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Leila, Menin, Del Nero e Guardiola: o elo entre Pandora Papers e futebol

Leila Pereira posta foto com a trave e seguidores brincam - Reprodução/Instagram
Leila Pereira posta foto com a trave e seguidores brincam Imagem: Reprodução/Instagram

Do UOL, no Rio de Janeiro

05/10/2021 04h00

As investigações feitas com base nos Pandora Papers, um compilado de arquivos analisados pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos (ICIJ), mostram um elo entre a criação de empresas offshore em paraísos fiscais e figuras ligadas ao futebol. Especialmente no Brasil.

A lista conta com Leila Pereira, presidente da Crefisa, principal patrocinadora do Palmeiras —clube do qual ela será presidente, já que é a única candidata para a eleição deste ano. Rubens Menin também tem negócios registrados nos Pandora Papers. Dono da MRV, ele é o principal financiador dos investimentos recentes feitos pelo Atlético-MG, atual líder do Brasileirão. A MRV, inclusive, batiza e capitaneia a construção do novo estádio do clube mineiro.

Atual técnico do Manchester City, Pep Guardiola é mais um com movimentações identificadas nas investigações.

Ex-presidente da CBF, Marco Polo Del Nero é outro cujo DNA apareceu nos documentos, de forma indireta: a empresa, nominalmente, pertencia aos filhos dele, Marco Polo Del Nero Filho e Marcus Vinicius Del Nero.

No Brasil, é permitido ter offshores, desde que declaradas à Receita Federal e, quando os ativos ultrapassam US$ 1 milhão, ao Banco Central. Entre os veículos brasileiros, integraram o projeto jornalistas da revista Piauí, da Agência Pública, além dos sites Poder360 e Metrópoles.

Caso a caso

Em relação a Leila Pereira, ela aparece ao lado do marido, José Roberto Lamacchia, fundador da Crefisa, como proprietária da offshore Koba Investors Limited, criada em 2008 nas Ilhas Virgens Britânicas. Segundo as investigações, Leila aparece como proprietária de 5% da companhia, que estava ativa até pelo menos 2019. Os dados foram obtidos em documentos da Trident Trust, um dos mais especializados do mundo em abrir offshores em paraísos fiscais.

A família Menin também recorreu à Trident. Pelos documentos, quatro offshores foram localizadas, com patrimônio de US$ 82,2 milhões. A principal delas é a Costelis International Limited, com base nas Ilhas Virgens Britânicas e que existe pelo menos desde 2016. Um dos ativos registrados em nome da companhia de Menin é um barco de 33 metros que está ancorado no estado americano da Flórida.

Em 2018, a Costelis deixou de ser registrada apenas no nome de Rubes Menin e foi distribuída entre os filhos, Rafael, João Vitor e Maria Fernanda. Ao Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, a MRV respondeu que a offshore "está totalmente de acordo com as normas estabelecidas pela Receita Federal e demais órgãos reguladores".

Pep Guardiola, técnico do Manchester City, em entrevista após partida da Liga dos Campeões 2020-21 - Alexander Scheuber - UEFA/UEFA via Getty Images - Alexander Scheuber - UEFA/UEFA via Getty Images
Pep Guardiola, técnico do Manchester City
Imagem: Alexander Scheuber - UEFA/UEFA via Getty Images

O cenário envolvendo Guardiola diz respeito a uma conta aberta para receber salários durante o período em que ele jogou pelo Al Ahli, do Qatar, entre 2003 e 2005. Ele tinha uma conta corrente em Andorra, paraíso fiscal, e só regularizou o dinheiro em 2012, quando se valeu de uma anistia do governo espanhol.

Ao El País, Lluís Orobitg, assessor fiscal do treinador, explica que Guardiola só usou a conta na Banca Privada de Andorra (BPA) para depositar os salários. Com a anistia, ele conseguiu colocar em dia quase 500 mil euros, pagando 10% sobre os juros gerados em quatro anos anteriores. Pep aparece em um documento do escritório de advocacia Alemán, Cordero, Galindo y Lee (Alcogal).

Nesse movimento, Guardiola figurou como representante da Repox Investiments, com sede no Panamá. Segundo Orobitg, era uma empresa de fachada para ocultar o verdadeiro dono do dinheiro da conta em Andorra. O assessor do treinador disse ainda que a criação da Repox foi iniciativa do banco andorrano.

Quanto a Del Nero, os filhos do ex-presidente da CBF apareceram como titulares da Finview Investments Limited, nas Ilhas Virgens Britânicas. Segundo a Piauí, a offshore foi formalmente criada em 7 de outubro de 2014, com capital de US$ 10 milhões. O escritório Alcogal foi o acionado para criação da empresa. Em uma classificação interna para verificar a probabilidade de que a companhia fosse usada para lavagem de dinheiro, o resultado foi nota 4, em uma escala de 1 a 9.

Com o envolvimento de Del Nero no Fifagate, o esquema de recebimento de propina descoberto pelo FBI, o Alcogal fez dois movimentos. Primeiro, enviou um ofício ao banco Morgan Stanley, em Miami, informando que deixaria de administrar a offshore dos Del Nero nas Ilhas Virgens. Depois, em 12 de junho de 2015, notificou a Agência de Investigação Financeira (FIA, na sigla em inglês) do mesmo país sobre a existência da Finview Investments.

Em agosto de 2015, os filhos de Del Nero encerraram a offshore. O ex-cartola disse à Piauí que a companhia foi devidamente declarada à Receita Federal, ressaltando ainda não ter sido proprietário ou beneficiário dos ativos no exterior.