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Grupo de torcedores ganha acesso à seleção via CBF e articula apoio na Copa

Torcedores em treino da seleção na Granja Comary - Igor Siqueira/UOL
Torcedores em treino da seleção na Granja Comary Imagem: Igor Siqueira/UOL

Igor Siqueira

Do UOL, em Teresópolis (RJ)

28/03/2022 08h24

Classificação e Jogos

Enquanto os jogadores apareciam aos poucos em meio à neblina de Teresópolis, um grupo de torcedores tirava dos carros faixas, bandeiras e instrumentos musicais para dar uma cara de estádio ao CT da seleção brasileira. Alguns já são figurinhas conhecidas nas arquibancadas de outros carnavais. Ou melhor, outros mundiais. Mas o grupo quer se estruturar ainda mais e tem encontrado na CBF uma parceira.

O convite para estar ali rompendo o silêncio e a calmaria do ambiente da seleção foi feito pela própria entidade, que planeja mais ações visando à campanha até e durante a Copa do Mundo do Qatar. O trâmite acontece no marketing da CBF e impacta no cotidiano do departamento de seleções.

Formalmente, trata-se do Movimento Verde Amarelo, que se tornou mais conhecido durante a Copa da Rússia, quatro anos atrás. A ideia é relativamente simples: ser uma torcida organizada da seleção brasileira, estando presente em todos os jogos possíveis, criando um ambiente de impulso ao time brasileiro. De qualquer modalidade. No futebol, eles ganham mais projeção.

A presença do treino da seleção foi resultado de um convite da CBF, que viu no último treino aberto da seleção em solo brasileiro antes da Copa a ocasião perfeita. Até o Qatar, serão mais cinco jogos, três em junho e dois em setembro — todos no exterior.

Antes de o trabalho tático começar, vieram a batucada e os cânticos já devidamente ensaiados. A comissão técnica e os jogadores corresponderam — Tite e Richarlison foram os mais engajados, tirando fotos e dando autógrafos.

Saulo Mençonça, o Super Mano, um dos diretores do Movimento Verde Amarelo - Igor Siqueira/UOL - Igor Siqueira/UOL
Saulo Mençonça, o Super Mano, um dos diretores do Movimento Verde Amarelo
Imagem: Igor Siqueira/UOL

Mas como eles foram parar ali e o que pretendem para o Qatar? Alguns vieram de São Paulo, como é o caso do Super Mano. É o personagem encorpado por Saulo Mendonça, de 30 anos. Formado em administração pública e com carreiras no ramo de consultorias, o paulista de Franca mora em São Paulo e atualmente é dono de uma franquia de açaí. Assim, consegue o tempo livre viver com mais flexibilidade o personagem criado em 2013 com o único objetivo de chamar atenção. A inspiração foi o emblemático Clóvis Fernandes, o Gaúcho da Copa, que morreu em 2015.

"Por que isso [fantasia] a câmera filma. Agora, a gente tem um integrante que se veste de árabe. Temos alguns personagens, na brincadeira mesmo. Queremos que seja um carnaval na arquibancada", disse o Super Mano ao UOL.

De olho em patrocinadores

Mas o Movimento Verde Amarelo não quer sobreviver, fora da arquibancada, à base da galhofa. O grupo nasceu informalmente em 2008, como uma união entre amigos universitários que viu uma lacuna em eventos esportivos envolvendo seleções brasileiras.

A primeira experiência em Copas do Mundo foi em 2010. "Uma catástrofe", nas palavras de Saulo, por causa das dificuldades estruturais da África do Sul e, na questão sonora, das vuvuzelas, que escondiam qualquer grito da arquibancada. Em 2014, a música "Mil Gols" emplacou. Depois, na Rússia, em 2018, teve "O único penta é o Brasilzão".

O movimento tem um CNPJ e se organizou como empresa. Há seis diretores — Saulo é um deles. A ideia é não só fazer a interface com entidades como a CBF, mas também com patrocinadores. No jogo contra o Chile, no Maracanã, a parceria foi com a Brahma.

"Foi um valor específico e com esse dinheiro a gente organizou o nosso esquenta, que teve chope Brahma de graça para quem era sócio. Fizemos uma bateria, nunca levamos uma tão grande. A gente conseguiu trazer os melhores ritmistas para o jogo", conta o Super Mano.

O Movimento se organiza em embaixadas em diversas cidades do país. Atualmente, são 170. O pessoal do Acre é quem vai a La Paz para o jogo de terça-feira (29), contra a Bolívia. Ao mesmo tempo em que busca patrocínios, o grupo desenvolveu um programa próprio de sócio-torcedor.

"Quem gosta e acredita no nosso propósito, se associa de graça ou pode fazer doação de R$ 5, R$ 25 ou R$ 50. É uma forma que a gente estruturou. Tem custos de faixas, de estagiário que faz as redes sociais. É como a gente se mantém. Temos 1.500 associados, mas cerca de 800 pagam", explica Saulo Mendonça.

A CBF estreitou relações, planeja anunciar mais ações ao longo do ano, mas não dá dinheiro. A colaboração é com informações sobre a logística da seleção ou oportunidades, como a passagem pela Granja Comary.

"Foi uma coisa que na Rússia a gente conseguiu. O horário que a seleção sai do hotel, do treino, saída para o jogo para fazer o corredor de recepção", acrescenta.

Ingresso é desafio

Em termos de posicionamento nos estádios, o movimento gosta de ficar atrás do gol. É o local onde os ingressos geralmente são mais baratos. Mas conseguir os bilhetes é sempre uma dor de cabeça. A principal delas, na verdade. Nos jogos da seleção, rola um mutirão de compra de ingressos assim que a venda começa. Mas as coisas pensando no Qatar não são tão simples.

"Para a Copa, estamos penando. A gente está tentando com a Fifa porque ela tem um programa específico chamado Fifa Fan Leader. É meio que um representante da torcida naquele país. No Brasil, são 27 fan leaders e 24 são do Movimento Verde Amarelo. Estamos tentando ver com a Fifa e com patrocinadores, que a gente sabe que têm cota", explica o Super Mano.

Por causa desse projeto da Fifa, um dos torcedores brasileiros irá ao Qatar nesta semana para acompanhar in loco o sorteio dos grupos do Mundial. E é logo Luiz Carvalho, o Luiz Vasco (por conta do time que ele torce), o compositor das duas principais músicas cantadas pelo grupo.

A receptividade de Tite, da comissão técnica e dos jogadores é o que faz valer a pena para esses torcedores.