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"Elefante dourado" da CBF, Mané Garrincha recebe seleção após quase 5 anos

Auditoria no Mané Garrincha revelou possível superfaturamento de R$ 106 milhões - Ueslei Marcelino/Reuters
Auditoria no Mané Garrincha revelou possível superfaturamento de R$ 106 milhões Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Danilo Lavieri, Marcel Rizzo e Pedro Lopes

Do UOL, em Brasília

05/06/2019 12h00

No fim de agosto de 2013, o então presidente da CBF José Maria Marin se referiu ao Mané Garrincha como "elefante dourado", uma maneira de se contrapor aqueles que achavam que o estádio em Brasília reconstruído para a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, se transformaria num elefante, mas branco.

Nesta quarta-feira (5) a arena será palco de Brasil x Qatar, amistoso preparatório para a Copa América de 2019 e a seleção principal, que segundo a CBF à época faria do Mané Garrincha sua segunda casa, volta à arena após abandoná-lo por quase cinco anos - o último jogo ocorreu em julho de 2014, na derrota por 3 a 0 para a Holanda na disputa de terceiro lugar do Mundial.

Marin deu aquela entrevista dias antes de o Brasil enfrentar em amistoso a Austrália no Mané Garrincha, que durante a Copa seria chamado pela Fifa de Estádio Nacional. Era a segunda partida do Brasil por ali em menos de três meses, já que em 15 de junho de 2013 a seleção de Felipão e Neymar venceu o Japão por 3 a 0 na estreia da Copa das Confederações, torneio que o time ganharia. Contra os australianos, em 7 de setembro, a vitória foi bem mais fácil, 6 a 0.

O prognóstico de Marin, hoje preso nos EUA acusado de corrupção, de que o estádio não se tornaria um fardo para o governo do Distrito Federal, dono do equipamento, não se concretizou. A própria seleção largou o Mané Garrincha: depois das duas partidas em menos de três meses em 2013 foram mais dois jogos do Brasil principal na arena, ambos em 2014 pela Copa do Mundo, a vitória ainda na primeira fase contra Camarões, 4 a 1, e a derrota de 3 a 0 na disputa do terceiro lugar para a Holanda. Depois apenas a olímpica passou por lá, nos Jogos de 2016.

Fora do roteiro
Depois da Copa-2014 a seleção fez 12 jogos no Brasil, oito em estádios que receberam partidas do Mundial, mas o Mané Garrincha ficou fora do roteiro. Mesmo desta vez a primeira opção para o confronto contra o Qatar era o Maracanã, mas não houve acordo com os gestores do estádio no Rio.

Hoje o Mané Garrincha se divide entre jogos de futebol e shows. Entre janeiro e abril deste ano foram 26 eventos realizados, 14 jogos e o restante festas, como o Circo do Diogo e o lançamento do DVD do Dilsinho. Entre as partidas a maioria foi do campeonato do Distrito Federal, com públicos que quase nunca passam de mil espectadores (o estádio tem capacidade para mais de 70 mil), mas que pode chegar a 60 pagantes como no confronto entre Real e Santa Maria, em fevereiro. Houve também a partidas com mandos de tines grandes comprados por empresas, como Botafogo x Palmeiras há algumas semanas, pelo Brasileiro.

Os jogos de equipes com mandos vendidos entraram na mira da polícia com a prisão do ex-jogador Roni, já solto, acusado de adulterar borderôs para pagar menos impostos -- a investigação não aponta qualquer ligação dos gestores do estádio ou clubes nas acusações. O Mané Garrincha foi o estádio mais caro da Copa-2014 -- custou mais de R$ 1,4 bilhão -- e há investigações para averiguar se houve superfaturamento, que envolveria políticos e funcionários de construtoras.

Segundo a secretaria de esportes e lazer do Distrito Federal mensalmente os gastos de manutenção podem chegar a R$ 700 mil e que as receitas não passam, em alguns meses, dos R$ 50 mil -- a arrecadação entre janeiro e abril foi de R$ 232 mil no total. Em dias de semana normais, como nesta terça (4) véspera do amistoso, o setor de estacionamento do estádio se divide entre servir de pátio para empresas de ônibus de linhas regulares e de pista de teste para autoescolas. Há ainda a esperança de que seja feita uma concessão no futuro