Ex-CBF vira chefão na Arábia e vê chegada de craques como algo irreversível

Contratações de jogadores do quilate de Cristiano Ronaldo, Neymar, Benzema e Kanté jogaram os holofotes do mundo do futebol para a Arábia Saudita. Com investimento do governo, o país se tornou um oásis da bola, e um brasileiro vem acompanhando essa mudança de perto.

Manoel Flores foi diretor de competições da CBF, e, desde o início de 2023, trabalha junto ao futebol saudita. Primeiramente, como consultor de uma empresa inglesa e, agora, como diretor de competições e operações da liga local. Para ele, o investimento bilionário não é apenas uma febre passageira.

Ao trazer esse nível de atleta é óbvio que, automaticamente, faz qualquer produto virar algo extraordinário. O poder midiático em torno desses atletas é inquestionável. Isso, por si só, é relevante. Há todo um trabalho para aproveitar esse "hype" que, sem dúvida, não é algo de momento. Há estratégia a longo prazo, de estar disputando mercado de transferências com as grandes ligas do mundo. À medida que a competição se fortalece, tende a gerar valores aos clubes e torna o campeonato um dos principais no planeta. É um objetivo atingível

Manoel Flores

O que mais ele disse?

Copa do Mundo-2034 "O foco é a Copa Asiática de 2027. Eles estão concentrados para entregar esse evento da melhor maneira possível, e aí, se tudo se confirmar na Copa de 34, olhar para frente. O país está pensando em avançar as etapas e fazer as entregas necessárias dos eventos que para cá virão".

E sobre a Copa Asiática? "O trabalho de construção e reformas dos estádios está a todo vapor. O principal de Riyad, o King Fahd, foi fechado agora para reforma. O país está se preparando".

A Liga tem dinheiro e craques. Qual o desafio mais imediato? "O desafio do momento, sem dúvida, é trazer o público ao estádio. Temos os quatro grandes [Al-Ittihad, Al-Ahli, Al-Nassr e Al-Hilal], e outros que atraem, e o desafio é que se tenham cada vez mais casas cheias. Isso é um processo. É muito semelhante com o que fizemos no futebol brasileiro. Se pegar a média de público de 2012 para cá, ela foi exponencial, tem crescido todo ano. É um trabalho de médio e longo prazo, passa por questões que vão desde o horário do jogo, acesso ao estádio, comodidade, etc. O cara vai ao jogo se aquilo tem valor para ele, e trabalhamos para que ele veja os prós mais que os contras para a decisão de ir ou não".

Equilíbrio Liga com craques x seleção. "Há toda uma estratégia do setor econômico na Arábia Saudita que tem como via de regra enaltecer e auxiliar o povo saudita, para o país crescer e a população crescer junto. No futebol não é diferente. Esses atletas atraem os olhos do mundo inteiro, mas isso tudo também para poder, um dia, se ter uma seleção mais forte. O intercâmbio dos atletas e o estímulo às divisões de base e clubes menores, fazem com que a liga cresça".

Como a experiência na CBF pode ajudar a liga saudita? "Vejo Brasil e Arábia Saudita com semelhanças. O povo é muito amistoso, há calor humano, e também no futebol há semelhanças com o que enfrentamos na CBF, que é pegar um campeonato e solidificar em várias frentes. Grande parte do sucesso do Brasileiro nos últimos anos, acredito eu, é que finalmente consolidou-se um formato, por exemplo. Goste ou não do formato atual, mas isso dá uma segurança para o torcedor. Antigamente não se tinha isso, o que prejudicava o produto. Agregar valor ao produto com protocolos, gestão operacional das partidas e questões de marketing também são itens aprimorados no Brasil que possibilitaram as conversas de Liga que temos hoje no país e o incremento exponencial do valor das competições, como a Copa do Brasil. A liga saudita está passando por esse processo".

O que mais surpreendeu aqui? "Acho que a paixão pelo futebol mesmo. No Brasil, acompanhamos o futebol europeu e é isso, mas quando se vem para essa região, se vê uma forças incríveis, com torcidas apaixonadas, com engajamento. Apesar de ter lido e tentado estudar, mas quando está aqui, você vê que é questão de tempo de a liga estar disputando na cabeça muito também pela torcida".

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