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Clodoaldo Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Em dois dias, natação paralímpica quebra 13 recordes mundiais

A norte-americana Anastasia Pagonis recorde mundial feminino no 400m S11 (para cegos) - Dean Mouhtaropoulos/Getty Images
A norte-americana Anastasia Pagonis recorde mundial feminino no 400m S11 (para cegos) Imagem: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images

26/08/2021 20h14

Podemos dizer que nem mesmo os problemas da pandemia abalaram os resultados da natação no Centro Aquático de Tóquio. Nesses dois dias, 13 nadadores bateram recordes mundiais na competição. As equipes dos EUA, Grã-Bretanha, Holanda, Itália se destacaram.

A natação é a segunda maior modalidade do Brasil, com 36 atletas. A conquista de muitas medalhas é tradição. No entanto, desta vez, o país tem o desfalque de André Brasil, que foi considerado inelegível pelo Comitê Paralímpico Internacional depois de competir 14 anos e colecionar 14 medalhas paralímpicas, entre outros títulos importantes.

Além disso, o maior medalhista paralímpico brasileiro, Daniel Dias, que anunciou que vai se aposentar depois dos jogos, terá dificuldades para manter as conquistas das edições passadas. Isso porque, o sistema de reclassificação colocou na classe dele, a S5, dois nadadores da classe 6, reduzindo a chance de medalha.

Mesmo com essas dificuldades, nesses dois dias, o brasileiro já acumulou três bronzes, totalizando 27 medalhas paralímpicas na carreira.

Em entrevista, no primeiro dia de provas, o atleta disse estar satisfeito com o resultado e que só falará sobre a reclassificação no fim dos Jogos. Esperamos que ele, assim como fez o André Brasil, levante a bandeira contra esse sistema nefasto que tem triturado ídolos e colocado em risco a credibilidade do esporte paralímpico.

Daniel garantiu medalhas nos 100 e 200 m livre e no revezamento misto 4x50 livres, formado por ele, Talisson Glock, Patrícia dos Santos e Joana Silva.

Patricia Pereira, Daniel Dias, Joana Maria e Talisson Glock - Dean Mouhtaropoulos/Getty Images - Dean Mouhtaropoulos/Getty Images
Patricia Pereira, Daniel Dias, Joana Maria e Talisson Glock
Imagem: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images

A surpresa da natação veio de dois Gabrieis. Gabriel Bernardo, o único a subir no lugar mais alto do pódio até o momento, ganhou a prova dos 100m borboleta da classe S14 (nadadores com deficiência mental). Gabriel Araújo, um jovem de 19 anos que pertence a classe S2, uma das mais baixas da natação, conquistou a prata no 100m costas. Além deles, Phelipe Rodrigues aumentou sua coleção com a conquista do bronze no 50m livre S10.

Outros resultados do Brasil

Na madrugada desta quinta-feira (horário de Brasília), o Brasil também ganhou duas medalhas de prata com Jovane Guissone, da esgrima, e Rodolpho Riskalla, do hipismo adestramento. Hoje à noite, vai ocorrer a estreia do atletismo, modalidade em que o Brasil tem boas chances de medalhas em Tóquio.

Resultados expressivos da natação

Tem sido cada vez mais frequente o aparecimento de jovens promissores na natação paralímpica. É o caso da americana Anastasia Pagonis, que quebrou seu próprio recorde mundial feminino no 400m S11 (para cegos) ao ganhar a primeira medalha de ouro dos Estados Unidos nos Jogos. A jovem de 17 anos terminou com o tempo de 4min54seg49 e quase meia piscina à frente da bicampeã paraolímpica e tricampeã mundial Liesette Bruinsma, da Holanda, que fez 5min05seg34. Liwen Cai, da China, levou para casa o bronze.

Famosa nas redes sociais por tentar normalizar a cegueira e corrigir conceitos errôneos sobre viver com uma deficiência, Anastasia é nativa de Long Island, Nova Iorque. Antes da natação, a menina jogava futebol, mas começou a perder a visão aos 12 anos devido a uma doença genética da retina e retinopatia auto-imune. Seu médico sugeriu que ela tentasse nadar.

Os EUA também levaram a melhor com Gia Pergolini que conquistou mais um ouro nos 100m costas da classe S13 (deficiente visuais). Gia também quebrou o recorde mundial dos 100m costas da duas vezes na eliminatórias e nas finais (1min04seg64).

Japão

Takayuki Suzuki, do Japão, realizou seu sonho de ganhar a primeira medalha de ouro da natação para o país anfitrião e estabelecer um novo recorde paraolímpico nos 100m livres S4. Em sua quinta e última paralimpíada, o nadador também quebrou o recorde estabelecido pelo japonês Yuji Hanada, em Atenas 2004. O italiano Luiji Beggiato (pentacampeão mundial) ficou com a prata, e Roman Zhdanov, do Comitê Paralímpico Russo, ficou com o bronze.

Grã-Bretanha

A britânica Tully Kearney, que não competiu no Rio 2016 devido a uma doença, avisou que chegou em grande estilo. Ela venceu os 100m livres S5 e estabeleceu um novo recorde mundial, em 1min14seg39. A heptacampã mundial terminou mais de três segundos à frente da chinesa Li Zhang, que conquistou a prata. A italiana Monica Boggioni ficou com o bronze.

O segundo ouro britânico na natação foi para a Maisie Summers-Newton, que também estabeleceu um recorde mundial nos 200m medley individual SM6 em 2min56seg68. A ucraniana Yelyzaveta Mereshko - que quebrou o recorde mundial na bateria da manhã - levou a prata, e a alemã Verena Schott, o bronze.

A lenda da natação da Bielo-Rússia, Ihar Boki, conquistou sua segunda medalha de ouro nos Jogos nos 100m costas masculino S13 com um recorde mundial (56seg36), mantendo sua busca por seis medalhas de ouro para somar aos seus 14 títulos paralímpicos.

Itália

A Itália também conquistou duas vitórias com Francesco Bocciardo, nos 100m livres masculinos S5, e Stefano Raimondo, nos 100m peito masculino SB9.

Holanda
Foi também uma celebração dupla para a Holanda, com Rogier Dorsman vencendo o 400m livre S11 masculino e Chantalle Zijderveld conquistando a vitória nos 100m peito feminino SB9 - também com recordes mundiais em sua bateria e na final (1min10seg99).

Outros resultados

O colombiano Nelson Crispin ficou radiante por ter conquistado a vitória seguida de recorde mundial nos 200m medley individual masculino SM6, assim como Andrei Kalina, da Rússia, nos 100m peito masculino SB8.

A China conquistou a vitória no revezamento misto 4x50m livre de 20 pontos com um recorde mundial (2min15seg49), seguida pela Itália, com a prata, e pelo Brasil, com o Bronze.

E assim a gente segue na natação paralímpica, o melhor esporte do programa dos Jogos. Acredito que muitos recordes e revelações estão por vir, já que a pandemia não atrapalhou muito os nadadores, já que somente hoje tivemos 11 recordes mundiais batidos - além dos dois do primeiro dia. Muitas emoções ainda irão rolar no Centro Aquático de Tóquio.

* Este texto foi escrito por Gisliene Hesse, jornalista, mestre em comunicação e multimídia, consultora de comunicação e marketing digital, ex-coordenadora de comunicação do CPB (2003/2004), ex-diretora de Comunicação da Associação Brasileira de Desportos para Cegos (2001/2002), realizou a cobertura dos Jogos Paralímpicos de Sydney e coordenou a cobertura dos Jogos de Atenas.