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Clodoaldo Silva

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Oscar abraça representatividade com filmes sobre pessoas com deficiência

Cena de Crip Camp - Divulgação
Cena de Crip Camp Imagem: Divulgação

24/04/2021 04h00

Quem assistiu "Crip Camp: Revolução pela Inclusão"? Esse é um dos documentários na disputa pelo Oscar deste ano, que será realizando neste domingo (25). A produção da película conta nada menos do que com a dupla Barack e Michelle Obama. Chique, né, gente! Segundo as críticas, o filme é um dos favoritos para ganhar a estatueta.

A Academia de Hollywood tem tentando implementar maior inclusão racial e de gênero nos últimos anos, mas ainda existe um caminho árduo a ser seguido em relação à representatividade das minorias no maior prêmio de cinema do mundo. E quando a gente fala de minorias, infelizmente, as pessoas com deficiência também são uma parcela da sociedade que ainda podemos considerar minoria, sobretudo no cinema mundial.

O artigo da semana passada, assinado por Gisliene Hesse, tratava justamente da importância da representatividade das pessoas com deficiência no cinema, mas da representatividade real. No caso de atores com deficiência fazendo papéis nos filmes ao invés de atores sem deficiência os representando. Vale conferir o artigo aqui.

Falar sobre o universo das pessoas com deficiência é tratar sobre o cotidiano da sociedade, pois mais de 1 bilhão de pessoas no mundo vivem com algum tipo de deficiência (dados divulgados pela ONU). E pasmem: essas pessoas ainda vivem isoladas, passam por discriminações e são sub-representadas.

Eu não me canso de dizer que quem não é visto, não é lembrado. Por isso, é muito importante torcer por "Crip Camp". O filme conta a história do acampamento de verão, que ocorreu há quase 50 anos em Camp Jened, no norte de Nova Iorque, com a presença de adolescentes e jovens com deficiência. Esse acampamento foi o pontapé inicial para a criação do movimento pela luta dos direitos das pessoas com deficiência nos Estados Unidos.

Além disso, é um documentário que apresenta personagens reais como James LeBrecht, um dos protagonistas da história. James também divide a direção do filme com Nicole Newnham. É óbvio que a participação dele abre caminho para que mais cineastas com deficiência trabalhem na direção de filmes.

LeBrecht - Divulgação - Divulgação
James Lebrecht, diretor do documentário 'Crip Camp: Revolução pela Inclusão'
Imagem: Divulgação

LeBrecht é ativista nato que luta faz muito tempo pela independência e pelos direitos das pessoas com deficiência nos EUA, Jim traz na bagagem sua participação no Disabled in Action (pessoas com deficiência em ação), que despontou no início dos anos 1970, e na fundação do Disabled Students Union (União de Estudantes com Deficiência) da Universidade da Califórnia, quando ajudou a remover barreiras arquitetônicas no ambiente universitário. Ele se destaca também por participar de produções de entretenimento que retratam o cotidiano das pessoas com deficiência.

Assim como o filme "Fuja" traz à tona a viabilidade de se ter atores com deficiência representando seus próprios papéis. Crip Camp vai na mesma direção. Ele conta com várias testemunhas oculares da história e traz os personagens com deficiência para a participação. Ninguém precisa de pessoas sem deficiência para fazer o papel de pessoas com deficiência.

Eu estou feliz com essa indicação e já estou torcendo para que Crip Camp ganhe o Oscar. Mudar paradigmas não é algo que ocorre de uma hora para outra. E nós estamos nessa. Ainda existe uma lacuna muito grande no mundo no que diz respeito à conquista de direitos e de espaço das pessoas com deficiência.

Pode parecer bobagem torcer para que a gente esteja em todo lugar, mas, na realidade, isso deveria ser o natural.

Outros filmes

Não posso deixar de lembrar que existem mais duas produções que retratam histórias de pessoas com deficiência que estarão concorrendo ao Oscar. Uma delas é "Feeling Through", que disputa na categoria melhor filme de curta-metragem. A película de 18 minutos se consagra como o primeiro filme que apresenta um ator surdo e cego. A produção já ganhou mais de 15 prêmios em diversos festivais.

A outra é "Sound of Metal", que recebeu o título em português "O Som do Silêncio", com seis indicações para o Oscar, inclusive para melhor filme. Riz Ahmed foi indicado ao Oscar de melhor ator pelo papel do músico Ruben, que perde a audição repentinamente. O filme foi muito elogiado por falar mais sobre aceitação, deixando a superação em segundo plano.

Eu estou louco para ver o Oscar neste domingo e vou torcer por estes filmes por entender que a participação deles na premiação é muito positiva e abre caminhos para que mais pessoas com deficiência participem da maior indústria do cinema. Seja como atores, diretores ou auxiliares. Já passou da hora de sermos uma constante por lá. Representatividade é tudo!

Excelente sábado pra todos e abraços aquáticos!