Irregularidade do time é fruto do caos que o próprio Flamengo se impôs
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Depois de uma semana cheia de treinamentos o Flamengo decepcionou diante do Fortaleza no último sábado. Lento na circulação da bola, passivo na movimentação e distante para tabelar ou triangular nas proximidades da área rival. O cenário não é novidade. Foi repetido em alguns jogos recentemente. O desempenho em outras partidas, porém, é diferente. E essa oscilação, por mais que, com razão, irrite a torcida, é totalmente natural mediante a sucessão de fatos em 2020.
O ponto de partida de tudo isso é a saída de Jorge Jesus. O clube perdeu o verdadeiro dono de seu departamento de futebol. O português controlava tudo! E o rendimento do time, somado aos títulos e vitórias, inibia qualquer manifestação contrária de quem estava acima dele hierarquicamente. Está aqui o primeiro erro. O Flamengo, mesmo com toda a receita e tamanho que possui, não tem uma ''cabeça'' no futebol. Alguém que de fato entenda o jogo!
Logicamente a reposição não seria a mais indicada. Tão pouco o entendimento de todos os processos que precisam ser naturais ao trocar um treinador. Domènec e Jorge Jesus são diferentes em diversas coisas na organização de um time. A escolha não levou isso em consideração e, a partir daí, vem mais um erro crasso. Não houve respaldo da diretoria quando os atletas mostraram insatisfação ao perceberem a mudança de métodos no dia a dia.
O catalão foi ''fritado'' na já conhecida máquina de moer treinadores que é o Flamengo. Essa máquina possui braços importantes dentro da imprensa, dando eco a influenciadores digitais e a sempre ''esquizofrênica'' pressão vinda da torcida. Isso não acontece só no rubro-negro. Mas se tratando do clube maior ascendência nacional, tudo é multiplicado e a pressão torna-se insustentável, principalmente quando não há conhecimento dos dirigentes sobre os processos citados acima.
Na sequência Rogério Ceni foi contratado. E 45 dias depois de sua estreia já há manifestações pedindo a sua saída. O treinador tenta resgatar um modelo ofensivo mais parecido ao implementado por Jorge Jesus no clube. Mais liberdade de movimentação às peças ofensivas, dupla de ataque e verticalidade com a bola. Nem sempre consegue, como vimos neste sábado. As ideias podem ser parecidas, mas os métodos nunca são os mesmos.
Rogério Ceni não é Jorge Jesus! Desconsiderando a imensa diferença de experiência e currículo entre eles, cada treinador tem a sua metodologia de treinos, sua forma de conduzir as atividades e se relacionar com os jogadores, sua leitura do que acontece dentro de um jogo. Entender isso é básico. Assim como compreender que um trabalho não surge em 45 dias.
Para colher os frutos é preciso dar sequência e entender os motivos de algo evoluir ou regredir dentro daquela proposta. Saber cobrar corretamente para não gerar pressões descabidas e influenciar ainda mais no desempenho de um time nitidamente em gangorra física e emocional.
O que explica a queda vertiginosa de Everton Ribeiro? O fato de jogar melhor que um adversário com a um a mais durante quase 90 minutos, mas mesmo assim levar três gols em sequência após abrir 2x0? A sequência de expulsões tolas em jogos importantes? As oscilações de intensidade dentro de um mesmo jogo?
O Flamengo tem a sua terceira comissão técnica em menos de seis meses. Cada uma delas tem uma proposta de trabalho e os atletas precisam de adaptação técnica, tática, física e psicológica a esses métodos. Não se faz um time de futebol num passe de mágica, mesmo quando o elenco tem muita qualidade. Clube, torcida, imprensa, corneteiros de plantão travestidos de jornalista, grupos em redes sociais... Todos precisam entender isso!
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