Como corte polêmico do goleiro fragiliza Camarões para enfrentar o Brasil

No meio da Copa do Mundo, Camarões perdeu o seu goleiro Onana — um dos principais jogadores do time — que foi cortado por uma divergência com o técnico Rigobert Song. O desentendimento tem como pano de fundo uma questão técnica e tática. Assim, a seleção brasileira enfrentará um time africano diferente do início da competição.

Mas quais são as mudanças em Camarões com a troca de Onana por Epissy no gol? Como o Brasil pode aproveitar as fragilidades surgidas pela alteração?

Relacionadas

Área VIP da Copa tem camarão e open bar de espumante, mas custa R$ 5 mil

Messi e o milanesa argentino vão acabar me fazendo virar a casaca na Copa

Preço de custo assusta e tabelinha de papel da Copa some do comércio

Estrela da Inter de Milão, Onana teve uma formação nas categorias de base do Barcelona e se desenvolveu no Ajax. Em ambos os times, foi ensinado a ser um goleiro moderno, jogando com os pés. Ele sai bastante do gol e às vezes até assume a saída de bola.

Song entendia que essa característica era exagerada. Pediu que passasse a usar mais bolas longas em vez de sair todas por baixo — a saidinha como chamamos no Brasil. O goleiro não concordou e há uma versão de que tenha até pedido a substituição de um dos zagueiros para melhorar a saída de bola. A divergência se acentuou e Song o afastou, e depois cortou.

Diante da Sérvia, foi escalado Epassy. Ele disse que não recebeu instruções especiais de Song. Porém, o goleiro tem característica bem diferentes do titular: e começou a bater bolas longas para frente até porque tem bem menos técnica para jogar com os pés.

Assim, a seleção tem a chance de marcar mais avançada e forçar ainda mais as saídas longas de Epassy. Com isso, vai recuperar com rapidez a bola e aumentar a posse durante o jogo. Sem ter a bola, Camarões poderá ser mais pressionado pelo Brasil, pois terá menos posse.

Além disso, Epassy é inferior debaixo dos gols em relação ao titular. Enquanto Onana é da Inter de Milão, ele atua no Abha Club, time da Arábia Saudita. Contra a Sérvia, aceitou um chute de Milinkovic-Savic de fora da área, em bola defensável.

Além disso, Camarões têm dificuldade de organização quando se defende, especialmente em jogadas pelas laterais, forte do Brasil com Antony e Gabriel Martinelli. A Suíça marcou um gol com passe fácil de Shaquiri para Embolo, a Sérvia entrou tocando sem ser pressionada.

A qualidade camaronesa é a recuperação de bola no meio de campo para saída rápida com os atacantes Ekambi e Choupo-Monting, e possivelmente Aboubakar. Ainda não está claro que o técnico Song vai alterar a escalação para incluir esse último atacante que marcou um gol belíssimo encobrindo o goleiro sérvio.

"Em relação ao jogo, sabemos (da força) do Brasil. Não estamos preocupados com o que o Brasil levará para o jogo e, sim com o que nós vamos levar para o jogo. Estão classificados, nós não. São um grande time, mas não vamos pensar em como vão jogar, e sim como nós vamos", disse Song.

Uma característica de Camarões, além da parte tática, é a imprevisibilidade do time. É comum a equipe perder a concentração e ter momentos de apagão. O próprio Song, como jogador, tem um momento emblemático atuando contra o Brasil em que deu uma entrada dura, foi expulso e proporcionou uma vitória fácil para a seleção.

"Essa memória? Jogar a Copa é a vontade de toda criança. Eu tinha 17 anos, fui escalado para jogar, eles (Brasil) eram um dos melhores times da época. Não tive tempo de jogar contra um time daquele nível, fiz o que pude. Tentei me impor. Não sabia que havia regra para seguir. Me permitiu ser mais maduro como jogador. É uma mensagem que passo para meus jogadores, eles têm que lutar", analisou Song.

Essa instabilidade foi vista diante da Sérvia. O time tomou três gols em que deu enormes espaços para o time europeu. Depois disso, recuperou-se de forma surpreendente, encaixou contra-ataques e empatou a partida.

"Tem que haver compromisso, concentração. Em uma Copa, você pode ser punido, por isso precisa ficar concentrado por 90 minutos. Todo segundo é o primeiro", reconheceu Song.

Cabe ao Brasil tentar aproveitar os momentos certos do jogo nesta montanha-russa que é o time de Camarões.