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Godín e Miranda, discípulos de Simeone, sofrem com estilo de jogo no Brasil

Diego Godin, do Atlético de Madri, comemora o gol contra o Barcelona na final do Campeonato Espanhol - Marcelo del Pozo/ Reuters
Diego Godin, do Atlético de Madri, comemora o gol contra o Barcelona na final do Campeonato Espanhol Imagem: Marcelo del Pozo/ Reuters

Victor Martins

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte (MG)

17/04/2022 04h00

Em 2014 o Atlético de Madri quebrou um jejum de 18 anos e conquistou o Campeonato Espanhol, superando Barcelona e Real Madrid, que na época polarizavam a disputa pelo posto de melhor time de futebol do planeta. De um lado, Messi, Neymar, Iniesta, Xavi e tantos outros. Do outro estavam Cristiano Ronaldo, Benzema, Bale, Modric e muito mais gente de qualidade. Mas a equipe colchonera, dirigida por Diego Simeone, contava com um sistema defensivo sólido. A dupla de zaga era formada por Diego Godín e Miranda.

Para superar dois times que eram verdadeiras seleções mundiais, o Atlético de Simeone tinha a defesa como o principal pilar da equipe. A dupla formada por Godín, 36 anos, e Miranda, 37, era apontada como a melhor do mundo na época, afinal os Colchoneros conseguiam bater de frente com os gigantes espanhóis e europeus, numa época em que o orçamento não era tão farto como os dos concorrentes por toda a Europa. Passados alguns anos, Godín e Miranda vivem realidade bastante diferente no futebol brasileiro.

Os dois atuam em equipes que jogam de maneira ofensiva, a linha da defesa é alta e dificulta para os dois zagueiros veteranos, já sem tanta velocidade. O Atlético-MG é um time que gosta de atacar o tempo todo, ao ponto de jogar com quatro atacantes desde o início e ver os dois laterais avançarem ao mesmo tempo. O que deixa os zagueiros vulneráveis, e causa mais dificuldades para Godín do que para Alonso e Nathan Silva, que são mais rápidos. Além disso, o uruguaio está no processo de adaptação ao futebol brasileiro.

Quem também fica vulnerável é Miranda, com um São Paulo que constrói o jogo desde a defesa e gosta de empurrar os adversários para trás. O gol sofrido para o Bragantino, na primeira fase do Campeonato Paulista, após um passe errado do zagueiro, revela a dificuldade que Miranda tem para sair jogando quando pressionado pelos atacantes. Um dos fatores que fizeram Rogério Ceni barrar o experiente defensor.

O cenário que encontram no Brasil é totalmente diferente do que os dois encontraram na Espanha. A importância da defesa para o time montado por Simeone era tanta, que foi de Godín o gol do título Espanhol, no empate em 1 a 1 com o Barcelona, no Camp Nou. O zagueiro uruguaio marcou de cabeça, aos 5 minutos do segundo tempo e foi comemorar com Miranda.

"Nós estamos juntos há muitos anos. Temos uma grande confiança nele, estamos com ele até a morte, assim como ele também está com a gente. Acredito que toda a equipe tem confiança nele e todos nós sabemos o caminho que precisamos tomar. Vamos com ele até a morte. É assim que vamos conseguir as coisas", disse Godín, em entrevista ao site Goal, em 2016, sobre a relação dos jogadores com Diego Simeone.

Godín era intransferível

Capitão do time, um dos melhores zagueiros do mundo e líder de uma defesa difícil de ser batida. Godín viveu seu auge com a camisa do Atlético de Madri, sob o comando de Diego Simeone. O sucesso do zagueiro uruguaio despertou o interesse de outros clubes, mas foram nove temporadas na equipe colchonera. O motivo? Godín era tratado como inegociável pelo treinador.

"Intransferíveis? Koke, Godín e alguns outros mais não estão a venda", revelou o técnico argentino, em entrevista à Rádio Marca, sobre conversa que teve com os dirigentes do Atlético de Madrid.

Diego Godín foi titular do Atlético-MG no clássico com o América-MG, pela Copa Libertadores - Pedro Souza/Atlético-MG - Pedro Souza/Atlético-MG
Diego Godín foi titular do Atlético-MG no clássico com o América-MG, pela Copa Libertadores
Imagem: Pedro Souza/Atlético-MG

Simeone conseguiu segurar Godín por muito tempo, até que o zagueiro começou a perder espaço dentro do próprio time. O caminho natural foi uma transferência. Na saída, marcada por várias homenagens, o treinador destacou mais uma vez como o uruguaio foi importante nas temporadas em que defendeu o clube. "Vai embora um jogador meu", disse o argentino, quando Godín trocou o Atlético de Madri pela Inter de Milão.

Na Cidade do Galo, Godín não tem mais o sistema de jogo de Simeone. No Atlético-MG os zagueiros jogam expostos e isso cria mais dificuldade para um defensor que passou boa parte da carreira atuando por uma equipe que adorava se defender. Tanto que o uruguaio foi alvo de críticas por atuações contra o Flamengo, na Supercopa, e diante do América-MG, pela Libertadores.

Inclusive, após o clássico pelo torneio continental, o clube se posicionou contra os ataques que o zagueiro sofreu nas redes sociais. Quem também saiu em defesa de Godín foi o técnico Turco Mohamed. "É um jogador de hierarquia e já jogou contra outros jogadores rápidos. São situações que podem acontecer na partida. Não gosto de falar de uma situação específica. Ele resolveu outros tipos de situação, e não há problema. O erro é parte do jogo. Nossa intenção era jogar com jogadores que estivessem mais descansados, que não tenham tantos jogos".

Dos 18 jogos do Atlético na temporada, Godín só atuou em sete deles. Alguns por estar com a seleção uruguaia, e outros por opção do técnico. Para o duelo deste domingo, com o Athletico-PR, Godín nem sequer foi relacionado.

"Precisamos de Miranda com urgência"

Miranda virou reserva do São Paulo na temporada 2022 - Mauro Horita / CONMEBOL - Mauro Horita / CONMEBOL
Miranda virou reserva do São Paulo na temporada 2022
Imagem: Mauro Horita / CONMEBOL

Miranda ficou menos tempo no Atlético de Madri do que ficou Godín, mas isso não faz dele menos importante para o time montando por Diego Simeone. Tanto que assim como o companheiro de zaga, o brasileiro também era peça que o treinador não abria mão. A boa fase no futebol espanhol fez com que clubes de toda a Europa fosse atrás de Miranda, mas Simeone não aceitava vender o zagueiro.

"As melhores decisões que se pode ter como treinador são estas", disse o argentino sobre o fato de não liberar um de seus titulares. "Precisamos de Miranda com urgência, ele nos dá muitas alegrias", completou Simeone, numa época em que o brasileiro estava com uma lesão na panturrilha.

Ídolo do São Paulo, Miranda retornou ao clube no ano passado. Foram 46 partidas disputadas, numa temporada em que o Tricolor venceu o Campeonato Paulista e fracassou nas demais disputas. Em 2022, sob o comando de Rogério Ceni, a maneira de jogar mudou bastante e Miranda perdeu espaço. São apenas nove partidas das 21 disputadas pelo clube neste ano.

No triunfo sobre o Everton, do Chile, pela Copa Sul-Americana, por 2 a 0, Miranda apareceu desde o começo. Rogério Ceni optou por uma escalação reserva e não elogiou a atuação do experiente zagueiro. "Arboleda e Miranda foram os melhores do jogo para mim". Mas neste domingo, contra o Flamengo, Miranda não será titular.