estão chegando no seu melhor nível mais tarde. Eu tenho 22 anos. Os caras eram bons com 14, 15, mas o que vale os caras serem bons com 14, 15? O momento importante é daqui para frente. Eu passei a fase de transição que todo mundo fala que é complicado, de Future para Challenger", avalia.

Depois do título do Pan, João deve descansar por dois ou três dias antes de retomar os treinos. Ele depois vai se dedicar aos treinamentos pensando em sua primeira chance no quali de um Grand Slam, o US Open.