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Um intruso na festa dos atletas na cerimônia de encerramento

22/08/2016 16h31

Um jornalista com a credencial que não dava direito a entrar em nenhuma arena de competição olímpica, por um erro da organização recebeu o ingresso para ver do alto da tribuna de imprensa a cerimônia de encerramento e, com os muitos desencontros de informação, acabou acompanhando o adeus aos Jogos Olímpicos dentro do gramado do Maracanã, ao lado dos atletas e dos dançarinos, como se fosse um dos protagonistas da festa. Eu.

Tive a ideia de fazer uma matéria sobre a atenção da segurança com as credenciais olímpicas no início dos Jogos quando fiz um teste com a minha credencial - que dava direito a ficar apenas no Centro de imprensa, já que ela era EC sem numeração (para entrar era preciso ter os números 4 e 6 em letras garrafais e apenas a letra E). Jamais em cinco tentativas consegui retirar um ingresso para os eventos de grande demanda. Nos outros, bastava o repórter corretamente credenciado, entrar. Não era o meu caso . E fui barrado em seis de sete tentativas. Na única em que o jeitinho deu certo, na arena da esgrima, foi porque o sistema tinha ficado inoperante por alguns minutos e quem fazia o pente fino eram policiais da força de segurança sem a presença de voluntários (estes sabiam de cor a sopa de letrinhas das credenciais). Isso mostrava que a segurança estava perto da excelência neste caso.

Até este domingo. Pela manhã, num centro de imprensa às moscas, pois a única atividade era uma coletiva da Coreia do Sul sobre os Jogos de Inverno de 2018, um dos meus colegas com igual credencial chegou com cinco bilhetes para a cerimônia de encerramento (de altíssima demanda). "Estavam distribuindo, toma um". Já foi uma surpresa.

Com o ingresso, tive pela primeira vez a oportunidade de fazer o teste final. Entraria no Maracanã todo errado? Ser barrado mais uma vez seria o grande final para a matéria. Chegar ao Maracanã foi um caos. Com as rotas conhecidas fechadas e muitos motoristas que não são da cidade, a viagem de 45 minutos durou 2 horas, isso com os dois brasileiros (eu entre eles) ajudando o desesperado condutor que caminhava rumo à favela do Jacarezinho a dar uma bandalha e pegar a rua certa e, depois de várias barreiras e com os jornalistas do exterior que estavam dentro do ônibus irados , chegar são a salvo na frente do estádio.

Depois de subir algumas matérias fora do estádio, a cerimônia começou e, enfim, fui tentar a sorte. Chovia muito. Apenas eu na fila de entrada e dois membros da força nacional no comando da máquina de Raio X. A credencial deu negativa na maquininha. Não poderia entrar. Mas estava com a camisa do LANCE! e um ingresso na mão. Eles tentaram de novo. Aparecia a minha foto com entrada negada. Eles balançavam a cabeça. O aparelho dera problema horas antes, quando os jornalistas tiveram de enfrentar uma fila morosa e quilométrica sob chuva, vento e frio. Eu era apenas mais um caso de falha no sistema. Depois de examinarem tudo que eu carregava na mochila, entrei.

OK. Passei pela primeira barreira, mas na tribuna provavelmente o voluntário que verifica os ingressos me barraria. Foi assim duas vezes no Parque Olímpico.

Conheço o Maracanã como a palma da mão, cobrindo centenas de jogos, mas a entrada da tribuna poderia ter mudado. Fui perguntando. Como sempre ocorreu nos Jogos, há muitos voluntários para todas as funções. Todos eles são simpáticos e só ganharam elogios. Mas quando não sabem responder alguma pergunta (creio que todo mundo passou por isso) dão a informação errada. Foi o que aconteceu. Depois de quase parar no Maracanãzinho, uma voluntária me disse que tinha de entrar por um corredor. Segui e lá tinha outro voluntário que disse que iria me ajudar a encontrar o meu lugar (repito, na tribuna de imprensa, lá no quinto andar). Me levou para o corredor de acesso pelo qual entrava os dançarinos da cerimônia de encerramento.

Ainda perguntei se era por ali, mesmo sabendo que estava tudo errado. Crei dúvida. Ela perguntou provavelmente para o seu chefe, que tinha um fone no ouvido. Ele viu minha camisa do L!, disse ter dúvidas sobre o procedimento, mas que era para eu entrar por dentro do gramado, pois estava atarefado demais com os figurantes. Entrei na hora em que o presidente do COB Carlos Nuzman fazia o seu discurso. Estava atrás da delegação canadense e certo de que não ficaria um minuto por ali. Os seguranças que ficavam de olho nas escadinhas que levam do gramado para a arquibancada me olhavam, mas não estavam nem aí. Cheguei num deles, iria perguntar sobre quem poderia entrar no gramado vindo da arquibancada e ele me cortou:

- Não posso dar entrevista, por favor.

Logo vi que era impossível alguém saber quem era quem ali dentro do gramado. Seguranças, dançarinos com roupa de todas as cores, empurradores de carros alegóricos, atletas entrando e saindo para um pulinho no banheiro, seguranças, voluntários, gente do Comitê Rio-2016, o pessoal técnico, mais de 200 delegações com roupas de todas as cores e, depois, assim que a pira foi apagada, a turma das escolas de samba. Naquele Carnaval e animado com o som de Aquarela do Brasil, tirei a camisa do LANCE!, fiquei com a que estava por baixo e me meti no meio da muvuca de atletas e todos os afins.

Inglesas orgulhosas ostentando suas medalhas posavam com alegorias de cabeça, juntamente com alguns americanos tentavam dançar. Uma outra dava socos numa fantasia que parecia uma bola de limão feita de espuma, um atleta de Tonga era assediado por todas as foliãs "Tonga nele, Tonga nele", zoavam os meninos. Selminha Sorriso, porta-bandeira da Beija-Flor, era a mais procurada pelos gringos para selfies. Já os brasileiros faziam fila para tirar fotos com Arthur Nory.

O pessoal do atletismo não se desgrudava.

- Está valendo muito esta festa, se Deus quiser teremos muito mais em Tóquio, e que não falte medalha - disse Pedro Luiz, um do quarteto oitavo colocado no 4x400m.

No fim, o túnel entre o gramado e o lado de fora do Maracanã virou a Sapucaí no fim do desfile das campeãs, com centenas de atletas de várias nacionalidades seguindo a bateria do mestre Paulinho, agora na Viradouro, arriscando até "Seven Nation Army", do White Stripers (PÔ PÔ PÔ PÔ PÔ) cantada nos estádios por várias nações. Fim de festa olímpica e com a minha presença insólita no meio dos atletas.