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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Só a sequência pode fazer o quarteto da Seleção pensar em virar 'mágico'

Colunista do UOL

06/06/2022 09h13

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A expressão ''quarteto mágico'' causa calafrios. Não se trata de comparar Neymar, Vini Jr, Paquetá e Raphinha a Ronaldo, Adriano, Ronaldinho e Kaká. Em 2006 havia mais talento individual e hierarquia internacional. Mas parte do motivo para aquele quarteto ter sido uma decepção pode ser evitada. Esse processo pode ter começado no amistoso diante do Japão, primeira vez dos quatro juntos. Por isso, ajustes são naturais e necessários, mas eles só virão com a repetição.

Parece estranho que depois de quatro anos de ciclo entre uma Copa e outra, o time só comece a ser ''achado'' nos últimos meses. Mas sempre foi assim, e é desta forma com basicamente todas as seleções, principalmente aquelas que contam mais material humano para escolher.

Ainda em busca do time ideal, o técnico Hajime Moriyasu escalou o Japão no 4-1-4-1 de sempre e teve a maioria de seus principais jogadores. Já Tite promoveu as entradas de Éder Militão e Guilherme Arana. Vini Jr e Alisson começaram a partida. Paquetá jogou centralizado.

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Como Japão e Brasil iniciaram o amistoso preparatório para a Copa de 2022
Imagem: Rodrigo Coutinho

O Brasil produziu seis bons ataques nos 45 minutos iniciais. O número é razoável. Pode melhorar pelo nível dos jogadores em campo, mas há de se considerar o trabalho defensivo dos japoneses. Alternaram bem a altura do bloco de marcação. Exigiram dos brasileiros ao marcarem a saída de bola, bloquearam com competência a área, apresentaram compactação entre os setores, e abusaram do artifício das faltas.

Com o quarteto mais ''espetado'' em cima da linha de defesa nipônica, a Seleção contava com flutuações de Neymar e Lucas Paquetá para receber a bola de Casemiro e Fred. Quando o ataque se iniciava pela esquerda, Neymar fazia esse trabalho. Se fosse pela direita, Paquetá ''descia'' o campo. Havia a preocupação de manter a profundidade central, função que coube mais ao meia do Lyon.

Raphinha e Vini Jr estiveram sempre abertos, mas a partir do momento que o time se estabelecia nas proximidades da área, ganhavam mais liberdade de movimentação. Arana era mais agudo pelo flanco esquerdo, e isso proporcionava mais flutuações ao ponta do Real Madrid. Do outro lado, Dani Alves trabalhava ''por dentro'', o que acabava mantendo Raphinha mais tempo fixo.

Encontrar a ''sintonia fina'' nos movimentos de todas as peças é algo que vem com o tempo e a sequência. Por hora houve muita intuição, e isso nem sempre é suficiente para furar bloqueios. Fred e Casemiro fizeram um bom trabalho de distribuição de passes, comandaram as organizadas transições defensivas, e chegaram ao ataque para dar apoio em determinados momentos, principalmente Fred.

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Distribuição do Brasil a partir da saída de bola.
Imagem: Rodrigo Coutinho

Outro ponto que demanda atenção é a coordenação no movimento de subida de marcação, principalmente entre Neymar e Paquetá, na primeira pressão central. Não foram poucas as vezes em que Endo, o volante japonês, recebeu com liberdade e progrediu. Já no campo defensivo, faltou mais contundência a Vini Jr na hora de dobrar a marcação pelo lado esquerdo. Diante de equipes mais poderosas, isso causaria grandes prejuízos.

O cenário não mudou na 2ª etapa. O Brasil seguiu com os mesmos pontos positivos e negativos, entre eles um certo preciosismo nos momentos de definição dos lances. Uma dose de ansiedade também, aumentando a quantidade de erros. Jesus, Martinelli, Thiago Silva, Fabinho, Bruno Guimarães e Richarlison - que foi bem de novo - entraram. Neymar marcou o gol da vitória, de pênalti, aos 30' do 2º tempo.

Serão poucos jogos até a Copa do Mundo. Tite terá que torcer para que possíveis lesões não desfalquem o time que pensa como base e o desenvolvimento possa vir. Os dias de treino antes da estreia e a 1ª fase também serão fundamentais neste processo.