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Após prata, Gabrielzinho busca mais medalhas com sorriso, garra e técnica

Gabriel Araújo, nadador das Paralimpíadas de Tóquio - NurPhoto/NurPhoto via Getty Images
Gabriel Araújo, nadador das Paralimpíadas de Tóquio Imagem: NurPhoto/NurPhoto via Getty Images

Denise Mirás

Colaboração para o UOL, de São Paulo

28/08/2021 04h00

Aos 19 anos, Gabriel Geraldo Araújo dos Santos levou o sorriso para iluminar os Jogos Paralímpicos de Tóquio-2020 e, como ele mesmo diz, "pronto para qualquer desafio". Nadador da classe S2 (atletas com limitações físico-motoras), começou com a prata nos 100m costas, no tempo de 2min02s47, atrás apenas do chileno Alberto Albarza, que fechou a prova com 2min00s40. Gabrielzinho, como é conhecido na equipe brasileira de natação que tem mais três "Gabriéis", volta a competir na noite deste sábado (28), nadando as eliminatórias dos 200m costas. Depois, disputará os 50m costas, que têm eliminatórias na noite de quarta-feira (1º).

Quando ele diz "a natação mudou minha vida", a frase é literal. Natural de Santa Luiz, Minas Gerais, nasceu com braços e pernas encurtados, e foi em Corinto que começou a frequentar uma piscina de quintal. Questionado se sabia nadar pelo professor Aguilar Freitas, de Educação Física, —se viu inscrito em jogos escolares. Com três ouros conquistados, nunca mais parou, porque o esporte foi o melhor que lhe aconteceu, como afirma.

Gabriel Araújo, nadador das Paralimpíadas de Tóquio - Naomi Baker/Getty Images - Naomi Baker/Getty Images
Gabriel Araújo já conquistou uma medalha de prata
Imagem: Naomi Baker/Getty Images

Empatia e apoio

"Amizade e experiência", nas palavras de outro xará —Gabriel Schumamm— acabaram pavimentando a carreira de Gagbrielzinho entre os paralímpicos. Schumamm, nadador da classe S8 (entre 1 e 10 são atletas com limitações motoras e quanto maior a deficiência, menor o número), conta que conheceu Gabrielzinho em 2015, participando de competições mineiras.

"Fiquei impressionado com o jeito alegre dele, sem técnico, sem nada, querendo conquistar alguma coisa. Estava ao lado de uma pessoa que me motivava, que passava alegria para todo mundo, me inspirou muito. A família tinha uma condição difícil. Muitas vezes a mãe, dona Eneida, tinha de bater de porta em porta para ele conseguir viajar. A gente dava carona, emprestava touca, óculos. E a amizade foi crescendo e ele foi se destacando."

Schumamm e Manuela Ribeiro, a Manu, da classe S10, participavam de um Open em 2019, no Centro Paralímpico de São Paulo, pelo Clube Bom Pastor, de Juiz de Fora, quando falaram de Gabriel Araújo para o técnico Fábio Antunes. Era uma competição internacional e o nadador que tinha recém-completado 17 anos nem sabia.

Gabriel Araújo, natação paralímpica - Naomi Baker/Getty Images - Naomi Baker/Getty Images
Natação tem Gabriel com chance de mais duas medalhas
Imagem: Naomi Baker/Getty Images

Mudando para treinar

Agora, é Fábio quem conta: "Trocamos uma ideia, e ele pediu para ir para o clube. Pediu apoio, que não tinha no dia a dia. Vendo o potencial dele, assumi o Gabrielzinho e levei para treinar comigo. De início, alguns dias. Hoje ele treina três horas por dia, tem musculação duas vezes por semana. O clube tem toda uma equipe multidisciplinar, com fisioterapeuta, médico."

Gabriel Araújo se mudou com a mãe para Juiz de Fora. E essa parte da história é com Luiz Gustavo Micherif, presidente do Clube Bom Pastor. "O Fábio que apareceu com ele. Um menino que sempre quis ser atleta e não tinha apoio. Foi uma empatia grande, porque é preciso ajuda para banho, refeições. Conversamos com a diretoria e por votação decidimos apoiar com alimentação, transporte e as despesas do apartamento que é cedido em parceria por uma construtora, a Rezato. Ele tem bolsa também."

Ainda em 2019, no Parapan de Lima, no Peru, Gabrielzinho já somou duas medalhas de ouro, uma de prata e duas de bronze.

Micherif diz que o Bom Pastor é, no Brasil, o melhor clube de "classe baixa"—no caso dos paralímpicos, dos atletas com deficiência mais severa. "Nós agarramos essa faixa de forma natural. Resolvemos dar chance a esses atletas, tentar trabalhar com eles e ver se dava resultado. Temos 15 atletas agora, alguns deles medalhistas brasileiros, com foco na natação".

Clube tem tradição

O Bom Pastor, que tem origem nos anos 1950, mantém tradição de formar atletas, diz Micherif, que foi diretor de esportes até assumir a presidência em novembro passado. "Do clube saíram, por exemplo, André Nascimento, Giovane Gávio, do vôlei, que depois vão para o Sesc, o Minas, o Cruzeiro. A gente investe muito. Somos um clube puramente esportivo e 100% mantido com mensalidades de nossos sócios, que são em torno de 800, 850. Os gastos são elevados e estamos adequando nosso estatuto, buscando parcerias e patrocinadores".

Enquanto isso, em Tóquio, o estreante Gabriel Geraldo Araújo explica que é difícil o reconhecimento da pessoa deficiente, que muitas vezes é olhada de forma diferente, com rejeição. Mas ele procura levar alegria para motivar quem está à sua volta. Sobre sua participação nas piscina, explica: por não ter braços, mas corpo muito forte, nada "ondulando", usando "tudo o que tenho": pernas, tórax, cabeça. E já antecipava: "Vou ganhar medalha e dançar!"