Topo

Rodrigo Coutinho

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Prancheta histórica: uma década do desabrochar de Klopp em Dortmund

Colunista do UOL

30/04/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A partir de hoje trago aqui no blog a história de algumas equipes que marcaram época no futebol mundial e comemoram aniversários de conquistas importantes em 2021. A primeira delas é o Borussia Dortmund, campeão da Bundesliga em 2010-2011. Era a primeira demonstração de força de ninguém menos que Jurgen Klopp, um dos melhores técnicos da atualidade. Mario Götze e Lewandowski também surgiram para o Mundo neste time.

Há exatos dez anos o Borussia batia o Nurenberg por 2x0, gols de Lucas Barrios e Lewandowski, e conquistava, com duas rodadas de antecedência, o sétimo dos oito títulos alemães que possui. Foi o primeiro caneco do bicampeonato que se revelaria na temporada seguinte e marcou um período importante na trajetória recente do time de Dortmund.

arte - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
Os números gerais do Borussia Dortmund na temporada 2010-2011
Imagem: Rodrigo Coutinho

O técnico

Era a terceira temporada de Jurgen Klopp no clube. Havia acumulado um sexto e um quinto lugar antes de chegar ao topo da Bundesliga, o primeiro título relevante de sua carreira. O alemão, então com 44 anos, teve continuidade em seu trabalho mesmo não tendo feito boas campanhas na Copa da Alemanha, nas duas temporadas anteriores. Na Europa League de 2008-2009 caiu ainda na 1ª fase para a Udinese. Klopp surgiu no Mainz no início do século. Treinou o clube por sete temporadas, conseguindo um acesso para a primeira divisão, mas caindo na sequência.

Time-base

O Borussia Dortmund de Klopp em 2010-2011 era um time bem adaptável aos cenários que encontrava pela frente. Era mais paciente e ficava com a bola durante a maior parte do tempo contra equipes inferiores tecnicamente ou mais retraídas na defesa. Mas também sabia jogar em contra-ataques ou ser direto diante de adversários mais poderosos.

Lucas Barrios, Kagawa e Hummels foram as referências técnicas do time naquela temporada. O paraguaio mostrou toda sua veia goleadora, o japonês era o motor do ataque, e Hummels esbanjou classe e segurança na linha defensiva. O esquema tático utilizado foi o 4-2-3-1, e o time não teve tantas mexidas ao longo do ano. Sahin foi um coadjuvante de luxo no meio-campo.

As mais significativas mudanças vieram no setor de meio-campo. Kehl era o capitão e volante titular ao lado de Sahin, mas se lesionou e deu lugar ao então jovem Sven Bender. Gotze ganhou espaço com o passar dos jogos e Kuba acabou se tornando numa espécie de 12º jogador com isso. Owomoyela era o lateral-direito titular no início, mas Pisczek ficou com a vaga por ser mais completo e agressivo no ataque.

campo - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
Time-base do Dortmund em 2010-2011
Imagem: Rodrigo Coutinho

Brazucas do elenco

foto - Suhaimi Abdullah/Bundesliga/Bundesliga Collection via Getty Images - Suhaimi Abdullah/Bundesliga/Bundesliga Collection via Getty Images
Dedê, ídolo do Borussia Dortmund, em entrevista na Tailândia, como "embaixador" do clube
Imagem: Suhaimi Abdullah/Bundesliga/Bundesliga Collection via Getty Images

O zagueiro Felipe Santana, o lendário lateral-esquerdo Dedê e o meio-campista Antônio da Silva eram os brasileiros do plantel. Dedê vivia a última de suas 13 temporadas no clube. Amado pela torcida e pelos demais jogadores. Respeitado pela diretoria e comissão técnica. Ganhou uma bonita homenagem no último jogo da temporada, mas foi pouco utilizado por Klopp de uma forma geral, já tinha 33 anos na ocasião.

Já Felipe e Antônio foram reservas bastante utilizados. O zagueiro estava em sua terceira temporada no clube, mas acabou jogando menos do que estava acostumado pela grande fase de Subotic e Hummels na zaga titular. O meia era um velho conhecido de Klopp. Foi treinado pelo alemão ainda no Mainz e também já tinha 33 anos na época, mas fez 27 partidas na temporada.

Contratações

Num comparativo até mesmo com o próprio Dortmund em outros anos, a diretoria do clube não gastou tanto com reforços. Chegaram Shinji Kagawa, vindo do Cerezo Osaka; Lewandowski, do futebol polonês; e o brasileiro Antônio da Silva, do Basel. Kagawa e Lewa tinham apenas 21 anos.

Eram apostas, mas se converteram em grandes aquisições no campo. O japonês foi titular ao longo de toda a temporada, e o polonês fez nove gols, mesmo entrando no 2º tempo na maioria das vezes. As saídas mais sentidas em comparação a temporada anterior foram as de Haedo Valdez e do brasileiro Tinga.

arte 2 - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
Recordistas de gols e de jogos do Borussia em 2010-2011
Imagem: Rodrigo Coutinho

Caminho até o título

O caneco que não era obtido há nove anos pelo Dortmund foi conquistado com uma campanha muito forte desde o começo. Duelou com o Mainz, ex-clube de Klopp, pelas primeiras posições nas rodadas iniciais, até ultrapassar o time do oeste alemão com uma vitória por 2x0, fora de casa, pela 10ª jornada. Abriu boa vantagem na sequência e não perdeu mais a condição de líder.

Na virada do turno os aurinegros já tinham oito pontos de frente para o vice-líder. Acabaram caindo um pouco de produção no último terço do campeonato, o que possibilitou certa aproximação do Bayer Leverkusen, segunda melhor equipe daquela Bundesliga. Nada, porém, que assustasse e impedisse a conquista com duas rodadas de antecedência.

Nas demais competições da temporada os comandados de Klopp não tiveram um bom desempenho, talvez por isso também a supremacia no campeonato nacional tenha sido tão marcante. O elenco não era extenso e repleto de opções de qualidade. Era bem enxuto.

Disputou a Europa League e foi eliminado na fase de grupos numa chave com Paris Saint-Germain, Sevilla e Karpaty, da Ucrânia. Venceu apenas dois dos seis jogos. Na Copa da Alemanha foi eliminado nos pênaltis ainda na 2ª fase, contra o Kickers Offenbach, que era da 3ª divisão na época

Curiosidade

O atual técnico do Borussia Dortmund, Edin Terzic, fazia parte do time de scouts do clube na temporada 2010-2011. Ele era um dos responsáveis por descobrir jovens talentos para os aurinegros e cumpriu essa função até 2013, quando saiu para ser auxiliar de Slaven Bilic no Besiktas. Voltou ao clube alemão em 2018 e era auxiliar-técnico até a demissão de Lucien Favre, em dezembro de 2020, quando foi promovido a treinador com apenas 38 anos.

Como atacava

O time de Klopp variava duas formas de se comportar com a bola. Em determinados jogos trocava mais passes até chegar ao gol rival. Já em outros era mais direto, utilizando-se de passes longos para Barrios ganhar a ''primeira bola'' pelo alto, e Kagawa, Grosskreutz e Gotze atacarem os espaços por trás da defesa rival. Se o adversário adiantasse a marcação esta era a estratégia.

fotu - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
Nas ligações diretas, Barrios era o alvo e os pontas, além de Kagawa, se projetavam para atacar a profundidade
Imagem: Rodrigo Coutinho

Nesta primeira forma de jogar Barrios era importantíssimo. Vivia ótimo momento físico e se impunha desta forma, além do oportunismo e posicionamento perfeito dentro da área para finalizar as jogadas. Hummels também era determinante. Dos pés dele saiam os passes longos mais precisos, por vezes até encontrando os pontas ou Kagawa diretamente, sem que a bola tivesse que ser resvalada ou escorada pelo paraguaio.

Quando a proposta era trabalhar a mais a bola, a saída era sempre feita com uma linha de quatro. Os laterais e os zagueiros trocando passes inicialmente, e a dupla de volantes circulando, alinhada, logo a frente. Depois da saída de Kehl, por lesão, Nuri Sahin passou a se destacar bastante. Ditava o ritmo das jogadas no meio e distribuía passes com muita inteligência. O turco tinha apenas 22 anos na época e fazia boas infiltrações na área rival também.

img - Rodrigo Coutinho - Rodrigo Coutinho
Saída de bola do Dortmund com a linha de quatro sustentada e os volantes se desmarcando logo a frente
Imagem: Rodrigo Coutinho

Os pontas mantinham-se abertos até a chegada dos laterais no ataque. Quando Piszczek e Schmelzer pisavam nos últimos metros do campo, Gotze e Grosskreutz buscavam a área ou a região entre a linha de defesa e de meio do adversário. Kagawa flutuava na intermediária, de um lado a outro do campo, tentando se somar ao setor da bola e auxiliar nas triangulações pelos flancos. O time também sabia atacar assim, mas ser direta era a essência daquela equipe.

Transições

Referência mundial neste momento do jogo, Klopp não negava a sua origem no Dortmund de 10-11. A começar pelas transições ofensivas bem rápidas e organizadas. Grosskreutz era um trator pela esquerda neste momento. Schmelzer e Piszczek foram laterais que se desgarravam rapidamente e auxiliavam, e Kagawa era letal com espaços, seja conduzindo a bola ou servindo companheiros. A inteligência de Gotze e Barrios foi a ''cereja no bolo'' dos contra-ataques aurinegros.

Já nas transições defensivas o padrão agressivo se repetia. Certamente foi uma das primeiras equipes do futebol mundial a realizar pressões pós-perdas envolvendo um número bem considerável de jogadores, coordenados, sufocando no setor da bola e provocando inúmeros erros dos adversários. Time muito organizado neste momento. Levava poucos contragolpes.

Como defendia

A defesa do Dortmund sofreu apenas 22 gols em 34 partidas naquela Bundesliga, esteve muito a frente das outras equipes nesse sentido. Quando entrava em fase defensiva a marcação era por zona, quando cada jogador protege o seu espaço, sem promover perseguições a adversários em outros setores. Havia compactação entre defesa, meio e ataque, e o time era muito concentrado na abordagem, tinha ''pegada'', agressividade, pressionava a bola com força.

Um dos destaques era o trabalho da última linha de defesa. Hummels e Subotic formavam um miolo de zaga quase que instransponível. Corretos nos posicionamentos e firmes nos combates, nas bolas aéreas. Piszczek e Schmelzer pouco se afastavam deles, mantendo o centro da área bem protegido. Isso acabava compensando alguns espaços que surgiam na linha de meio-campo, mas que passaram muito longe de comprometer a solidez defensiva do time.