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Como é um bom grupo para o Brasil na Copa: ex-técnicos e jogadores opinam

Sorteio das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, no Qatar - Divulgação/Fifa
Sorteio das Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022, no Qatar Imagem: Divulgação/Fifa

Danilo Lavieri e Igor Siqueira

Do UOL, em São Paulo e Rio de Janeiro

01/04/2022 04h00

Classificação e Jogos

O balançar das bolinhas vai decidir hoje (1) qual o caminho do Brasil na Copa do Mundo de 2022. A Fifa promoverá um sorteio no Qatar, a partir das 13h (de Brasília), e a pergunta que fica é: como seria um bom desfecho para o Brasil? O UOL Esporte ouviu técnicos e ex-jogadores que já estiveram envolvidos em Mundiais para saber se é possível traçar alguma definição sobre isso.

Antes, no entanto, é preciso se atentar para o posicionamento do Brasil no cenário atual. O Ranking da Fifa colocou a seleção brasileira de volta à primeira posição. Assim, a equipe de Tite é uma das cabeças de chave.

Além da seleção anfitriã, o Qatar, o Brasil não pegará de cara Bélgica, França, Argentina, Inglaterra, Espanha e Portugal. Por outro lado, o pote 2 tem seleções de peso, como Alemanha e Holanda, além de Dinamarca, Croácia, Suíça, Estados Unidos, México, além do Uruguai. O Brasil, no entanto, não pode enfrentar os uruguaios, já que são do mesmo continente. Os potes 3 e 4 têm adversários relativamente mais fracos. Mas que podem fazer jogos enroscados - é o caso de Sérvia e Polônia, no pote 3, e Camarões e Gana, no 4.

"O Pote 2 tem Alemanha e Holanda, né? Seria legal a gente poder ver um jogo desse logo na primeira fase", disse o ex-atacante Paulo Sérgio, campeão do mundo em 1994.

O Brasil não é eliminado na primeira fase da Copa do Mundo desde 1966. Olhando os Mundiais recentes, a seleção também tem conseguido escapar dos chamados "grupos da morte". Mas, geralmente fazendo parte da lista de favoritos, dá para ficar escolhendo adversário?

2006: Parreira substitui Ronaldo por Gilberto Silva no duelo do Brasil contra a Austrália - Phil Cole/Getty Images - Phil Cole/Getty Images
2006: Parreira substitui Ronaldo por Gilberto Silva no duelo do Brasil contra a Austrália
Imagem: Phil Cole/Getty Images

Carlos Alberto Parreira, técnico do Brasil nas Copas de 1994 e 2006, diz que "tem que encarar o que vier", mas há quem mescle esse discurso corajoso com o reconhecimento de que é possível se dar bem no sorteio, sim.

"Na Copa do Mundo você não pode escolher adversário, tem que ter confiança na sua forma de jogar. É claro que, no plano teórico, [é melhor] pegar os de menor potência e ir crescendo. Mas você tem que estar preparado para todos. Já estamos vivendo a Copa do Mundo", avaliou Sebastião Lazaroni, técnico da seleção na Copa de 1990, cuja campanha terminou nas oitavas.

Para quem não chegou a ser treinador em mundiais e esteve dentro de campo, esse crescimento progressivo da dificuldade também é interessante. Embora o Brasil não perca em estreias desde 1934, o primeiro jogo costuma ser enroscado. Em 2018, foi 1 a 1 diante da Suíça. Em 2014, teve 3 a 1 na Croácia. Em 2010, 2 a 1 sobre a Coréia do Norte. Em 2006 e 2002, respectivamente, 1 a 0 diante dos croatas e 2 a 1, de virada, sobre a Turquia.

"Pegar os mais difíceis não é bom logo de cara em uma Copa. Claro que para ganhar a Copa você precisa ganhar de todos, mas no início ser mais tranquilo por adaptação é melhor. Por experiência própria, os primeiros jogos são os mais difíceis, os mais nervosos, então não é bom pegar os melhores logo de cara", avaliou o ex-zagueiro Lúcio, campeão em 2002 e que esteve ainda em 2006 e 2010.

Modric disputa a bola com Oscar em Brasil x Croácia, pela do Copa do Mundo de 2014 - Adam Pretty/Getty Images - Adam Pretty/Getty Images
Modric disputa a bola com Oscar em Brasil x Croácia, pela do Copa do Mundo de 2014
Imagem: Adam Pretty/Getty Images

Por outro lado, dar de cara com adversários de peso e se sair bem pode trazer uma injeção de ânimo para a campanha como um todo.

"É claro que ganhar da Alemanha ou de outro país forte na fase de grupos é muito bom. A gente vai torcer para entrar em primeiro. Mas o importante é passar para as etapas decisivas. Passam dois, não é eliminatória ainda. De quatro, passam dois. Mas se cair a Alemanha e ganhar, dá confiança. Quanto mais jogos você consegue ganhar, dá mais confiança", avalia Parreira.

Perguntado na semana passada sobre adversários, o técnico Tite desconversou e disse que ainda não estava preocupado com o sorteio, pois ainda tinha o jogo contra a Bolívia, pelas Eliminatórias, por jogar.

Data e preparação

Além dos adversários, em si, o sorteio define quando as seleções estreiam na Copa do Mundo. Entrar nos primeiros grupos significa jogar mais cedo. A Copa no Qatar terá um calendário ligeiramente mais apertado. Serão quatro jogos por dia na primeira fase. Logo, em quatro dias, todas as seleções já terão jogado ao menos uma vez.

Há um detalhe que pode deixar o sorteio mais ou menos agradável para a seleção brasileira. Se ficar nos grupos mais adiante, Tite terá mais dias de preparação. O calendário está apertado. Será meio de temporada na Europa. Assim, a Fifa definiu que a apresentação dos jogadores deve ser no dia 14 de novembro. O Brasileirão, por exemplo, termina dia 13.

"Acho que é melhor começar logo. Tem um aspecto que é a ansiedade para que a bola role logo", disse Lazaroni.

Na comissão técnica de Tite, há a ponderação de que se cair em um grupo logo no primeiro dia (A ou B) a preparação ficará mais apertada. De repente, estrear depois pode permitir o encaixe de um amistoso pré-Copa, algo que não está previsto hoje. Por outro lado, se o Brasil ficar no grupo G ou H, o gargalo será o intervalo menor entre o terceiro jogo da fase de grupos e as oitavas de final: dois ou três dias sem jogo.

Sem viagens

"Um bom grupo na nossa época era de logística. Como lá não vai ter isso e é tudo perto, então não importa. O mais importante é repetir o desempenho das Eliminatórias", resumiu Dunga, que treinou a seleção na Copa de 2010.

O capitão do tetra em 1994 tocou em um ponto crucial para explicar como essa Copa do Qatar realmente via ser diferente. Em um país pequeno, a concentração de estádios por metro quadrado é muito grande - a maioria fica na capital, Doha. Apenas 70 km separam o estádio mais ao norte, Al Bayt, do que está mais ao sul, Al Janoub.

Independente do que as bolinhas reservarem para o futuro da seleção brasileira no Qatar, o importante, em última instância, passa a ser o que o Brasil apresentará em campo.

"O que vai acontecer no sorteio é detalhe que faz parte da Copa do Mundo. Ali, você sabe o seu caminho, o que você vai encontrar e as possibilidades futuras. Você já começa a projetar oitavas, quartas? O importante é chegar com a seleção pronta, como estamos agora. Se pegar um grupo com a Alemanha, não importa se passar em primeiro ou segundo, o importante é chegar à final", finalizou Carlos Alberto Parreira.

Os potes

O pote 1 tem Brasil, Bélgica, França, Argentina, Inglaterra, Espanha, Portugal e Qatar (por ser o país-sede da Copa). O pote 2 é composto por Holanda, Alemanha, Dinamarca, México, Estados Unidos, Suíça, Uruguai e Croácia.

Estão no pote 3 Senegal, Irã, Japão, Sérvia, Polônia, Coreia do Sul, Marrocos e Tunísia. Por fim, o pote 4 conta com Canadá, Equador, Arábia Saudita, Gana, Camarões e três classificados da repescagem, ainda indefinidos.