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Ex-camisa 10, zagueiro brasileiro da Fiorentina sonha com Morumbi lotado

Igor Julio, zagueiro brasileiro, em atuação pela Fiorentina - Sportinfoto/vi/DeFodi
Igor Julio, zagueiro brasileiro, em atuação pela Fiorentina Imagem: Sportinfoto/vi/DeFodi

Eder Traskini

Do UOL, em Santos (SP)

21/05/2022 04h00

Ele começou no Red Bull Brasil, chamou atenção da matriz e ganhou uma Liga dos Campeões sub-19 com o Red Bull Salzburg, da Áustria. Hoje titular da Fiorentina, o zagueiro Igor Júlio, 24 anos, tem um sonho curioso: vestir a camisa do São Paulo dentro do Morumbi lotado.

O fato fica ainda mais surpreendente ao descobrir o time do coração do defensor que iniciou a carreira atuando como meia de criação: o antigo camisa 10 torce pelo Cruzeiro. Mas de onde vem a admiração pelo Tricolor paulista?

"Pela história do São Paulo. É um dos maiores clubes do Brasil e do mundo, que tem os títulos mais importantes, acho bonito ver a torcida enchendo o Morumbi. Sempre assisti a jogos do São Paulo, sempre gostei de ver o time do Luis Fabiano, Dagoberto... É um time que sempre tive muita vontade de jogar. Eu gostaria de ter jogado no Cruzeiro também, que é o time que eu torço desde pequeno. Mas o Brasil tem muitos times grandes", contou em entrevista ao UOL Esporte.

Brasil à parte, o foco de Igor Júlio no momento está na Juventus. A Fiorentina tem a 'velha senhora' como adversária da última rodada do campeonato italiano, hoje (21), às 15h45 (de Brasília, e uma vitória pode classificar a equipe do brasileiro para a Liga Europa — algo que não ocorre desde 2016/17.

Carreira como 10

Igor Júlio nasceu na pequena cidade de Bom Sucesso (MG), de cerca de 17 mil habitantes. Começou como a maioria dos garotos, ainda bem jovem em escolinhas da cidade e da região. Depois que decidiu seguir carreira no futebol, chegou a passar em peneira no Fluminense, mas não conseguiu ficar.

"No Fluminense tinha que ficar em pensão e era R$ 700 por mês. Nós não tínhamos condições. Fiz peneira no Bahia, nunca tinha visto tanta gente junta pra jogar. Fiz no Coritiba e no Grêmio também, mas não deu certo. Fui aprovado no Atlético-MG, e já foi um sonho pro meu pai que é atleticano. Fiquei oito meses, mas por brigas de empresário acabei saindo", contou.

A carreira de Igor começou mesmo na Portuguesa Santista. Ficou um ano no sub-15 da Briosa, subiu ao sub-17 e chamou atenção do Red Bull Brasil, ainda como camisa 10. Fez teste e passou: naquele momento, chegava ao RB o meia-atacante Igor Julio. Dois meses depois, porém, veio a mudança pelas mãos do técnico Pablo Fernández.

"Virar zagueiro foi meio que culpa minha também. Teve um jogo no paulista que o zagueiro tinha machucado e o reserva podia jogar de zagueiro ou volante. O treinador chegou pra mim e pra esse reserva e disse que um dos dois ia ter que jogar como zagueiro e o outro como volante. Eu, naquela de 'vou ajudar o treinador', falei 'não, ele joga de volante e eu vou de zagueiro'. Matei a pau na zaga, mas pra mim era só pra ajudar, pra ganhar moral com o treinador, não pra virar zagueiro."

"Chegou no outro dia, ele me chamou para conversar: 'olha, você jogou ali e eu vi uma coisa diferente, acho que você devia pensar' e tal. Mas pra mim era só uma conversa. Quando o pessoal da minha idade subiu pra categoria que eu estava [uma acima], ele falou: 'você sabe onde eu quero te usar, né?' Pensei que seria meio-campo ou volante. Quando ele falou zagueiro, pra ser sincero, eu fiquei louco. Liguei pro meu pai, falei que se fosse para jogar de zagueiro eu iria embora, que eu não queria. Mas são coisas que precisam acontecer. Depois que eu fui pra zaga, muita coisa boa aconteceu, muitas portas se abriram, patrocínios e uma série de coisas. Se eu tivesse parado no tempo e ido contra, não sei se estaria aqui hoje"

Título em cima de João Félix

Hoje no Atlético de Madri (ESP), o português João Félix é uma das maiores promessas do futebol mundial. Em 2016/17, ainda no Benfica (POR), o atacante já tinha tal status, mas caiu perante o Red Bull Salzburg (AUS) de Igor Julio. O defensor brasileiro esteve no título da Liga dos Campeões sub-19 daquela temporada sobre os portugueses, eliminando pelo caminho gigantes como PSG, Atleti e Barcelona.

"Pra mim, os mais difíceis [de marcar] foram o João Felix e o Sancho. Os dois já eram promessas. Deram bastante trabalho nos jogos, muito mesmo. Foi uma coisa inédita para o Salzburg e pra mim. Muitos jogadores que jogaram ali estão nos maiores times do mundo. Foi uma experiência única. Fizeram uma festa gigante na cidade como se fosse a equipe principal. Pra mim, teve muita visibilidade. Um ou dois meses depois tive a convocação para a seleção brasileira (de base). Foi um salto na minha carreira", lembrou.