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Kléber, chute na lixeira e eleições: o que leva o Coxa a ser vice-lanterna?

Jogadores conversam contra o Botafogo: ambiente político tumultuado - Divulgação
Jogadores conversam contra o Botafogo: ambiente político tumultuado Imagem: Divulgação

Napoleão de Almeida

Colaboração para o UOL

27/09/2017 04h00

A má fase no Coritiba tem várias origens, nem todas elas palpáveis como a lesão e ausência de Kléber Gladiador por 14 dos 25 jogos da equipe até aqui. Nos corredores do Couto Pereira, o temor de uma queda para a Série B após 7 anos fez com que o clube buscasse o técnico Marcelo Oliveira como solução, num investimento alto para os padrões do clube, mas mesmo assim não afastou problemas rotineiros na direção coxa-branca, com o desencontro de filosofias e o isolamento de lideranças. Até mesmo um episódio involuntário de desabafo tomou proporções maiores em reunião do conselho do clube, que vive a turbulência de um ano eleitoral.

O UOL Esporte ouviu alguns personagens do dia a dia do clube na última quinzena e traz um retrato do momento do Coxa, que dos últimos 60 pontos que disputou (20 jogos) somou apenas 25% deles (15, com três vitórias) e já está há seis jogos sem vitória.

Apostas altas não deram resultado

O Coritiba afirma que todos os vencimentos estão em dia e que o problema dos resultados não é falta de salários. O clube investiu alto no futebol: comprou o meia Matheus Galdezani por cerca de R$ 3 milhões e paga salários acima da média do próprio clube para Kléber e o técnico Marcelo Oliveira, além de dividir salários com o Inter para outro grande nome, o meia Anderson.

As apostas, porém, não deram certo. Kléber esteve suspenso ao todo por 13 jogos e ainda passou por uma cirurgia no joelho, o que deve afastá-lo até meados de outubro. Anderson disputou somente nove partidas do Brasileirão até aqui, sofrendo com lesões. Galdezani é frequente como titular, mas desde o gol contra o Palmeiras, ainda no primeiro turno, não repete as boas atuações do Estadual.

Foram as atuações no Paranaense, em especial no 3 a 0 sobre o Atlético-PR no primeiro jogo da final, que jogaram nas alturas a expectativa por uma boa campanha, a ponto do presidente Rogério Bacellar chegar a falar que o time poderia brigar pelo título. Mesmo depois de trocar Carpegiani por Pachequinho, e este por Marcelo Oliveira, o elenco não rendeu.

O experimentado Marcelo Oliveira também tem um rendimento abaixo da expectativa. Em nove jogos no comando do Coritiba nessa segunda passagem pelo clube, conquistou apenas duas vitórias e dois empates. Após a derrota para o Botafogo em casa, Marcelo ficou em reunião com a diretoria de futebol até o início da madrugada, traçando um planejamento para os próximos jogos, com a ideia de readequar a realidade do clube.

Comando à distância

O presidente Rogério Bacellar acumula a responsabilidade de presidir o Coritiba com as presidências da Anoreg (Associação dos Notários e Registradores do Brasil) e da Febranor (Federação Brasileira de Notários e Registradores). Os cargos ligados aos cartorários o mantém dando expediente em Brasília a maior parte do tempo. Bacellar quase não está em Curitiba, habitualmente retornando nos finais de semana.

Para suprir essa falta, o presidente elencou três nomes de confiança: Fernando Cabral, um executivo que flutua entre as diretorias, Juliano Belletti, o responsável pela área de marketing e comunicação e Alex Brasil, o gerente de futebol. Brasil e Belletti se comunicam quase todo o tempo, mas com Cabral a relação é nublada.

Foi Cabral quem organizou a chegada de dois reforços de origem duvidosa em 2016 e que quase renderam uma grande dor de cabeça ao clube, que poderia ter sido usado como ponte apenas para interesses financeiros, em manobra denunciada no UOL Esporte. Ali gerou-se o primeiro conflito com Alex Brasil, que tratou de afastar os jogadores do clube. Cabral chegou a ser denunciado no Conselho Deliberativo do clube, mas seguiu firme com o aval de Bacellar.

Após a sequência ruim no Brasileirão, a mira se virou contra o gerente de futebol Alex Brasil. Em reunião do Conselho Deliberativo nessa semana, os conselheiros pediram a demissão do gerente alegando um episódio na derrota para o Botafogo. Na ocasião do terceiro gol carioca, Brasil chutou uma lixeira de papelão, em desabafo. O objeto passou pela janela do camarote e quase atingiu um torcedor, que gravou um vídeo reclamando nas redes sociais. Brasil se retratou com a diretoria e procurou o torcedor em questão para se desculpar pelo ato intempestivo.

Ano eleitoral divide direção

É sabido que Bacellar não concorrerá à reeleição no Coxa. Na chapa de situação, ninguém ainda se manifestou como interessado. Vice-presidente ligado ao projeto de um estádio novo para o clube, Alceni Guerra descarta a possibilidade; da mesma forma, Ernesto Pedroso, dirigente histórico do Coxa e apontado como possível nome da situação, também negou ao UOL Esporte que sairá como candidato.

Não só isso: o comando do futebol é informal. Pedroso, liderança ligada à direção de futebol do clube e responsável por muitas decisões, não tem cargo oficial no Coritiba. Ele era do G5, o grupo administrativo, mas acabou se afastando em um rompimento com apoiadores da chapa de Bacellar como os ex-diretores Ricardo Guerra e André Macias, ainda em 2015. Voltou a pedido de Bacellar para ajudar na direção de futebol. Pedroso não quis conversar com a reportagem, mas fez eco com a nota publicada nesta semana, e afirmou que o clube irá preservar o técnico Marcelo Oliveira. Também fez elogios ao trabalho de Alex Brasil. Procurado, Brasil evitou comentar a pressão. “Estou fazendo meu trabalho. Eu entendo o lado político, que tem aproveitadores, mas me entristece”, disse sem se alongar.