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70 anos de James Bond: termos racistas serão eliminados em novos livros

Termos racistas serão retirados em novas edições dos livros de James Bond - Getty Images
Termos racistas serão retirados em novas edições dos livros de James Bond Imagem: Getty Images

Christine Lehnen

06/03/2023 15h35

Há quase 70 anos, o personagem James Bond foi apresentado ao público: em 13 de abril de 1953, o autor Ian Fleming publicou Cassino Royale, no qual o agente secreto, sob o codinome 007, trabalhava para o MI5, a agência doméstica de contraespionagem e segurança do Reino Unido.

Agora, por ocasião do 70º aniversário, os romances de James Bond ganharão uma nova edição, decidiram os herdeiros de Ian Fleming, que administram seus direitos autorais. A novidade é que a linguagem racista será removida da reimpressão.

"Algumas palavras racistas que ofenderiam as pessoas hoje em dia e reduziriam o prazer da leitura foram ajustadas", disse a família em um comunicado. "Mas ficamos o mais próximo possível do original e da época em que o romance surgiu".

Debate acalorado

Lashana Lynch em premiere do filme 007: no time to die - Getty Images for EON Productions - Getty Images for EON Productions
Lashana Lynch interpreta a agente MI6 em "007: Sem tempo para morrer" que substitui James Bond após sua aposentadoria. A atriz interpreta a primeira mulher a ser a nova 007
Imagem: Getty Images for EON Productions

A ideia, no entanto, foi criticada no Reino Unido e é vista por alguns como censura. Também desencadeou um novo debate. Enquanto para alguns as mudanças planejadas vão longe demais, para outros elas não são suficientes.

O jornal britânico Independent apontou que, embora a representação de pessoas negras seja alterada, a linguagem condescendente em relação às figuras do leste asiático e da Coreia permaneceria.

Descrições misóginas e homofóbicas também continuam no romance, informou o jornal britânico Daily Telegraph, incluindo comentários como "o doce cheiro de estupro" ou a descrição da homossexualidade como uma "deficiência teimosa".

Exposição sobre James Bond em 2020 na Inglaterra - Getty Images for Sotheby's - Getty Images for Sotheby's
Exposição sobre James Bond em 2020 na Inglaterra
Imagem: Getty Images for Sotheby's

Quem escolhe o que ainda é aceitável?

O livro deve conter uma observação inicial de que o romance contém expressões e atitudes que um público moderno pode achar ofensivas.

Isso, porém, não parece se referir à misoginia, critica a autora australiana Clementine Ford, que estudou o sexismo no universo de Bond. As mudanças seriam feitas para garantir que Bond permaneça "admirável e popular", disse Ford.

Se você assumir isso, você tem que se perguntar por que o sexismo e a desumanização das mulheres não parecem prejudicar Bond, mas, pelo contrário, fazem parte de seu charme

Clementine Ford , autora

Controvérsia semelhante

Uma controvérsia semelhante ocorre em relação ao trabalho do popular autor galês de livros infantis Roald Dahl - que escreveu obras como "Matilda" e "James e o pêssego gigante".

As nova edições de seus romances também devem ser revisadas pelos chamados sensitivity readers, que apontam para conteúdos que poderiam ser percebidos como um insulto ou prejudicar um grupo de pessoas.

Livro do James Bond  - LightRocket via Getty Images - LightRocket via Getty Images
Livro do James Bond
Imagem: LightRocket via Getty Images

O personagem Augusto Glupe, por exemplo, de "A fantástica fábrica de chocolate", não deve mais ser chamada de "gordo", mas de "enorme".

O autor Salman Rushdie, que foi vítima de um ataque com faca em 2022 por décadas defendendo a liberdade de expressão, chamou as mudanças de "censura absurda".

No caso de Roald Dahl, a editora recuou após críticas públicas: duas edições estão agora para ser publicadas, uma das quais contém o texto original. A Ian Fleming Publishing, por outro lado, pediu aos leitores que deem uma olhada na versão revisada e tiram sua própria conclusão.