Argentino admite que imitou macaco após ver são-paulino rasgando dinheiro

O torcedor do San Lorenzo David Emanuel Benedetto, preso anteontem no Morumbi, admitiu que imitou um macaco com a intenção de ofender um torcedor do São Paulo.

À polícia, ele disse que praticou o ato racista após ver um são-paulino rasgar uma nota de peso, a moeda argentina, para provocá-lo.

O que aconteceu

Dois torcedores argentinos foram presos sob a acusação de racismo na quinta-feira passada após a vitória do São Paulo sobre o San Lorenzo pela Copa Sul-Americana. O UOL teve acesso aos depoimentos que eles deram à polícia.

Segundo um deles, David Benedetto, seu gesto aconteceu depois que ele viu um brasileiro rasgando uma cédula de peso argentino, uma provocação motivada pela crise econômica do país vizinho. Brasileiros têm rasgado dinheiro na frente de argentinos para enfatizar a desvalorização do peso frente ao real.

Benedetto, que trabalha como pedreiro e tem 29 anos, afirmou estar arrependido do gesto e disse à polícia que poderia gravar um vídeo se desculpando aos brasileiros. O juiz Orlando Gonçalves de Castro Neto, porém, considerou seu ato "extremamente grave" e manteve o argentino preso preventivamente.

No momento da discussão, uma banana foi arremessada na torcida são-paulina e caiu perto de um menino de 12 anos, que foi à polícia junto com o pai prestar queixa. Benedetto negou que tenha arremessado a banana. A vítima e outras testemunhas disseram não ter certeza se foi mesmo o argentino o responsável pelo arremesso da fruta.

Atesta que no momento em que o brasileiro rasgava dinheiro argentino, ele ficou nervoso em razão do momento econômico pelo qual a Argentina atravessa e em ato reverso ele balançou os braços imitando macaco afim de ofender o brasileiro que o ofendia. Neste ato, se demonstra arrependido e se desculpa publicamente com os brasileiros.
Trecho do relatório policial sobre o depoimento de David Benedetto

Um vídeo filmado na arquibancada do Morumbi mostra o torcedor imitando um macaco em direção aos brasileiros. Essas imagens serão anexadas como provas no processo judicial.

Benedetto alegar que reagiu à provocação de um são-paulino não atenua sua situação, de acordo com a promotora de justiça criminal da capital paulista Roberta Andrade da Cunha. A promotora estava no plantão do Juizado do Torcedor no Morumbi, quinta. "Ele nega que atirou a banana, mas o crime de racismo foi configurado a partir do momento em que ele imitou um macaco", disse a representante do Ministério Público.

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A promotora pediu que a prisão em flagrante fosse convertida em preventiva, e a Justiça atendeu. "A tendência é a gente sempre aplicar o rigor da lei e se manifestar pela conversão da prisão em flagrante em preventiva nesses casos de racismo", declarou Cunha. "A Justiça foi bem rápida nesse caso porque a gente fez a audiência no momento em que os fatos aconteceram. Isso é muito importante para dar uma resposta eficaz para a sociedade em crimes tão graves quanto esse", disse. Agora, os dois casos serão acompanhados pelo Ministério Público por meio do Gecradi (Grupo Especial de Combate aos Crimes Raciais e de Intolerância).

Outro argentino preso nega racismo

Matías Ezequiel Ramirez, o outro preso, negou que tenha imitado um macaco para os são-paulinos. Ele foi preso após ser apontado como o homem que aparece fazendo o gesto com os braços dentro de um camarote destinado ao San Lorenzo no Morumbi.

O torcedor também disse que os brasileiros rasgavam notas de dinheiro pra provocar os argentinos. Segundo a polícia, Matías "nega ter feito qualquer tipo de gestos que fossem ofensivos aos brasileiros. Atesta que não se arrepende porque não fez nenhum gesto de cunho racista. Informa que durante todo o jogo torcedores são paulinos cuspiam no vidro de seu camarote e rasgavam dinheiro insultando-os."

Os documentos do inquérito trazem ainda o relato do pai da criança atingida pelos insultos racistas. Segundo o pai do menino, que depôs como testemunha, o argentino David Benedetto estava "imitando uma espécie de macaco e apontando para a pessoa de seu filho e dando muita risada. Declara que seu filho ficou muito triste e inclusive chorou no momento".

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Durante o interrogatório, os torcedores acusados foram auxiliados pelo consulado argentino em São Paulo, que fez a tradução das perguntas e respostas junto à polícia. Os dois foram enquadrados na Lei do Racismo, que prevê pena de dois a cinco anos de prisão a quem cometer atos de preconceito racial em contexto esportivo.

A Defensoria Pública de São Paulo atuou na defesa dos argentinos durante a audiência de custódia, mas disse que não se manifesta sobre casos criminais em andamento.

San Lorenzo repudia recepção no Brasil

Em nota divulgada na tarde de ontem, o San Lorenzo negou que os torcedores presos tenham vínculo com o clube e criticou a forma como o time argentino foi tratado em São Paulo. Leia abaixo:

"O San Lorenzo esclarece que os dois torcedores detidos em São Paulo, acusados de supostos atos racistas, são Matías Ezequiel Ramírez e David Emanuel Benedetto. Eles não ocupam nenhum cargo na Comissão Diretiva nem exercem qualquer função de governo no Clube. Viajaram ao Brasil para apoiar a equipe.

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Por sua vez, o Clube repudia o tratamento recebido na chegada e durante o jogo. A delegação teve que acomodar torcedores nas cabines que estavam sendo assediados pela torcida local, visando proteger sua integridade física.

Além disso, conforme difundido em diversos vídeos, o San Lorenzo repudia o tratamento recebido por parte da segurança e dos espectadores locais.

Por fim, o Clube agradece a disposição do Consulado e Embaixada argentina, que estiveram presentes no local e estão colaborando com o estado e a situação processual dos detidos, juntamente com três dirigentes da instituição que permanecem em São Paulo após o ocorrido.

O San Lorenzo, fiel à sua história, manifesta-se a favor de um futebol em paz e contra qualquer ato discriminatório."

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