Nuzman nega propina na Rio-2016 e cita trauma por tragédia familiar
Em interrogatório na Operação Unfairplay, desdobramento da Lava Jato que investiga suposta compra de votos do Rio para sediar os Jogos Olímpicos de 2016, Carlos Arthur Nuzman, ex-presidente do Comitê Olímpico do Brasil e do Comitê Rio-2016, voltou a negar conhecimento de qualquer ato ilícito que tenha resultado na escolha da cidade.
Nuzman não negou, contudo, que recebeu e-mails de Papa Diack, ex-diretor de marketing da Federação Internacional de Atletismo (IAAF), com cobranças por valores que seriam devidos. Ele não reconheceu ter conhecimento da origem do pleito, ainda que tenha afirmado que Diack fez campanha para que o Rio recebesse eventos na modalidade antes dos Jogos, em uma espécie de contrapartida. Questionado pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal, ele foi enfático.
“Não respondi a nenhum e-mail. Não tinha conhecimento de nada sobre isso. Nós não pagamos nada. Falei com o Papa uma vez para discutir a realização de eventos apenas uma vez, foi um encontro em Berlim. Eu fui na casa de todos os membros, aprendi que tinha que ir nos lugares, não mandar cartas”, afirmou Nuzman, que passou grande parte de seu depoimento exaltando a organização da Olimpíada.
Com a voz embargada, o ex-cartola fez uma defesa sobre a sua ligação com o esporte. Segundo ele, seu vínculo com o assunto é fruto de uma tragédia familiar que o marcou:
“Quando tinha 10 anos, vi minha mãe morrer, ela morreu queimada, vi uma tocha humana. Isso me abalou, não poderia ser diferente. Fui um jovem traumatizado por uns 10 anos, mas o esporte me salvou. Quando cheguei à seleção, senti que era o momento de reconhecer o que o esporte fez por mim”.
O ex-presidente ficar preso durante duas semanas por suspeita de intermediação de compra de votos de membros africanos do Comitê Olímpico Internacional. Em sua casa, policiais federais encontraram barras de ouro e dinheiro em espécie em quatro moedas diferentes. Ele foi denunciado por integrar organização criminosa, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
“A economia brasileira já descia, uns amigos suíços (Nuzman tinha uma conta bancária no exterior) me disseram para transformar esse patrimônio em barras de ouro e isso foi feito. Tenho os documentos do banco que comprovam a transferência de recursos em barras de ouro”, assegurou.
A propina que teria ajudado a cidade a receber o evento seria fruto de uma ordem de pagamento por parte do ex-governador Sérgio Cabral, atualmente preso. O dinheiro seria um repasse feito pelo empresário Arthur Soares, o Rei Arthur, considerado foragido da Justiça. De acordo com o Ministério Público Federal, os 2 milhões de dólares (R$ 7,9 milhões) foram pagos ao senegalês Lamine Diack, pai de Papa Diack e então presidente da IAAF, que repartiu o montante com outros integrantes africanos do COI. Ele disse não saber de um encontro em Paris entre Leonardo Gryner, ex-diretor de marketing do COB, e Soares, que teriam acertado tudo na capital francesa.
“Nunca vi o senhor Arthur Soares e jamais conversei com o ex-governador sobre nada relacionado a isso. Mas é claro que falávamos com os governantes. Eu nunca recebi um tostão de quem quer que seja”, completou Nuzman.
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