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Rodolfo Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Palmeiras não tem Mundial ou vai para o Qatar em busca do Bi?

Então prefeito do Rio de Janeiro, João Carlos Vital segura a taça da Copa Rio de 1951 com jogadores do Palmeiras - Acervo Folhapress
Então prefeito do Rio de Janeiro, João Carlos Vital segura a taça da Copa Rio de 1951 com jogadores do Palmeiras Imagem: Acervo Folhapress

Colunista do UOL

05/02/2021 04h00

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Apesar de a Copa Rio ter sido disputada há 70 anos, o assunto do título do Palmeiras ainda é polêmico e um dos mais discutidos por torcedores nos últimos anos. Afinal, o time foi campeão mundial naquele ano ou não? Agora, no Qatar, o Alviverde vai em busca do bi ou do inédito título?

Como não havia Libertadores ou Liga dos Campeões em 1951, o critério de classificação para a Copa Rio acabou sendo por convite. E por não ter uma entidade como a Fifa, a Uefa ou a Conmebol organizando o torneio, a Copa Rio nunca teve o peso de um Mundial Interclubes ou de um Mundial de Clubes da Fifa. Menos para o Palmeiras, obviamente, ou para o Fluminense, que ganhou a segunda edição, em 1952.

Em 2014, a Fifa chancelou a conquista palmeirense, reconhecendo a importância do torneio. Porém, para evitar mais polêmicas sobre o assunto, vem sempre relacionando em seu site ou documentos oficiais, os campeões desde o início do novo modelo, criado em 2000.

A origem da Copa Rio e do Mundial de Clubes

Após a Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil, a CBD se reuniu com a Uefa e a Fifa para discutir a criação do torneio mundial interclubes nos mesmos moldes da Copa, com 16 clubes. Mas, devido a dificuldade em trazer clubes europeus, o torneio, que seria realizado em 1951, foi reduzido para oito clubes. O Brasil, que organizaria a competição, no Rio de Janeiro, não contava com um campeão nacional, já que não existia um campeonato brasileiro na época. Assim, entrariam na disputa os campeões do Rio (Vasco) e de São Paulo (Palmeiras), além do campeão português (pelos laços afetivos com o Brasil) e cinco clubes dos países mais bem colocados na Copa do Mundo de 1950 (Uruguai, Espanha, Inglaterra, Suécia e Itália).

Porém, com a recusa dos times da Espanha, Inglaterra e Suécia, foram convidadas equipes da Áustria, França e Iugoslávia. Com o apoio da prefeitura do Rio de Janeiro, a competição, organizada pela CBD (e não pela Fifa), ganhou o nome de Torneio Internacional de Clubes Campeões e acabou vencida pelo Palmeiras numa final contra a Juventus, campeã italiana de 1949/50.

Em 1952, a competição foi novamente realizada e conquistada pelo Fluminense, que bateu o Corinthians na decisão. Após a disputa, a CBD definiu que o torneio seria disputado de quatro em quatro anos e que sua próxima edição seria em 1956. Para isso, no entanto, a entidade queria que o representante do país fosse o campeão brasileiro. Assim, solicitou junto a Fifa, em 1952, a criação de um campeonato nacional, que teria sua primeira edição em 1955. Com certo atraso, já que países da América do Sul já contavam com campeonatos nacionais em seus países.

Assim, em 1955, após o primeiro Congresso do Futebol Brasileiro, organizado pela CBD, em Belo Horizonte, no mês de setembro, ficou definido que o Campeonato Brasileiro de Clubes teria em disputa a Taça Brasil para se conhecer o campeão nacional. Mas a competição, por falta de datas, não foi realizada naquele ano e teve seu início previsto apenas para 1959, já que o calendário do futebol brasileiro já estava definido para o triênio 1956/57/58, até a disputa da Copa do Mundo.

Em 1956, a Copa Rio acabou sendo cancelada e não houve também a necessidade de se conhecer um campeão nacional. Em 1958, o brasileiro José Ramos de Freitas, então presidente da Conmebol, sugeriu a criação de um campeonato sul-americano de clubes campeões. Mas foi apenas no dia 5 de março de 1959, no 30º Congresso da Conmebol, em Buenos Aires, que a entidade anunciou para 1960 a primeira edição da Copa dos Campeões da América (que passou a ser chamada de Copa Libertadores a partir de 1966), exigindo a presença do campeão brasileiro do ano anterior (1959). Então, no dia 23 de agosto de 1959, iniciou-se a Taça Brasil, a primeira competição nacional de clubes do país, que teve sua primeira final em março de 1960.

Mesmo não tendo um caráter oficial como os outros mundiais, a Copa Rio acabou servindo de impulso para a criação de competições importantes como a Taça Brasil e a Copa Libertadores.

Os 'verdadeiros' Mundiais
Em 1960, após a criação da Copa Libertadores, Uefa e Conmebol decidiram organizar o Mundial Interclubes ou Copa Intercontinental para definir quem seria o campeão Mundial daquele ano, mas sem a autorização da Fifa, que classificava o torneio como amistoso. No regulamento inicial, os clubes se enfrentavam em jogos de ida e volta (em cada continente). Em caso de empate em número de pontos, haveria em jogo desempate na casa de quem sediasse o jogo de volta. Esse esquema funcionou até 1979, quando torneio já tinha caído em descrédito com os europeus, que chegaram a abrir mão da disputa por três edições por falta de datas.

Em 1980, a Mundial Interclubes ganhou o patrocínio da Toyota e passou ser realizado em jogo único, no Japão. E assim foi até 2004. Pouco antes, em 2000, a Fifa entrou na jogada e decidiu organizar o Mundial de Clubes da Fifa. A primeira edição, realizada no Brasil, foi também bem controversa em relação aos participantes.

A América do Sul teria direito a duas vagas, que seriam dos dois últimos campeões da Libertadores (1998 e 1999). Mas como a Libertadores de 1999 terminaria depois da criação do torneio (em meados de 1999), a ideia foi convidar o time campeão do país-sede (no caso o Corinthians, campeão brasileiro de 1998). O Palmeiras, campeão da Libertadores de 1999 poucos meses depois, ficou fora da disputa.

Curiosamente, o Corinthians foi campeão e, por não ter vencido a Libertadores, teve seu título muito contestado. Em 2001, a Fifa chegou a planejar um novo Mundial, programado para ser disputado na Espanha — e aí sim com a presença do Palmeiras. Mas a empresa de marketing que organizaria o evento (ISL) acabou falindo e o torneio, consequentemente, foi cancelado.

Em 2005, a Fifa fez um acordo com a Toyota para a volta do Mundial de Clubes, que entraria de vez no lugar do antigo Mundial Interclubes. Nas primeiras edições, o torneio foi realizado no Japão, como antes. Mas depois foi organizado também nos Emirados Árabes, Marrocos e Qatar.

Outros torneios
Disputada em 1951 e 1952, a Copa Rio teria sua terceira edição em 1956 e a partir de então a cada quatro anos (algo que jamais aconteceu). Para ocupar o seu lugar no calendário, a CBD (que era a CBF da época), criou um torneio internacional com as mesmas características da Copa Rio, com campeões do Rio e de São Paulo e clubes convidados, chamado Torneio Octogonal Rivadávia Corrêa Meyer. Em 1953, o Vasco foi campeão no torneio que contou ainda com Botafogo, Fluminense, Corinthians, São Paulo, Olimpia-PAR, Hibernian-ESC e Sporting-POR. Aquela, porém, foi a única edição do Rivadávia.

Nos anos 1950, outro importante torneio internacional de clubes campeões foi a Pequena Taça do Mundo, disputada entre 1952 e 1957. Em 1952 e 1956, o Real Madrid foi campeão em cima de Botafogo e Vasco, respectivamente. Em 1954, o Corinthians foi campeão batendo a Roma na final e o Barcelona na semi. Já em 1955, o São Paulo foi campeão ao vencer o Valencia na final.

Mas, assim como os campeões da Copa Rio, os vencedores do Torneio Rivadávia e da Pequena Taça do Mundo não são considerados campeões mundiais.

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