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Os Canalhas

Um democracia nem tanto corinthiana

Rodrigo Viana

20/08/2020 00h26

Na última terça-feira, em Os Canalhas, entrevistamos o o ex-meio-campista Zenon, integrante do time do Corinthians entre 1982 e 1983, na Democracia Corinthiana. Zenon não foi um jogador qualquer. Vestiu a camisa 10 daquele emblemático grupo de jogadores que lutavam pela redemocratização do Brasil em meio à ditadura militar no time que contava com jogadores como Sócrates, Casagrande e Wladimir. Confesso que a entrevista me atormentou.

Durante a conversa, foram comuns expressões como 'fui um jogador completo', 'como eu, não havia ninguém', "fui muito diferenciado', 'sou o melhor comentarista de futebol do Brasil' e coisas do tipo. Em princípio pensei que aquilo tinha um tom gonzo, de brincadeira mesmo, como é o espírito de Os Canalhas.

Mas quando Zenon se recusou a pronunciar o nome de Telê Santana (ele ficou fora da seleção brasileira nas Copas do Mundo de 1982 e 1986, quando considerava que merecia ser convocado) percebi que a coisa era séria. "Esse cara não poderia ser nunca técnico da Democracia Corinthiana, porque a gente ia massacrar ele. A gente ia massacrar ele se ele fizesse parte daquele time da Democracia Corinthiana".

Não entendo como as pessoas podem se massacrar. Entendo menos ainda quando alguém que se diz representante de uma democracia pode querer massacrar, ainda que em sentido figurado, um colega de profissão. Porque essa ira contra Telê? Porque não o convocou? Mas a livre-escolha, a pluralidade, não são características da própria democracia?

Em certo momento, não aguentei, já suspeitando da resposta: - o que você acha do governo do presidente Bolsonaro?

"Ele baixou a inflação, ele deu empregos pra caramba para a população brasileira, ele deu oportunidades para todo mundo, não é corrupto. Não é corrupto, entendeu?" - me devolveu, em tom assertivo, o camisa 10 da democracia corinthiana. Confesso que fiquei ainda mais confuso neste momento, Zenon.

Mas quando perguntado qual seria seu próprio defeito, a dúvida se desfez: "Eu não tenho defeitos!" finalizou um Zenon que desconstruiu, ao menos em mim - a ideia da essência da democracia corinthiana. O tirano sobrevive dentro de cada um de nós. Mesmo nos melhores e mais democratas camisas 10.