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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Flamengo chega ao G-6, mas vale encarar a "ladeira" das três frentes?

Everton Cebolinha comemora gol de Pedro no Flamengo - Gilvan de Souza / Flamengo
Everton Cebolinha comemora gol de Pedro no Flamengo Imagem: Gilvan de Souza / Flamengo

Colunista do UOL Esporte

25/07/2022 09h03

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Dorival Júnior mandou a campo na Ressacada uma formação que lembrava uma pizza de dois sabores.

Uma menos saborosa, com a última linha defensiva reserva - Matheuzinho, Fabricio Bruno, Pablo e Ayrton Lucas - e Diego Ribas como primeiro volante. Compreensível pelas limitações físicas dos veteranos David Luiz e Filipe Luís, a suspensão de Thiago Maia e a opção por dar descanso a Rodinei e Léo Pereira.

A outra, mais "apetitosa", reunia os talentos ofensivos: Everton Ribeiro, De Arrascaeta, Gabigol e Pedro, mais João Gomes para o meio-campo segurar as pontas sem a bola. Mas deixando a impressão de que o Flamengo reunia titulares demais para uma partida às 11h e a três dias do jogo de ida das quartas da Copa do Brasil, no Maracanã diante do Athletico.

O Avaí reforçou essa impressão, dificultando a saída de bola rubro-negra e obrigando os titulares da frente a se desgastarem ainda mais voltando para tentar articular as jogadas e, no caso de Everton Ribeiro e João Gomes, os volantes-meias pelos lados, a cobrir um espaço maior de campo no balanço defensivo para conter as inversões de jogo da equipe de Eduardo Barroca.

Poderia ter saído atrás ainda no primeiro tempo, com o gol de William Pottker, mal anulado por falta inexistente sobre o goleiro Santos, Mas não evitou quando o cruzamento alto e lento da esquerda encontrou o zagueiro Arthur Chaves contra Ayrton Lucas, quase sempre hesitante no trabalho defensivo de última linha.

Era o segundo minuto da etapa final e Dorival já havia trocado Diego por Everton Cebolinha na volta do intervalo. Mudando o sistema para 4-2-3-1, embora na prática o meio não saísse muito do losango, já que Everton Ribeiro descia pela direita, deixando João Gomes mais fixo à frente da retaguarda, e Cebolinha voltava mais do lado oposto que Gabigol para auxiliar no trabalho sem bola.

Surpreendentemente, o Avaí perdeu totalmente o controle do jogo depois de abrir vantagem e, o pior, foi cansando pelo desgaste da marcação firme e até dura em alguns momentos. Os espaços se abriram em um jogo maluco, de "briga de rua" e com enormes buracos entre as intermediárias.

A qualidade sobressaiu nos gols de Pedro e também em chances inacreditavelmente desperdiçadas à frente do goleiro Vladimir por Gabigol e Arrascaeta. Arturo Vidal estreou e mostrou liderança, ainda acrescentando o desarme que iniciou a transição ofensiva do gol da virada. De fato, era um abismo de talento e o Avaí poderia ter pagado caro, até com goleada, já que o Fla finalizou 19 vezes, oito no alvo.

Valeu para fazer história com a primeira vitória na Ressacada e por, enfim, chegar ao G-6 com os nove pontos, meta cumprida nos jogos mais que acessíveis contra Coritiba, Juventude e Avaí. A ascensão na tabela só não foi maior porque o Athletico tinha uma "gordura" e Fluminense, Atlético Mineiro, Corinthians e, principalmente, o líder Palmeiras tropeçaram bem menos do que o sonhado pelos rubro-negros. São nove pontos, três rodadas, do topo da tabela.

Agora a grande questão é: vale a pena encarar a "ladeira" das três frentes. No ano passado resultou em mãos abanando e um elenco quebrado na final da Libertadores. A temporada de título estadual e da Supercopa, vice brasileiro e da Libertadores e semifinalista da Copa do Brasil virou chacota.

Já a do Palmeiras, com vexames contra CRB, Defensa y Justicia, perda do Paulista para o São Paulo, derrota nos pênaltis para o próprio Flamengo na Supercopa e terceira colocação com 18 pontos atrás do campeão Galo no Brasileiro foi salva pelo "delivery" de Andreas Pereira em Montevidéu e Abel Ferreira virou "guru". Incluindo em suas lições o "lado bom" de ter caído cedo na Copa do Brasil para que o time se preparasse melhor para ser bi continental.

O Fla não pode esquecer do "legado" da péssima preparação física e dos erros do departamento médico no ano passado e o controle de minutos de Paulo Sousa que foi para o espaço com a necessidade de resultados diante da pressão descomunal. Houve mudanças no departamento de futebol, mas o elenco tem "caixa" para buscar as três conquistas?

Parece improvável. Na quarta já pode pagar contra o time de Felipão o esforço de domingo de manhã e, caso sobreviva, chegue longe nos torneios de mata-mata e continue subindo no Brasileiro, as chances de sucumbir fisicamente em outubro, quando tudo se resolve, é imensa. E se ficar sem taças de novo, só restará a gozação dos rivais com o "cheirinho".

Vale a pena tanto esforço para um elenco ainda envelhecido ou, diante do contexto, é melhor fazer escolhas e tentar fechar um ano problemático, com cinco meses jogados no lixo, com a conquista do que for priorizado?

A decisão está nas mãos de Dorival Júnior e da direção, cujos equívocos não podem ser esquecidos por causa de algumas vitórias e contratações. O passivo ainda é imenso.

(Estatísticas: SofaScore)