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Milly Lacombe

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Felipão e a volta por cima aos 73

Luiz Felipe Scolari, o Felipão, durante Estudiantes x Athletico pela Libertadores - Luis ROBAYO / AFP
Luiz Felipe Scolari, o Felipão, durante Estudiantes x Athletico pela Libertadores Imagem: Luis ROBAYO / AFP

Colunista do UOL

04/09/2022 09h47

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Felipão foi o treinador da seleção brasileira em seu momento de maior humilhação: os sete a um em 2014.

Eu argumentaria que nem a derrota de 50 pode rivalizar com os sete a um no quesito vexame.

Verdade que, ao contrário do que aconteceu no Maracanã há 72 anos, a demolidora derrota do Mineirão em 2014 não colou em ninguém especificamente. A de 1950, sabemos, ficou injusta e racistamente na conta de Barbosa.

Mas, se tem alguém cuja imagem aparece quando pensamos nos sete a um, esse alguém é Felipão.

Eu argumento que a calamidade de dois mil e quatorze nunca foi devidamente elaborada. Fizemos muitos memes, verdade, e ficou por isso mesmo.

Já o Maracanazo, esse sim, está corretamente registrado na dimensão das grandes tragédias nacionais.

Depois dos sete a um Felipão foi para o Cantão da China. Eu talvez fizesse o mesmo. Ir para bem longe, sumir por um tempo.

Na China, conquistou múltiplos campeonatos.

Em 2018, morando em Portugal, atendeu a um chamado do Palmeiras e voltou ao Brasil para levar o time a uma conquista emocionante: em 11 rodadas conduziu o Palmeiras à liderança e depois ao título nacional.

Parecia que iria se recuperar em grande estilo, mas o gosto dos sete a um - até por falta da devida elaboração - ficou por ali.

Claro que em conquistas, Felipão nunca teve motivo para abaixar a cabeça; gremistas e palmeirenses sabem bem disso. Fez um trabalho lindo na seleção portuguesa, e o mesmo com a brasileira em 2002.

Felipão podia, depois de 2018, ter ido curtir a vida no litoral português. O título nacional até teria servido como argumento de que ele não deveria ser lembrado pelo Mineirazo de 2014.

Mas Felipão ainda queria jogar um pouco mais esse jogo.

Assim, seguiu.

Entre 2019 e 2021 passou sem encantar por Cruzeiro e Grêmio e talvez tenha havido aqueles dias em que ele mesmo pensou: devia ter parado em 2018.

Mas veio 2022 e o Furacão chamou Felipão para substituir Fabio Carille, que tinha substituído Alberto Valentim, que tinha substituído Wesley Carvalho, que tinha substituído James Freitas.

Ou seja, Felipão chegou para treinar um time que não conseguia encontrar nem treinador, nem vitórias, nem sequência boa de jogos.

Ele topou e o que temos visto é um trabalho grandioso.

Felipão pode levar o Athletico a uma final de Libertadores e, no Brasileiro, está colado no G4.

É uma pena que jamais tenhamos elaborado os sete a um e distribuído responsabilidades por ele, ou alcançado entendimentos que poderiam fazer com que melhorássemos nosso futebol.

Mas acho muito bacana a história que Felipão está escrevendo.

Uma história que, como todas as outras, é feita de dor, de tragédia, de arrependimentos, mas também de lutas, retomadas e conquistas.

A lição que eu tiro é a de que nunca é tarde para que a gente levante e tente outra vez.