Árbitro Fifa é punido por 30 dias pelo TJD-PB. Polícia crê em armação
O árbitro carioca Wagner do Nascimento Magalhães, um dos dez profissionais brasileiros que possuem a chancela da Fifa em 2018, está impedido de exercer a sua profissão desde o começo do mês. Ele foi punido por 30 dias pelo Tribunal de Justiça Desportiva de Futebol da Paraíba (TJDF-PB) por conta de uma suposta omissão na súmula do jogo entre Treze e Botafogo-PB, pelas semifinais do Campeonato Paraibano 2018, realizado em 1º de abril, no estádio Amigão.
Em decisão do dia 9 de maio, o Tribunal da Paraíba informou que a 3ª Comissão Disciplinar, por unanimidade, acatou a Denúncia da Procuradoria, e por maioria aplicou a pena de suspensão ao denunciado por 30 dias’. Wagner Magalhães foi enquadrado no art. 266 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD) – deixar de relatar as ocorrências disciplinares da partida.
A pedido do Ministério Público, a partida no estádio Amigão, em Campina Grande (PB), foi realizada apenas com torcida do Treze-PB. Durante o segundo tempo, torcedores iniciaram uma confusão nas arquibancadas (veja vídeo abaixo) que só foi controlada depois que a Polícia Militar interveio e usou bombas de efeito moral. Alguns – entre eles um pai com o filho – chegaram a entrar em campo (na beira do gramado) para fugir da confusão. Tal incidente, porém, não foi relatado na súmula por Wagner Magalhães, que alega não ter visto o ocorrido por estar concentrado na partida.
Porém, investigações da Polícia Civil e do Ministério Público da Paraíba – em mais um episódio da Operação Cartola, que averigua um esquema de corrupção no futebol do Estado – sugerem que Wagner Magalhães acabou suspenso ‘por tabela’, uma vez que o Tribunal queria punir o Treze depois de o clube acusar a Federação Paraibana de Futebol (FPF) de ajudar o Botafogo. E, de fato, o Treze acabou punido neste mesmo julgamento, com perda de três mandos de campo.
Entenda o começo da história
Rivais dentro de campo, Botafogo-PB e Treze-PB travaram uma briga política fora dos gramados antes das semifinais do Estadual. Classificado em primeiro de seu grupo, o Treze avançou de forma direta às semifinais, enquanto o Botafogo ainda precisou passar pelo Sousa nas quartas. Desta forma, o Treze entraria mais descansado na partida, o que fez o Botafogo – maior favorecido pela FPF, segundo a própria Polícia – armar um esquema para ganhar tempo.
O Botafogo-PB entrou com um pedido para adiar as semifinais, alegando que teria o direito da vantagem no confronto contra o Treze por ter a melhor campanha geral da competição. O rival, por sua vez, jogaria pelo empate e mandaria o segundo jogo por ter sido o primeiro da sua chave na primeira fase. O pedido do Botafogo foi atendido e, assim, a primeira partida da semi, inicialmente marcada para o dia 18 de março, aconteceu apenas uma semana depois, dia 25.
Para completar: após a FPF acatar decisão do TJDF-PB e adiar a partida, o advogado do Treze alegou que não conseguiu ter acesso ao processo pois o presidente do TJDF-PB, Lionaldo Santos, entregou o despacho ao secretário do tribunal, mas não devolveu o processo. Depois disso, o Treze pediu o afastamento de Lionaldo e soltou uma nota de repúdio detonando a FPF pelo adiamento.
"Vamos lascar o Treze", diz membro do TJD
Escutas telefônicas as quais o UOL Esporte teve acesso, realizadas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público, sugerem que o presidente do TJDF-PB, Lionaldo Santos, e o procurador-geral do TJDF-PB, Marinaldo Roberto, armaram para o Treze-PB ser punido nos tribunais – prejudicando assim Wagner Magalhães. Na primeira conversa, um dia após o jogo (2), os dois comentam sobre a briga nas arquibancadas e falam em ‘lascar o Treze’. “Bote para mim”, pede Marinaldo.
Em seguida, ainda no mesmo dia, Lionaldo entra em contato com José Araújo da Penha, que foi o delegado da partida, e pergunta se a confusão na arquibancada e a presença de um pai com uma criança se dirigindo à ambulância, no entorno do campo, foram relatadas na súmula. Araújo diz que não ‘porque não interferiu no jogo’. Lionaldo, pede, então, que lhe mande a súmula com urgência. Horas depois, Lionaldo volta a falar com Marinaldo e eles falam em ‘pedir as imagens’ do jogo.
Em outro papo por telefone, já no dia 16 de abril, uma segunda-feira, Lionaldo e Marinaldo comentam sobre matéria veiculada no programa Fantástico, da TV Globo, no dia anterior, em relação à Operação Cartola. Eles comemoram o fato de o tribunal não ter sido citado na reportagem e, então, Marinaldo diz que vai começar a agir ‘para não ficar feio’, uma vez que eles vinham sendo questionados por não terem processos para julgar. “Vou denunciar”, afirma.
Relatório da partida pode ter sido adulterado
De acordo com as investigações da Polícia Civil, o relatório da partida feito por Araújo (um dos alvos da Operação Cartola e citado em outros casos) pode ter sido adulterado. Neste caso, o árbitro Wagner Magalhães seria considerado culpado por não ter destacado na súmula algo que o delegado da partida havia informado – neste caso, os incidentes ocorridos na arquibancada.
“O árbitro é surpreendido com a denúncia feita no Tribunal de Justiça, e nela diz que o delegado da partida tinha colocado esse tumulto no relatório, e que o árbitro não teria colocado. De fato, se isso tivesse acontecido, ele [Wagner] teria que ser punido. Mas não foi isso que aconteceu. Pela investigação, o delegado da partida não colocou no relatório, motivo pelo qual o árbitro não colocou na súmula. E aí, depois, o relatório dele deve ter sido adulterado, ele fez outro relatório colocando essa informação, e além de punir o Treze, puniram também o árbitro”, disse uma fonte da Polícia ouvida pelo UOL Esporte.
Essa possível manipulação do relatório, inclusive, está anexada na defesa feita pela advogada Ester Freitas, que representa o árbitro nos tribunais. “Isso consta em nosso recurso”, disse em entrevista ao UOL Esporte. “Quando o árbitro vê ou é informado, ele deve relatar. O Wagner não viu [a confusão] e nem foi informado”, acrescentou a advogada, contando ainda qual foi a justificativa do Tribunal de Justiça da Paraíba para punir o árbitro com 30 dias de suspensão.
“Eles disseram que era impossível não ver”, disse. “Problemas na torcida são resolvidos pela Polícia. E, se ninguém falar com ele, como ele vai parar ou relatar?”, questionou a advogada, informando ainda que o delegado da partida não passou nenhuma informação sobre a confusão a Wagner Magalhães.
Sem apitar, árbitro aguarda resposta do recurso
Com as imagens dos incidentes em mãos, a Procuradoria ofereceu a denúncia ao TJDF-PB, que, além de punir o Treze com três perdas de mando, ainda julgou Wagner Magalhães culpado e o puniu com 30 dias de suspensão, contados a partir do dia 10 de maio.
Wagner Magalhães comandou a partida entre Internacional e Cruzeiro, no Beira-Rio, pela terceira rodada do Campeonato Brasileiro, no dia 29 de abril, e desde então está sem apitar por conta da decisão do Tribunal. Ele aguarda o resultado do recurso do julgamento em segunda instância, que será realizado pelo Pleno do TJDF-PB. “Falei com o tribunal hoje e estão aguardando a volta do processo da Procuradoria”, informou a advogada do árbitro.
O Treze-PB, através de sua assessoria de imprensa, também informou que irá recorrer da decisão – que só vale para o Campeonato Paraibano. Na Série D, o time não sofre prejuízo.
Marinaldo se defende: “sempre agirei com rigor”
Procurado pelo UOL Esporte, Marinaldo alega que apenas fez a Lionaldo uma exigência para que o Treze fosse denunciado com rigor, uma vez que ‘as imagens eram graves e a súmula ainda não havia chegado ao Tribunal’. Já Lionaldo e Araújo não foram encontrados pela reportagem.
“Nunca recebi pressões de ninguém para atuar como procurador. A minha obrigação como procurador é denunciar qualquer infrator, como sempre fiz nos processos em que atuei. Toda infração disciplinar que chegou ao meu conhecimento eu agi com rigor porque é essa a minha atribuição. Com relação ao áudio de minha fala com o Presidente Lionaldo diz respeito a uma exigência minha como procurador, para denunciar o Treze com rigor, porque as imagens que me foram enviadas eram graves e a súmula da partida ainda não havia chegado ao Tribunal. Eu fui eleito por 9 auditores do Tribunal pleno e não devo satisfações a ninguém para me pressionar. Enquanto eu estiver no TDJ agirei com rigor, evidentemente sempre atento ao Código Brasileiro de Justiça Desportiva”, defendeu-se Marinaldo, que ainda justificou a punição ao árbitro: “O árbitro viu toda confusão, estava de frente para a arquibancada e nada relatou na súmula”.
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