Topo

Ela adotou filha em Moçambique e criou marca para ajudar crianças do país

Luciana de Paiva Paula com a filha, Olga, que dá nome à marca de bolsas "Olga Store" - Vítor Vinte
Luciana de Paiva Paula com a filha, Olga, que dá nome à marca de bolsas 'Olga Store' Imagem: Vítor Vinte

Rayane Moura

Colaboração para Ecoa, em São Paulo (SP)

03/11/2022 06h00

Após uma viagem para Moçambique, em 2018, em uma expedição humanitária para ajudar a população do país africano, Luciana de Paiva Paula, 34, voltou de lá como mãe.

A engenheira ambiental se apaixonou à primeira vista por Olga, uma menina vaidosa e bem esperta, que na época tinha apenas 4 anos.

Ambas precisaram passar por um processo de adoção internacional complicado, principalmente por Luciana ser uma mulher solteira.
Cerca de um ano - e de muita burocracia - depois, Olga se tornou legalmente filha de Luciana, e logo a menina moçambicana se mudou para Vila Velha, no Espírito Santo.

De volta ao Brasil, a engenheira sentiu que isso ainda não era o suficiente. Era necessário fazer mais para ajudar as pessoas em situação de vulnerabilidade social que encontrou na viagem.

"Durante as minhas idas e vindas para Moçambique, eu comecei a conviver com a realidade muito forte de crianças e famílias em campos de refugiados, comecei a conviver de fato com a extrema pobreza, e percebi que a minha vida não fazia mais sentido. Não era mais 'só' a adoção da Olga, era simplesmente o tanto que eu sou privilegiada, e o quanto existem pessoas no mundo sem esse privilégio que eu tenho."
Luciana de Paiva Paula, engenheira ambiental

Luciana com a filha Olga - Vítor Vinte - Vítor Vinte
Luciana com a filha Olga
Imagem: Vítor Vinte

Logo de início, ela pensou em criar uma ONG, mas ao ver a dificuldade que amigos próximos tinham em conseguir verba para poder dirigir projetos sociais no Brasil, deixou a ideia de lado.

No entanto, Luciana não se aquietou e logo veio a ideia de criar uma marca que, ao mesmo tempo que tem lucro, também consegue direcionar parte das vendas para ajudar quem precisa.

Apaixonada por bolsas e sandálias, Luciana, então, seguiu seu coração e uniu a paixão pelos itens com o propósito social.

Foi assim que em maio de 2020, no auge da pandemia de covid-19, nasceu o e-commerce Olga Store, que leva esse nome em homenagem à filha.

"Essa paixão pessoal veio ao encontro com o que vi em Moçambique, as mulheres de lá gostam de andar com bolsas e sandália bonitas e coloridas, mas nem todas tem acesso ao tipo que gostam".

Hoje, a cada bolsa vendida pela Olga Store, um par de sapatos novos é doado para alguma organização social que repassa para uma criança que precisa. As ações já ocorreram no Rio de Janeiro, São Paulo, Amazonas, Roraima, Curitiba, Sertão da Bahia, Moçambique e Tanzânia.

As doações são, em sua maioria, para ONGs de amigos ou conhecidos que a empreendedora fez durante a caminhada para ajudar pessoas em situação de vulnerabilidade social. Desde o início da Olga Store, já foram doados cerca de 485 pares de calçados.

Além disso, por Luciana ser engenheira ambiental, a questão da sustentabilidade na empresa é fundamental para ela. Por isso, para envio das mercadorias, são usadas embalagens reaproveitadas a fim de reduzir a geração de resíduos e o consumo de energia na confecção de novas embalagens.

A cada bolsa vendida, a marca doa um par de calçados para projetos sociais - Vítor Vinte - Vítor Vinte
A cada bolsa vendida, a marca doa um par de calçados para projetos sociais
Imagem: Vítor Vinte

No futuro, o desejo da marca é obter lucro suficiente para perfurar poços de água no Brasil e em Moçambique, facilitando, assim, o acesso à água de pessoas em vulnerabilidade social.

Não é à toa que o negócio de Luciana foi o segundo colocado entre os vencedores da 6ª edição do Programa FedEx para Micro e Pequenas Empresas no Brasil.

A empresa levou R$ 100 mil, e ainda teve uma mentoria de negócios com Renato Mendes, que é investidor, mentor na Endeavor Brasil e autor do best-seller "Mude ou Morra".

Com a premiação, a marca vai investir em maquinários para produção própria das peças e ainda apostar em materiais recicláveis para diminuir o impacto ambiental dos resíduos.

"Empreender é muito difícil, dá uma satisfação, mas é muito difícil. Nós viemos de 2 anos de pandemia e com muita dificuldade, e eu me questionei diversas vezes: 'será que a gente está no caminho certo? será que é isso mesmo?', relembra Luciana.

"Quando eu recebi, foi até o nosso social media que me mandou uma mensagem no WhatsApp e falou: 'Lu, você tá sentada? Você não acredita, a Olga Store ficou em segundo lugar no prêmio da Fedex', eu pensei que eu fosse desmaiar, eu só sabia chorar, foi algo assim revolucionário. Para mim foi uma mensagem de 'você está no caminho certo!' Foi um combustível gigantesco para nós", completa.