Ex-presidente quer poder para Luxa e dívidas ignoradas contra queda do Fla
Presidente do Flamengo entre 1995 e 1998. Vice de futebol de 2005 a 2009. Radialista, empresário e acima de tudo um apaixonado pelo Rubro-negro da Gávea. Este é Kleber Leite. O ex-dirigente andava discreto, mas reapareceu nas últimas semanas ao inaugurar conta no Twitter e lançar um Blog. Tudo em meio ao momento dramático do time na luta contra o rebaixamento no Campeonato Brasileiro.
Kleber recebeu a reportagem do UOL Esporte no escritório da empresa Klefer e mostrou descontentamento com a crise causada pela lanterna na tabela de classificação. O ex-mandatário falou sobre temas polêmicos e cobrou ação dos cartolas para evitar a inédita queda de divisão na história do Flamengo. Ele sugeriu plenos poderes ao técnico Vanderlei Luxemburgo e que a política de austeridade seja colocada de lado pela manutenção na elite do futebol brasileiro.
Confira a íntegra da entrevista:
UOL Esporte: Você elogiou a contratação do técnico Vanderlei Luxemburgo em seu Blog, mas por vezes mostrou preocupação. Pode explicar?
Kleber Leite: Me parece que acontece com o Vanderlei a mesma coisa que houve com o Ney Franco. O elenco do Flamengo é absolutamente carente. Se não encontrar alternativas e contratar caras novas, não sai do lugar. Não sei se o Ney acreditou que poderia resolver e fazer omeletes com os ovos que encontrou lá. Só existe um que daria jeito no time sem problema. É Jesus Cristo descer e colocar a mão na cabeça do Mugni [meia argentino rubro-negro] para que jogue bola, o que não fez até agora.
UOL Esporte: Qual a solução para um desfecho diferente? O que espera do Vanderlei?
Kleber Leite: Ele caiu do céu no momento do Flamengo. Há uma carência de atitude e alguém precisa mandar. O Vanderlei é treinador, mas adora uma cadeira de diretor. Isso não é uma crítica. É bom que seja assim na atual fase. Está mais do que na hora de exercitar a questão. Vai esperar quanto tempo? Esperar cair? Ele precisa colocar o bastão na mesa, deixar claro que não dá para continuar desse jeito e ir ao mercado. Ainda dá tempo. Tomara que já esteja fazendo isso. O Flamengo necessita de chegadas expressivas.
UOL Esporte: A diretoria prega a política de austeridade quando questionada sobre a dificuldade em contratar. É comum ouvir críticas aos comandos anteriores. Gosta da forma como trabalham?
Kleber Leite: Não houve quem assumiu o Flamengo e não carregou um pedaço do passado. Isso vai continuar por maior que seja o esforço para ajustar as coisas. O mérito deste grupo foi a retomada da dignidade. Reconheço que isso não tem preço. Mas não se iludam. Algumas coisas que fizeram ou deixaram de fazer vão representar problemas na frente. O Flamengo nunca teve dinheiro. As coisas acontecem de forma criativa. Foi o Francisco Horta [ex-presidente do Fluminense] que ensinou. Ele inventou a troca de jogadores. É possível fazer com talento, criatividade, vontade e quando se conhece um pouquinho da coisa... Quando você assume um clube com o peso do Flamengo sabe o compromisso enorme com a massa. A torcida não quer saber de historinha. Não interessa. O torcedor quer resultado. Há clubes em que o calo aperta de uma maneira, mas aqui aperta de outra. O imediatismo faz parte da instituição. O ontem é palavra de ordem e sempre será assim.
UOL Esporte: A gestão do presidente Eduardo Bandeira de Mello assumiu o clube com o compromisso de pagar dívidas. E se o resultado do futebol não acompanhar? Uma possível queda para a Segunda Divisão compromete em quanto o processo?
Kleber Leite: Pagar dívida e cair não adianta nada. É melhor dever e não cair. Paga depois. É uma piada pensar assim. Se o Flamengo cair, sugiro que eles se mudem do Brasil. Na história do clube não existe vergonha maior do que essa. Se acontecer, a porca vai torcer o rabo. Existe um lado positivo no trabalho sério para o equilíbrio financeiro. Mas é o momento de alguém acordar e entender que na vida qualquer radicalismo não é inteligente. O sucesso é o equilíbrio. Não adianta falar que consertou o clube e caiu para a segunda divisão. Não consertou nada. Que conserto é esse? Afundou, isso sim. Pode soltar um pouquinho. Tem que negociar no mercado. O Nilmar dando sopa, o Robinho estava, um monte de jogadores... Qualquer um deles é melhor do que o ataque do Flamengo inteiro e ainda somando juniores, juvenil, infantil e mirim. Por que não tentar falar com os caras? Tem que pegar um avião e ir conversar. Não adianta querer resolver por E-mail, WhatsApp, Internet. Só quem é Flamengo entende a importância de jamais cair.
UOL Esporte: Considera-se um opositor ao presidente Eduardo Bandeira de Mello e seus parceiros no momento?
Kleber Leite: Não sou opositor. Ao contrário. Quero que as coisas aconteçam. Não sou colaborador apenas porque não quiseram. Tenho algumas ideias divergentes. Não adianta ser perfeito no Flamengo com o futebol ruim. Isso não existe. Não há nada mais importante do que o futebol. O clube lutou cabeça a cabeça com o Fluminense para contratar o Conca. Aconteceram algumas coisas e o jogador preferiu trabalhar novamente com o Celso Barros. Os dois têm uma relação de confiança. O Fluminense estaria na Quinta Divisão se não fosse o Celso. Pagariam naquela época. Por que não gastar agora? São incoerências que não entendo. Perderam Conca, Emerson, Robinho... E o Flamengo não se manifesta. Dá para entender a filosofia deles, mas não a incoerência. Os rivais buscam soluções no futebol. Nós paramos.
UOL Esporte: Você não se considera um opositor. Mas possui alguma influência atualmente na diretoria do Flamengo?
Kleber Leite: Hoje não tenho influência. Mantenho uma relação por admiração com o BAP [Luiz Eduardo Baptista, vice-presidente de marketing], pois o considero um talento, um gênio. Gosto de ouvir pessoas inteligentes. Isso me fascina e extrapola a normalidade. Uma vez ou outra trocamos mensagens. Ele tem um trabalho gigantesco como empresário. É um cara com muito a contribuir ao Flamengo. O Flávio Godinho [ex-vice de relações externas] é da mesma espécie. Cosme e Damião caíram no Flamengo. Um já foi, outro ficou. Uma pena.
UOL Esporte: Muita gente diz que isso tudo envolve uma disputa política. Outra saída na diretoria foi a do Plínio Serpa Pinto. Por que aconteceu?
Kleber Leite: Esse é um dos raros casos na história do futebol em que vi alguém botar a mão no bolso, puxar dinheiro e colocar no clube. Só Plínio, Jorge Rodrigues e George Helal fizeram isso no Flamengo. O Plínio tem um enorme conhecimento de causa e já viveu bastante tempo no futebol. É um cara leve e de rejeição desprezível. O Flamengo perdeu uma oportunidade única de ter a sua colaboração. Não sei o motivo. Se por vaidade de alguém... Sei que algumas pessoas gostariam muito de tê-lo lá dentro, inclusive no futebol. O BAP é uma delas. É aquela história de pelada. Bom com bom, ruim com ruim. Os bons se entendem e falam a mesma língua. Alguma coisa aconteceu e o Plínio não foi colocado no tapete vermelho e preto. Puxaram o seu tapete. Nem foi o dele, puxaram o do Flamengo. Garanto que para começar o Elias continuaria no Flamengo. O Plínio montou um esquema com o clube português, estava tudo armado, mas não deixaram desenvolver.
UOL Esporte: Você recebe críticas de torcedores nas redes sociais pela dívida contraída após o acordo para a construção de um shopping na Gávea nos anos 90. Utilizou até o espaço do Blog para explicar o caso. A ação milionária complica a vida financeira do clube até os dias de hoje. Qual foi o erro?
Kleber Leite: As pessoas podem criticar. A questão da dívida do shopping está absolutamente documentada e postei no Blog. Não entendem é que um presidente de clube exerce o mandato pelo período. Só que a vida segue. Um problema entre 1995-1998 vai pipocar em 2001-2002. Jamais me chamaram para fazer a defesa. Não quiseram a minha ajuda. O Flamengo deveria ter acionado o shopping de maneira imediata em 1999, mas esperou 2002 para ser acionado na Justiça. Tudo foi invertido e não fizeram nada. Uma vergonha! Pega um escritório sério de advocacia, um peso-pesado e entrega o caso. Você acha que o jurídico do Flamengo, que muda a cada cinco minutos, resolve alguma coisa? É brincadeira! Como posso ser responsabilizado se não tenho o direito de me defender? Na época do Edmundo Santos Silva [ex-presidente] existia uma dinheirama da ISL e começaram a negociar com os caras, o que não tinham que ter feito. Todas as testemunhas estão aí. Gilberto Cardoso Filho está vivo, o ex-governador Garotinho também. Ninguém morreu. O Flamengo nunca fez nada. Era uma fortuna incalculável para ganhar nesse troço.
UOL Esporte: Ainda pensa em ter cargo no Flamengo? A candidatura para um novo mandato é possível?
Kleber Leite: A possibilidade de voltar a ter um cargo no Flamengo é zero. Não quero. O meu sofrimento é igual ao de qualquer torcedor. Meus domingos acabaram. O humor mudou. Se me chamassem para ajudar até o final do ano, aceitaria, apenas isso. Os caras confundem muito o profissionalismo. O que se prega é uma coisa, mas a realidade é outra. Já houve o caso de demitir treinador, contratar outro e o executivo do futebol não ser informado. Peço demissão na hora. É o amadorismo camuflado com todo o discurso do profissionalismo. São incapazes de se juntar, demitir e contratar.
UOL Esporte: Por que criou um Blog e se lançou nas redes sociais depois de tanto tempo afastado do jornalismo?
Kleber Leite: Quero interagir com as pessoas e passar o que penso. É muito parecido com o meu início no jornalismo. Foi muito tempo sem exercitar a função. Jogar um assunto no ar, acompanhar as polêmicas e os debates. Isso me completa. Não tem finalidade comercial ou política. Qualquer assunto é bom quando polêmico. Não tem sentido discutir com quem concorda. É importante ter sensibilidade para saber o que as pessoas querem debater no futebol. A intenção é a mesma.
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