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Goleiros acusam venda de jogo do Barueri na A3 em SP; Empresário rebate

Partida (foto) entre Grêmio Barueri e Rio Preto teria sido alvo de manipulação de resultados - Divulgação/Rio Preto
Partida (foto) entre Grêmio Barueri e Rio Preto teria sido alvo de manipulação de resultados Imagem: Divulgação/Rio Preto

Brunno Carvalho, Bruno Thadeu e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

08/03/2016 06h00

A Série A3 do Campeonato Paulista atraiu a atenção depois da acusação de manipulação de resultado em uma partida envolvendo o Grêmio Barueri. Jogadores do clube afirmam terem sido pressionados a perder propositalmente por mais de três gols para o Rio Preto, pela quarta rodada da competição – o duelo terminou em revés por 4 a 0.

A denúncia surgiu em uma matéria do jornal “Diário de S. Paulo” no último sábado (5) e foi endossada ao UOL Esporte pelos goleiros Victor e Ricardo Luiz. O primeiro foi titular na partida realizada no dia 11 de fevereiro, em São José do Rio Preto.

O grupo de jogadores teria sido pressionado por Jaci Martino de Oliveira, o “Dido”, e Matheus Soares dos Reis, ambos investidores do Barueri no começo do ano – os dois não fazem mais parte do quadro do clube. A proposta teria vindo de um apostador chinês e repassada ao elenco pela dupla.

“Eles me procuraram em Cotia um dia antes do jogo. Chamaram-me e falaram que a gente precisava perder a partida para ganhar dinheiro e poder investir no time. Ofereceram R$ 1 mil, depois subiram para R$ 2 mil. Falei: ‘vocês podem colocar R$ 1 milhão que não vou aceitar. Dinheiro nenhum vai comprar meu sonho’”, explicou Victor.

Atual titular do gol do Barueri, Ricardo Luiz afirma que Victor era pressionado durante a partida por Dido e Matheus para levar os gols necessários para que o resultado planejado fosse alcançado. “Ele fazia uma defesa e era xingado pelo Matheus (Reis), pelo Dido e mais um, três safados. Eles chegaram com uma mala cheia de euros em Cotia (local do Centro de Treinamento do Barueri), que vinha dos chineses”.

O quarto tento do Rio Preto saiu apenas aos 36 minutos do segundo tempo, com Washington. O atacante converteu pênalti cometido por Gustavo Martino, filho de Dido. Esse foi o último jogo de Gustavo pela equipe, que não faz mais parte do elenco.

“Eu quis partir para cima do Gustavo, mas os caras me seguraram. Ouvi vindo de fora do campo: ‘rela pelo menos uma mão no Gustavo que aqui fora a gente resolve de outro jeito’”, relembrou Victor.

Em apuração feita pelo UOL Esporte, representantes da arbitragem da partida, que pediram anonimato, afirmaram terem estranhado a forma como foi feito o pênalti. Eles, no entanto, acreditaram que a penalidade havia acontecido mais por uma revolta pela forma como a equipe vinha sendo derrotada do que por qualquer outro motivo.

Presente na primeira divisão do Campeonato Brasileiro em 2009 e 2010, o Grêmio Barueri ocupa a lanterna da atual edição  da Série A3 do Campeonato Paulista, com nenhum ponto conquistado. Em 11 jogos, o time perdeu todos e levou 50 gols, tendo um saldo de -47.

Ex-investidor nega acusação de manipulação de resultados

Jaci Martino de Oliveira, o “Dido”, afirma ser “absurdo e sem lógica” a acusação dos jogadores de manipulação da partida contra o Rio Preto. “O time perdeu todos os jogos, de onde tiraram esse negócio de venda de resultado?”, questionou. “Não dá para entender de onde veio essa história de manipulação. Eu só gastei dinheiro nessa porcaria. Meu intuito era colocar meu filho (Gustavo) para jogar, mas só jogou uma partida. Não dava para ele ficar nesse rolo, os meninos não iam receber salário”.

Dido diz ter sido enganado junto com seu sócio, Matheus Soares dos Reis, por membros da diretoria do Barueri. De acordo com ele, o dinheiro dado pela dupla para a inscrição de seus atletas no Campeonato Paulista não foi usado para esse fim. “Eles inscreveram apenas o pessoal deles. Não concordei com isso e saí”. Na primeira rodada da Série A do Paulista, o Barueri perdeu por W.O. para o Primavera – a equipe não havia inscrito nenhum atleta no torneio.

A parceria entre o Barueri e Dido e Matheus Soares dos Reis foi rompida em 13 de fevereiro, dois dias depois da polêmica partida contra o Rio Preto. Na nota oficial na ocasião, o clube se limitou a dizer que o motivo havia sido “a quebra de contrato por parte dos investidores”.

“Eles pegam trouxas iguais a nós para iniciar os trabalhos, pagar alimentação etc., mas na hora de inscrever para o campeonato, eles inscrevem apenas o pessoal deles”, acusou Dido. “Depois entendi que fizeram isso por causa da verba da Federação (Paulista de Futebol), que estava bloqueada devido a processos trabalhistas. Fiquei sabendo que agora ela foi liberada”.

Com a saída dos antigos investidores, o Barueri foi vendido a um novo grupo, encabeçado por Rafael Duarte, de 32 anos, e mais três sócios. O novo presidente estima que a dívida do clube gire em torno de R$ 6 milhões.

“Vamos chamar as pessoas e os jogadores que entraram na Justiça para fazer acordo”, afirmou. “O Barueri estava na mão de um bando, não tinha dono. Agora, todas as pessoas vão sair. Na nossa filosofia, essas pessoas não se enquadram. A gente não pega dinheiro de pai de jogador nem de empresário de atleta”.

Concretizada a chegada do novo grupo no comando do Barueri, deixam a direção Alberto Ferrari (antigo dono), Jackson da Silva (presidente do Barueri) e Narciso Fernandes (vice-presidente).

Acusação faz Sindicato dos Atletas denunciar à Polícia Federal e Interpol

O presidente do Sindicato dos Atletas, Rinaldo Martorelli, afirmou que pedirá à Polícia Federal e à Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) a investigação sobre a possível manipulação de resultado na partida entre Grêmio Barueri e Rio Preto.

"Estou seguindo uma informação que se tornou pública, estou tocando em frente, estou fazendo aquilo que me cabe", afirmou. "Estou relacionando (as acusações) à vulnerabilidade desses clubes. Pelo fato de estarem desestruturados, são mais assediados".

"Soltaram isso (denúncia dos jogadores do Barueri) na semana passada e não houve retratação (dos acusados). Quero crer que (a manipulação de resultados) chegou ao futebol brasileiro, então. Conheço a história de como isso acontece em âmbito internacional e não imaginava que isso chegaria aqui, mas chegou", completou Martorelli, que disse à “Rádio Globo” que esses esquemas teriam ligação com casas de apostas na Ásia.