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André Rocha

Galo goleia na noite indefensável de Domènec Torrent

Jogadores do Atlético-MG comemoram gol de Keno contra o Flamengo, pelo Brasileirão 2020 - Fernando Moreno/AGIF
Jogadores do Atlético-MG comemoram gol de Keno contra o Flamengo, pelo Brasileirão 2020 Imagem: Fernando Moreno/AGIF

Colunista do UOL Esporte

08/11/2020 20h20

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Uma das receitas dos grandes times nos principais centros é saber se adaptar ao contexto das partidas, especialmente nos grandes jogos. Entender a demanda e mudar a proposta se for necessário ou o melhor a fazer.

O Flamengo que vem enfrentando problemas nas transições ofensivas por não ter a "caixa" de 2019 para pressionar no campo de ataque poderia jogar mais confortável no Mineirão. O Atlético vinha em queda livre, desesperado precisando do resultado. O mais lógico seria repetir a estratégia dos jogos contra Santos na Vila Belmiro e Del Valle no Maracanã: trazer as linhas um pouco para trás e jogar nos erros do rival interestadual.

Domènec Torrent não mudou nada. Aliás, só alterou a zaga, mais uma vez. Trouxe Natan de volta, o que já era esperado. Mas surpreendeu ao "ressuscitar" Gustavo Henrique, depois da atuação trágica contra o São Paulo. Ou seja, manteve a exposição de uma defesa com um zagueiro sem nenhuma confiança que deixou os companheiros nitidamente inseguros.

Menos compreensível ainda contra um ataque rápido e não alto, o que justificaria a escalação do defensor mais alto do elenco rubro-negra. E Dome fez Noga, o zagueiro mais veloz na ausência de Rodrigo Caio, voltar ao sub-20, junto com Ramon.

O resultado prático foi o Galo resolvendo o jogo em sete minutos com os gols de Eduardo Sasha e Keno. Sempre com origem em Savarino, o melhor em campo, pela direita para cima de Filipe Luís. Na primeira ganhando na velocidade e cruzando para Sasha chegar à frente de Gustavo Henrique, que voltou vagarosamente e permitiu que o atacante o ultrapassasse. Depois o venezuelano invertendo para Keno, aproveitando Isla mal posicionado para marcar o segundo.

O suspenso Jorge Sampaoli, sim, soube montar sua equipe em função do adversário. Fechou o lado de Isla com Guilherme Arana esperando e negando a profundidade e Junior Alonso funcionando como uma espécie de lateral-zagueiro saindo para pegar Everton Ribeiro. A distribuição também poupava Keno sem bola. Assim induzia o Flamengo a forçar pela esquerda com Filipe Luís e Bruno Henrique, que tem dinâmica mais previsível e menos rápida.

Ainda assim, o Flamengo teve oportunidades para reagir. Mesmo postado atrás e com plano de jogo claro, o Atlético não se defendeu tão bem na variação do 3-4-3 para o 4-3-3. Natan teve duas chances claras de cabeça no primeiro tempo e Bruno Henrique perdeu gol feito no rebote de Everson em cabeçada de Pedro. No primeiro minuto da segunda etapa, atingindo animicamente um time já abalado.

Deu alívio e tempo para o Galo se reorganizar e voltar a explorar os espaços cedidos naturalmente por um adversário lançado ao ataque. Bolas lançadas nas costas da defesa, outro gol de Sasha e mais um de Zaracho. 4 a 0 que recuperam o Galo na abertura do returno e fazem o Flamengo perder mais uma chance de chegar à liderança do Brasileiro, depois do empate do Internacional com o Coritiba por 2 a 2.

Pior: tira a segunda colocação na tabela e o posto de melhor ataque do campeonato, perdendo para o próprio Atlético (35 a 33) e chega a inacreditáveis 29 gols sofridos em 20 partidas. Só levou menos que o Goiás, com 33. Falhando em novo confronto direto com concorrente ao título. Precisa entender de uma vez que é o "time da moda", o mais visado e todos vão jogar a vida.

Faltou intensidade, mas principalmente inteligência. Domènec agora que ature as cornetas, as acusações covardes, mas também as críticas justas, neste caso. A noite no Mineirão foi mesmo indefensável.