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Autor de 862 gols, Cláudio Adão diz que racismo impediu planos no futebol

Cláudio Adão iniciou a carreira no Santos, em 1973, ao lado de Pelé e Edu -
Cláudio Adão iniciou a carreira no Santos, em 1973, ao lado de Pelé e Edu

Diego Salgado e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

07/04/2019 04h00

Por mais de duas décadas, Cláudio Adão mostrou faro de gols apurado e a capacidade de se adequar aos mais variados clubes. Autor de 862 gols na carreira e jogador de 27 times, o ex-centroavante disse em entrevista ao UOL Esporte que o racismo atrapalhou os planos de se tornar técnico de futebol.

A situação adversa foi escancarada ainda nos tempos de atleta, por meio do ex-jogador Didi, que encontrou, ele próprio, empecilhos no caminho. "Ele me dizia que seria complicado dar continuidade à carreira. Ele me falou que racismo estava atrapalhando os treinadores negros no futebol brasileiro", disse Cláudio Adão.

Bicampeão mundial com a seleção brasileira em 1958 e 1962, Didi pendurou as chuteiras em 1966 e iniciou a trajetória de treinador no futebol peruano. No Mundial de 1970, o ex-meio-campista dirigiu a seleção nacional daquele país. Somente dali a cinco anos, após passagens por River Plate-ARG e Fenerbahçe-TUR, ele teve uma chance de treinar uma equipe grande do Brasil, o Fluminense.

Cláudio Adão disse que só a partir de então passou a perceber que faltavam oportunidades aos treinadores negros. "A culpa está dentro dos clubes, que precisam ter essa consciência", frisou o jogador de 63 anos que vive hoje no Rio de Janeiro e teve breves trabalhos como treinador no Volta Redonda, em 2006, e no Mixto, de Cuiabá, em 2013.

Cigano da bola na carreira de 24 anos

Cláudio Adão - Reprodução - Reprodução
Cláudio Adão em sua segunda passagem pelo Vasco, em 1985, ao lado de Roberto Dinamite
Imagem: Reprodução

Cláudio Adão é natural de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, mas começou a carreira no Santos, depois de, aos dez anos, participar de um campeonato na cidade durante as férias. Ele estava na casa de um primo. Aos 17, estreou no time profissional, ao lado de Pelé, já na sua última temporada na Vila Belmiro.

"Eu fiz bastante, mas ele fazia muito mais", respondeu sobre quem marcou mais gols. "Ele é o gênio, eu vivi com ele bons momentos na concentração, treinando com o Rei, jogando com ele. Não existe ninguém igual", disse o ex-centroavante, que foi chamado de "sucessor de Pelé" no começo da década de 1970.

Uma fratura grave na perna, porém, esfriou a ascensão de Cláudio Adão. Ele ficou dois anos parado e, em seguida, acertou com o Flamengo. Começava ali a peregrinação de um dos jogadores mais rodados do futebol brasileiro, incluindo todos os grandes do Rio, além de Corinthians, Cruzeiro, Bahia, Portuguesa, Bangu, Santa Cruz, Ceará e Benfica.

Adão - Francisco Cepeda e Léo Franco/AgNews - Francisco Cepeda e Léo Franco/AgNews
Cláudio Adão tem hoje 63 anos e acompanha os filhos no esporte
Imagem: Francisco Cepeda e Léo Franco/AgNews

"Eu faria tudo de novo, não mudaria nada. Foi uma bela experiencia, tive sorte e fui artilheiro em todos eles. Isso é muito importante numa posição que é muito difícil", ressaltou Adão, que, segundo suas contas, ficou a apenas 138 gols do milésimo tento.

Faltou a seleção

Vinte e três anos depois de encerrar a carreira, Adão ainda sente um gosto amargo por nunca ter participado de uma Copa do Mundo. De acordo com sua avaliação, a maior chance era ter sido chamado por Cláudio Coutinho em 1978 ou Telê Santana em 1982.

Na primeira oportunidade, a lesão na perna atrapalhou os planos. Quatro anos depois, Cláudio Adão foi preterido por Serginho Chulapa e Roberto Dinamite.

"Sempre fica aquela mágoa. Eu sempre fui um artilheiro importante do Brasil. Tinha consciência disso tudo e não fui convocado para nenhum amistoso da seleção brasileira. Fui campeão pré-olímpico, pan-americano. Depois que eu quebrei a perna, os caras não me convocaram para nenhum jogo. É esquisito".

Um dos jogadores mais icônicos do futebol brasileiro agora acompanha os filhos no esporte. Camilla Adão é jogadora de vôlei no Rio de Janeiro. Já Felipe Adão é atleta do Bangu. Ele também é centroavante e, aos 33 anos, defende o time que busca uma vaga na final do Campeonato Carioca diante do Vasco no próximo domingo (7). "A dominada de bola no peito dele é muito parecida como a que eu fazia", disse o pai, orgulhoso.