Topo

Polos já derreteram 7,56 trilhões de toneladas de gelo; qual o risco agora?

Parte da Geleira de Monacobreen cai no oceano - Michael Melford/National Geographic Creative
Parte da Geleira de Monacobreen cai no oceano Imagem: Michael Melford/National Geographic Creative

12/06/2023 04h00

Que os polos estão derretendo, você provavelmente já ouviu falar. Mas sabe quanto?

A Agência Espacial Europeia (ESA) afirmou em abril que o degelo polar na Groenlândia e na Antártida quintuplicou desde a década de 1990. Foram 7,56 trilhões de toneladas de gelo derretido entre 1992 e 2020.

O pico aconteceu em 2019 com a perda de 612 bilhões de toneladas de gelo, em parte impulsionada por uma onda de calor no Ártico.

Desde 1992, o degelo polar causou um aumento de 2,1 cm no nível médio global dos mares — o derretimento do Ártico foi responsável por 40% da elevação dos oceanos naquele ano.

As temperaturas na Groenlândia, uma enorme região do Ártico onde fica a maior ilha congelado do planeta, são as mais elevadas nos últimos mil anos.

Nível do mar pode dobrar

Pesquisadores disseram que, como resultado, a elevação projetada do nível do mar poderá dobrar.

O rápido recuo das maiores camadas de gelo do planeta é ameaçador para ilhas e áreas costeiras de baixa altitude que são vulneráveis a uma elevação do nível do mar —ou seja, muitas cidades litorâneas já vivem as consequências dessa mudança.

Se a perda de gelo polar continuar no atual ritmo, o nível médio global dos mares poderá subir entre 14,8 a 27,2 cm até o fim do século, de acordo com as previsões das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas.

Desastres ambientais e humanitários

A elevação do nível do mar, um dos efeitos do aquecimento global e possível fonte de desastres ambientais e humanitários, é inevitável para os próximos séculos ou milênios, advertiu recentemente o IPCC.

Além do degelo dos polos, as geleiras de montanhas estão derretendo muito mais rapidamente do que conseguem acumular gelo. Apesar de cobrirem apenas menos de 0,5% da superfície terrestre, essas "torres de gelo" proveem água para cerca de um quarto da população do planeta e irrigam as plantações de que centenas de milhões de pessoas na Ásia, na América do Sul e na Europa dependem para sobreviver.

Sem elas, milhões passarão sede e fome.

Cientistas dizem que o recuo dessas geleiras colocou quase 2 bilhões de pessoas em risco de escassez de água. Cidades como Santiago do Chile viram boa parte de seu fornecimento de água potável secar com o recuo de geleiras dos Andes.

Na Europa, o gelo nos Alpes, também importantes para o fornecimento de água, recuou pela metade desde 1900

Na Groenlândia, os povos indígenas inuítes estão literalmente vivendo sobre um gelo cada vez mais fino, o que significa perda de habitat para animais selvagens como focas, ursos e morsas.

No polo sul, a Antártida, a área de gelo marítimo estava aumentando em cerca de 1% por década desde os anos 1970. Mas, no ano passado, foi a menor já registrada.

"Nos próximos 2 mil anos, o nível médio do mar subirá entre 2 e 3 metros se o aquecimento global for limitado a 1,5 grau, e atingirá entre 2 e 6 metros se não ultrapassar 2 graus", destacou a organização.

E agora?

Cientistas ainda tentam entender o que está acontecendo na região.

A Geleira Petermann parece estar se partindo. Localizada na beira do oceano, o recuo dela poderá expor enorme camadas de gelo às águas marinhas aquecidas.

Há temores de que a Geleira Thwaites, que tem um tamanho equivalente à área do Paraná e é o maior pedaço de gelo do planeta, esteja começando a rachar por causa do aquecimento das águas da Antártida.

Entre 1979 e 2021, o Ártico se aqueceu quatro vezes mais do que o resto do planeta, disseram cientistas. Assim, não surpreende que dois terços do derretimento global de gelo estejam ocorrendo na Groenlândia.

Acredita-se que o Ártico esteja se aquecendo mais rapidamente do que a Antártida porque há muito mais água líquida circundante na região durante o verão e o outono, quando o gelo marinho recua.

Essa água absorve luz solar - ao contrário do gelo marinho, que a reflete - e isso resulta em aquecimento do oceano.

Como o Ártico é um oceano e consiste sobretudo numa camada de gelo marinho, ele também é mais afetado pelo aumento das temperaturas dos oceanos do que a Antártida, que é sobretudo terra coberta de gelo.

Além disso, as correntes marinhas no Oceano Antártico tendem a levar para cima águas frias profundas que mantêm a região antártica relativamente resfriada. Mesmo assim, o derretimento de gelo na Antártida é 65% superior ao registrado nos anos 1990.

O derretimento é tão dramático que a maior parte da camada de gelo da Groenlândia deverá derreter se o aquecimento do planeta chegar a 1,6°C acima da era pré-industrialização, há 250 anos (atualmente o aquecimento está em 1,2°C).

Já as geleiras montanhosas, com rocha e sujeira, tendem a derreter mais rapidamente do que o gelo limpo porque a matéria escura absorve mais energia solar.

Essas pedras e rochas podem se aquecer até os 40°C em altitudes elevadas, dizem pesquisadores.

Mas um problema emergente na camada de gelo do oeste da Groenlândia é a chegada inexplicável de uma alga roxa que está escurecendo a superfície do gelo e absorvendo mais luz solar. Essa alga se torna roxa para se proteger da radiação ultravioleta, mas depois fica preta como fuligem, o que intensifica o aquecimento.

Se não houver maiores esforços contra o aquecimento global, turbinado pela queima de combustíveis fósseis, as geleiras irão desaparecer completamente até o fim deste século.