Mata-mata da Copa do Brasil e Libertadores valoriza reta final da temporada

O velho ditado "ano novo, vida nova" não poder ser utilizado ao futebol brasileiro em 2021. Apesar de já estarmos num novo ano, a temporada 2020 ainda não terminou. Chegamos agora à reta final dos campeonatos e vamos conhecer nos próximos dois meses os campeões da Copa Libertadores, da Copa do Brasil e do Brasileirão.

Sei que a discussão não é nova. Mas o que é mais atrativo, pontos corridos ou mata-mata?

Fui campeão brasileiro duas vezes pelo Cruzeiro (2013 e 2014), mas, assim como inúmeros torcedores brasileiros, tenho um apreço pelos torneios de mata-mata. Gostamos do jogo que quem perder está fora, há mais emoção.

Sempre fui apaixonado pela Copa do Brasil e pela Libertadores. Consegui ser campeão duas vezes nas duas competições — por Grêmio e Cruzeiro no torneio nacional e com Internacional no continental.

O campeonato de pontos corridos é mais justo, premia a regularidade de uma temporada. Mas o futebol é um esporte de resultado, por isso que aponto o mata-mata como mais atrativo. Como bem falou o Renato Gaúcho recentemente, a alegria do futebol é ver o torcedor sair sorrindo, independentemente de quanto foi a posse de bola e quantos chutes a gol um time conseguiu.

Óbvio que todos querem ser campeões demonstrando um futebol vistoso, até o Íbis Sport Club gostaria de alcançar este feito. Ninguém abre mão disso, até o clube que joga fechado almeja isso. Mas nem sempre é possível.

No mundo de negócios do futebol o que realmente alegra o torcedor é o caneco na galeria de troféus que foi conquistado ao fim da competição, pois é o balanço positivo que é feito a cada fase dos torneios. O torcedor se sente mais atraído em ver o seu time de coração no mata-mata, mesmo que não esteja enfrentando um grande momento tecnicamente, pois existe a esperança de ultrapassar mais um estágio. Já os pontos corridos não proporcionam isso.

Ótimo que possamos ter as duas fórmulas, tanto os pontos corridos como o mata-mata. Mas na Copa do Brasil podemos ver o fraco batendo o mais forte, além de ela ter se tornado cada vez mais atrativa por causa da premiação. O valor total, somando todas as fases, pode chegar a R$ 72,8 milhões para o campeão, além de vaga na Libertadores e na Supercopa do Brasil de 2021.

Para reforçar, a Libertadores, que mescla as duas formas ao longo da competição, a Conmebol vai pagar US$ 22,5 milhões (cerca de R$ 115 milhões) ao campeão — contando as cotas de todas as fases.

Só para comparamos, o campeão do Brasileirão embolsará R$ 31,74 milhões, valor inferior ao que o Flamengo arrecadou pelo título de 2019 (R$ 33 milhões). Já para os demais participantes os valores diminuem de acordo com a posição da equipe. Se eu estivesse atualmente num clube, a minha prioridade seria a Copa do Brasil.

MARATONA NA RETA FINAL

Devido à pandemia da Covid-19 que paralisou o calendário das competições por cerca de quatro meses, a temporada 2020 foi atípica e se estendeu, como muitos já sabem. Por causa disso, não haverá a tradicional pausa entre as temporadas, uma vez que o próximo o calendário do futebol nacional terá início já em 27 de fevereiro — com a fase de grupos da Copa do Nordeste —, três dias depois da disputa da última rodada do Brasileirão que está em andamento. Não haverá tempo para respiro.

Os Estaduais começam em 28 de fevereiro, enquanto a fase preliminar da Libertadores terá início em fevereiro. Já março teremos a disputa da Supercopa do Brasil e as primeiras fases da Copa do Brasil e da Copa Sul-Americana.

Já havia escrito aqui neste espaço que alguns clubes encontrariam neste momento decisivo dificuldades por causa da maratona de jogos — ocasionando desgaste físico no elenco e sucessivas lesões — o staff seria determinante. É um momento singular porque os jogadores não estão acostumados no Brasil a decidir competições tão importantes no início de ano, e sim mais ao término dele.

Mas é ótimo perceber que os clubes conseguiram se adaptar. A origem do futebol é isso, de criatividade e capacidade de se reinventar. É um esporte que nasceu na rua com improviso. Os clubes que chegaram com chances de títulos na Copa do Brasil, Libertadores e Brasileirão viveram realmente o que é o futebol ao se reinventarem.

A grata surpresa nesta reta final de temporada é o Santos. Mesmo com toda turbulência política no clube, os vetos da Fifa para contratar jogadores e ainda mais pela juventude do grupo, conseguiu chegar à semifinal da Libertadores e perto do G-6 do Brasileirão. Em sã consciência, poucos apostariam que o Peixe estaria neste momento decidindo uma vaga na finalíssima com o Boca Juniors.

Este cenário de percalços é que nos desperta admiração, e não a capacidade do Cuca — que já tem um título do torneio sul-americano pelo Atlético-MG, em 2013. O treinador e o elenco santista conseguiram se esquivar do alvoroço dos bastidores na Vila Belmiro.

Já o Palmeiras é o único time que ainda está na briga pela tríplice coroa — pode até chegar a quatro títulos ao contabilizarmos também o Paulistão que já foi conquistado. Apesar de ter chances menores em relação aos líderes do Brasileirão, não podemos sacar o Alviverde na briga. O time paulista já está garantido na final da Copa do Brasil para enfrentar o Grêmio e está muito bem encaminhado rumo à decisão da Libertadores ao vencer com propriedade o River Plate por 3 a 0, em Buenos Aires.

Apesar de estar em ótimo momento, acho pouco inviável o Palmeiras abocanhar os três torneios porque em algum momento terá que tirar o pé. Até gostaria de ser surpreendido e vir aqui na coluna me retratar ao dizer que apostei errado. Mas devido aos jogos em sequência nas próximas semanas o time terá que ser poupado em algum momento.

Pelo o que tem apresentado, o Palmeiras é forte candidato ao título da Libertadores, o que irá credenciá-lo a disputar o Mundial de Clubes da Fifa, que será disputado entre 1º e 11 de fevereiro de 2021 no Qatar. Surgi aí um problema de datas, visto que existe a possibilidade de as finais da Copa do Brasil (agendadas para 3/02 e 10/02) serem adiadas. Além da decisão do principal mata-mata do país, no próximo mês estão marcadas as últimas cinco rodadas do Brasileirão.

Desta forma, acho muito difícil o título do Brasileirão fugir das mãos do São Paulo ou do Flamengo, enquanto o Atlético-MG tem oscilado demais — assim como pode fazer 5 a 0 numa partida, pode ser goleado na rodada posterior por um time que está na zona de rebaixamento.

Vejo o São Paulo e o Flamengo como os times mais equilibrados do campeonato. Quando o Flamengo não ganhar, vai perder por diferença de um gol, assim como São Paulo quando não consegue vencer, costuma atacar muita. Desta forma que não coloco o Galo na briga pelo título, no máximo na disputa por uma vaga na Libertadores. Acredito que as três próximas rodadas poderão dar o rumo à reta final do Brasileirão.

Mas o futebol brasileiro já nos propôs surpresas e mostrou que nos pontos corridos muita coisa pode acontecer.

Estou ansioso para saber quem serão os últimos campeões de 2020, seja nos pontos corridos como nos mata-matas.

*Com colaboração de Augusto Zaupa