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Sochi errou sobre atleta com tumor. E ele recebeu milhares de mensagens

Venezuelano Pardo Andretta mostrou otimismo e bom humor após se espatifar na neve em Sochi - Bruno Freitas/UOL
Venezuelano Pardo Andretta mostrou otimismo e bom humor após se espatifar na neve em Sochi Imagem: Bruno Freitas/UOL

Bruno Freitas

Do UOL, em Sochi (Rússia)

19/02/2014 11h15

Antonio José Pardo Andretta não consegue completar sua descida na prova do esqui slalom gigante em Sochi. Mesmo com um tombo feio no meio da montanha, chega com atraso à linha de chegada com um sorriso escancarado no rosto e acenando para o público. Afinal, segundo seu perfil oficial no site da Olimpíada, o atleta venezuelano superou um grave tumor na infância, é um vencedor na vida, independentemente de qualquer êxito esportivo. Mas tudo não passa de um erro crasso da organização dos Jogos de Inverno.

Pardo Andretta refuta a biografia de sofrimento assim que encontra os microfones na base da montanha de Rosa Khutor, na manhã desta quarta-feira:

"Completamente falso, não sei de onde tiraram isso. Me mandaram milhares de cartas, mensagens, fui procurado por vários repórteres. Não quero acrescentar lástima a minha história. Só gosto de transmitir a realidade".

O erro já não está mais lá, na página online, mas de qualquer forma fez sua bola de neve de mal-entendido. Segundo o site oficial de Sochi, Pardo Andretta retirou um tumor aos oito anos de idade e teve que reaprender a andar. Tudo errado. A informação equivocada foi confundida com a da biografia do esquiador paraolímpico Antonio Pardo Andrade, também venezuelano.

A história de Pardo Andretta é outra, menos novelística, mas com algum glamour. Ele é o fundador da confederação de esportes de neve da Venezuela e o primeiro atleta do país a competir em provas de esqui alpino. Antes, a nação de Hugo Chávez só havia tido representantes olímpicos no luge.

Nesta quarta, o esquiador de 43 anos literalmente provocou gargalhadas do público quando se espatifou na neve durante sua descida, em seguida esmurrando o chão em reação de desapontamento.

"Saiu uma das fixações do meu esqui, não pude fazer nada. Se tivesse sido culpa minha, mas foi algo técnico. Me deu muita raiva", explicou, sem perder o tom otimista.

"Minha experiência foi maravilhosa, por poder participar com os melhores do mundo neste cenário tão lindo. Hoje Deus nos acompanhou, nos deu um dia precioso, perfeito para competir. Creio que as condições estavam muito boas. Fiz todo o possível, infelizmente não pude ganhar a medalha de ouro", arrematou, com bom humor.

UM ALENTO PARA UMA VENEZUELA EM CRISE

Difícil para Pardo Andretta evitar comentários sobre a situação política atual de seu país, que vive dias de protestos tensos nas ruas, com direito a prisão de opositores do presidente Nicolás Maduro. Mesmo a milhares de quilômetros de distância, o veterano esquiador mostrou abatimento, mas disse se ver como uma espécie de alento otimista para seus compatriotas.

"Os Jogos Olímpicos acontecem a cada quatro anos, eu não escolho a data. Trabalhei muito duro para estar aqui. E tampouco estava previsto o que tem acontecido na Venezuela. Realmente eu não posso mudar a história do que acontece na Venezuela, mas daqui posso mandar uma mensagem de otimismo, dizer que os sonhos são possíveis. Tento transmitir alegria. Como dizem meus fãs no Twitter, sou uma boa notícia dentro de todas as más que eles têm", declarou.

Quando não está na neve como um semiamador, o atleta olímpico da Venezuela trabalha como corretor da bolsa. Nos últimos anos, com a situação complicada do país, Pardo Andretta tem mantido a rotina de passar metade do calendário na Suíça, nação de sua esposa.