Topo

Brasil x Camarões: Por que tantas bandeiras africanas têm as mesmas cores?

Torcedores de Camarões durante Camarões x Sérvia, pela 2ª rodada do Grupo G da Copa do Mundo - Fabio Ferrari/LaPresse/DiaEsportivo/Folhapress
Torcedores de Camarões durante Camarões x Sérvia, pela 2ª rodada do Grupo G da Copa do Mundo Imagem: Fabio Ferrari/LaPresse/DiaEsportivo/Folhapress

Juliana Domingos de Lima

De Ecoa, em São Paulo (SP)

02/12/2022 06h00

A seleção brasileira joga hoje (2) contra Camarões na última rodada da fase de grupos da Copa. Na arquibancada, muitos torcedores exibem o verde, vermelho e amarelo da bandeira do país africano.

São as mesmas cores de Gana e Senegal, que também estão na Copa, e de outros países africanos como Etiópia, Benin e Mali, que não se classificaram para o mundial.

Mas, afinal, por que essas cores se repetem na bandeira de 13 nações da África?

Bandeiras  - Arte UOL - Arte UOL
Bandeiras africanas com as mesmas cores
Imagem: Arte UOL

Por que bandeiras africanas têm as mesmas cores?

A origem do vermelho, amarelo e verde adotados pelos vários países africanos está na história da Etiópia. O país da África Oriental instituiu a bandeira tricolor oficialmente após sua vitória contra o domínio colonial da Itália em 1896, na Batalha de Adwa.

O imperador Menelik 2º, que era cristão, hasteou a bandeira para marcar o fim da Primeira Guerra Ítalo-Etíope, com as três cores que representariam o arco-íris colocado por Deus nos céus após o dilúvio no livro do Gênesis na Bíblia.

Embora tenha sido invadida novamente pela Itália de Mussolini nos anos 1930, a Etiópia foi - ao lado da Libéria - um dos únicos países do continente a não serem colonizados.

Já em meados do século 20, durante a onda de guerras de independência dos países africanos contra os colonizadores europeus, as três cores começaram a se espalhar pelas bandeiras das nações independentes em homenagem à primeira vitória dos etíopes sobre seus invasores. O primeiro país após a Etiópia a optar por uma bandeira com essas cores foi Gana em 1957.

Atualmente, Benin, Burkina Faso, Camarões, Congo, Etiópia, Gana, Guiné, Guiné-Bissau, Mali, Mauritânia, São Tomé e Príncipe, Senegal e Togo exibem as três cores.

Torcida do Senegal - MANAN VATSYAYANA / AFP - MANAN VATSYAYANA / AFP
Torcida do Senegal
Imagem: MANAN VATSYAYANA / AFP

O que as três cores das bandeiras representam?

Em cada país africano, o simbolismo dessas três cores pode variar e evoluir ao longo do tempo. No contexto em que foram adotadas, porém, durante a descolonização, as cores normalmente foram relacionadas com a independência, a guerra e o poder. O vermelho, por exemplo, costuma ser relacionado ao sangue derramado por ancestrais e guerreiros, o amarelo, ao poder e a riqueza dos países africanos e o verde à esperança ou à natureza do continente.

Duas tríades de cores são associadas ao movimento pan-africanista, que surgiu no final do século 19 e início do século 20, com uma proposta de unificar a luta contra a exploração de africanos e seus descendentes e sua emancipação ao redor do mundo.

Uma delas é o verde, amarelo e vermelho da bandeira da Etiópia, cores usadas por vários grupos pan-africanistas e pelo movimento rastafári.

A segunda tríade é composta por vermelho, preto e verde. Foi introduzida pelo jamaicano Marcus Garvey em 1920 e também é adotada em bandeiras de nações africanas.

Como foi a história em Camarões?

Em 1960, foi Camarões que deu início à onda de independências no continente: entre janeiro e agosto daquele ano, dezoito colônias da África subsaariana proclamaram sua soberania.

Antiga colônia alemã, o país africano teve seu território repartido entre Reino Unido e França após a Primeira Guerra Mundial. Em 1955, iniciou-se um conflito contra as tropas francesas pela independência, que se concretizou no início de 1960. A bandeira nacional com as três cores foi adotada oficialmente em 1957 e mantida após a independência.

bandeira camarões - Dean Mouhtaropoulos/Getty Images - Dean Mouhtaropoulos/Getty Images
Bandeira Camarões
Imagem: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images

Além da história da Etiópia, a escolha das cores se relaciona à Assembleia Democrática Africana, também representada por elas. A frente política foi criada no pós-guerra por líderes africanos para pressionar a descolonização de países do continente sob domínio francês.

A configuração atual da bandeira de Camarões, com a estrela amarela ao centro, data de 1975, quando as duas estrelas que costumavam simbolizar as duas zonas territoriais foram substituídas por uma única, representando a unidade nacional.