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'Eu tenho um sonho': há 94 anos nascia o mais influente líder negro dos EUA

Martin Luther King Jr. - Wikimedia Commons
Martin Luther King Jr. Imagem: Wikimedia Commons

Rômulo Cabrera

De Ecoa, em São Paulo (SP)

15/01/2023 06h00

Há 94 anos, em 15 de janeiro de 1929, nascia Martin Luther King Jr., um dos ativistas políticos mais importantes do movimento pelos direitos civis dos negros nos EUA nas décadas de 50 e 60. À época, em especial nos estados sulistas, a população negra norte-americana vivia isolada em guetos e frequentava escolas públicas segregadas. Havia parques, mercados e até banheiros destinados às pessoas "de cor".

Grande orador, King tinha a habilidade de mobilizar centenas de milhares de pessoas - foi o que aconteceu no boicote ao transporte público em Montgomery, no Alabama, entre 1955 e 1956, e na Marcha sobre Washington, em 1963.

Na manifestação na capital do país, mais de 200 mil pessoas, entre negros e brancos, acompanharam o discurso histórico do reverendo.

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Martin Luther King, durante seu célebre discurso: "Eu tenho um sonho", em Washington, em 1963
Imagem: Hulton Archive/Getty Images

Eu tenho um sonho de que meus quatro filhos pequenos vão um dia viver em uma nação onde serão julgados não pela cor de pele, mas pelo conteúdo de seu caráter. Martin Luther King Jr., durante discurso em Washington, 1963.

Nobel da Paz

No ano seguinte, em 1964, Martin Luther King Jr. foi laureado com um Nobel da Paz por suas campanhas não-violentas contra o racismo nos EUA.

King, um integracionista declarado, acreditava que negros e brancos poderiam conviver, desde que estes passassem a reconhecer os próprios privilégios, permitindo a construção de políticas públicas igualitárias de inclusão. O reverendo acreditava em um tipo de ação direta não-violenta que buscasse fomentar, mesmo que à força, o debate público sobre as políticas racistas nos EUA.

Sabemos que a liberdade nunca é voluntariamente concedida pelo opressor; deve ser exigida pelo oprimido., Martin Luther King Jr

Influência de King Jr. no Brasil

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Lázaro Ramos e Taís Araújo na peça "O Topo da Montanha", inspirada na trajetória de Martin Luther King Jr.
Imagem: Jorge Bispo/Divulgação

Ecoa conversou com Alê Santos, autor de "Rastros de Resistência: Histórias de Luta e Liberdade do Povo Negro", sobre a influência de King Jr. na discussão sobre racismo no Brasil.

King se referiu à discussão aberta e constante sobre o racismo para que pessoas que não estavam dispostas a discutir sobre ela fossem provocadas e/ou forçadas a isso., Alê Santos

Para Santos, é possível traçar paralelos com as atuações dos ativistas negros brasileiros. Assim como King, décadas antes, a atuação sistemática dos movimentos no Brasil, em especial nos últimos anos, forçou governo e sociedade civil a debateram o racismo no país. Mesmo que não diretamente, "a política de cotas é uma luta inspirada, em dada medida, nas atuações do reverendo King", afirma Santos.

É complicado falar em legado, até porque a luta negra brasileira não é recente: data, talvez, desde a pós-abolição, no século 19. Mas ambos os movimentos, tanto no Brasil quanto nos EUA, compartilham um denominador comum: a segregação racial, herança da colonização." Alê Santos

Um dia antes de seu assassinato, em 4 de abril de 1968, King falou a um público de 11 mil pessoas no salão de uma igreja em Memphis, nos EUA: "Caso queiram dizer que fui o mestre de uma banda, digam que o fui pela justiça. Se puder ajudar alguém com minha passagem, então minha vida não terá sido em vão."