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Por medalhas e Londres-2012, garotas disputam o Pan de boxe

Maurício Dehò<br/> Em São Paulo (SP)

01/10/2008 08h15

Dois meses depois de o boxe brasileiro ficar a uma vitória de beliscar uma medalha, a vez é das meninas. O pugilismo feminino ainda não é modalidade olímpica, mas vem crescendo junto com o sonho de entrar na disputa em Londres-2012. Enquanto isso não é possível, a modalidade vai para o seu Pan-Americano.

A seleção brasileira, que terá delegação completa, com 11 lutadoras, viaja nesta quinta-feira em busca de medalhas, no campeonato que será realizado em Trinidad e Tobago. Em 2006, as garotas já demonstraram força conquistando dois ouros, uma prata e um bronze, em Guayaquil, no Equador. A meta agora é subir ao pódio seis ou sete vezes.

Mas, por enquanto, tudo tem de ser na raça. Como admite o próprio presidente da Confederação Brasileira de Boxe, Luiz Claudio Braga Boselli, os recursos são nulos para o boxe feminino. "Como não é olímpico, não temos como ajudar e não contamos com patrocinadores", afirmou o dirigente. "O máximo que dá é para fazer parcerias para conseguir uniforme e organizar intercâmbios com outros países, dando treinos, alimentação e hospedagem."

São poucas as chances de se viver do boxe. Elisângela Souza, da categoria até 54 kg, é uma das poucas que pode comemorar um apoio. Ela recebe o Bolsa Atleta, que ajuda nas despesas com os três filhos e o marido, e a permitiu deixar a vida de balconista, dedicando-se só ao esporte.

A lutadora, de 28 anos, mora em Mogi das Cruzes e passou um mês em São Paulo com o técnico principal da seleção, o medalhista de bronze no Pan de Winnipeg-1999 Claudio Aires. "Já lutei com americanas e argentinas. Pelos treinos que andei fazendo com as meninas, sei que dá para ter um bom objetivo e tentar voltar com uma medalha para o Brasil", disse ela.

Como a delegação é descentralizada, tendo lutadoras em três estados (São Paulo, Pará e Bahia), Aires não treina com todas as representantes brasileiras, o que dificulta o trabalho. Mesmo assim, ele se diz acostumado em lidar com o as garotas. "Sem dúvida é mais difícil trabalhar com elas do que com os homens", comentou ele, que comanda um projeto social no Clube Escola Santo Amaro, em São Paulo, dando aulas de boxe de graça e treinando Roseli Amaral, da categoria até 75 kg.

A SELEÇÃO FEMININA
PUGILISTAPESO
Erica Matos (BA)46 kg
Daniela Souza (SP)48 kg
Stella Soares (SP)50 kg
Loren Capecce (SP)52 kg
Elisangela Souza (SP)54 kg
Taynna Cardoso (PA)57 kg
Adriana Araujo (BA)60 kg
Glauce Alves (PA)63 kg
Andreia Costa (BA)66 kg
Andrea Bandeira (SP)70 kg
Roseli Feitosa (SP)75 kg
"Hoje já tenho experiência em lidar com isso. Eu não trabalho com o grupo todo, mas conheço a maioria", disse ele, que terá a companhia de Luis Cardoso para trabalhar do lado de fora do ringue. A seleção é definida durante o Campeonato Brasileiro, que este ano foi realizado em julho.

O Pan de Trinidad e Tobago, que vai até a próxima quarta-feira, terá significado especial, como preparação. Os países mais fortes das Américas estarão presentes, já visando ao Mundial de novembro, na China, a competição mais importante da modalidade. Pelo Brasil, as quatro medalhistas no Equador, há um ano, voltam a competir: Erica Matos (ouro/46 kg), Adriana Araújo (ouro/60 kg), Andrea Bandeira (prata/70 kg) e Stella Soares (bronze/50 kg).

"As meninas de fora, como as argentinas, tem alojamento, ficam de cinco a seis meses treinando antes da competição. Nós não podemos, temos que comer o que o dinheiro pode dar, não o que queremos", lamenta a paraense Taynna Cardoso, antes de mostrar confiança. "Não é a mesma coisa, mas também não estamos muito abaixo. Temos certeza de que ficaremos entre os três primeiros."

Mas ninguém esconde que o grande sonho é uma outra viagem, daqui a quatro anos. O destino seria a Inglaterra. "Eu sou um cara muito otimista. A expectativa é grande para Londres, mas vamos esperar o pessoal lá de cima decidir", disse o técnico Claudio Aires, em alusão aos dirigentes. "Se depender do Brasil, logicamente queremos ir para uma Olimpíada. É sem dúvida alguma nosso grande sonho e que pouco a pouco vai se realizando."

A decisão pode sair ainda este ano. Em dezembro, uma reunião do Comitê Olímpico Internacional decidirá se inclui o boxe feminino como uma das modalidades para Londres-2012. Uma das prerrogativas para que seja aceito é o fato de todas as modalidades de combate serem disputadas tanto no masculino quanto no feminino.