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Estudante ensina técnicas de primeiros socorros em ônibus no Ceará

Rubens Queiroz, 28 anos, embarca nos coletivos de Fortaleza ensinando procedimentos em casos de engasgo, convulsões, desmaios, AVC ou parada cardiorrespiratória - Arquivo pessoal
Rubens Queiroz, 28 anos, embarca nos coletivos de Fortaleza ensinando procedimentos em casos de engasgo, convulsões, desmaios, AVC ou parada cardiorrespiratória Imagem: Arquivo pessoal

Ed Rodrigues

Colaboração para Ecoa, do Recife

20/06/2022 06h00

Um estudante de enfermagem embarca nos ônibus de Fortaleza, no Ceará, para dar dicas de primeiros socorros aos passageiros. Admirador dos profissionais da área da saúde e do Corpo de Bombeiros, Rubens Queiroz, 28 anos, considera que todos podem ter noções básicas para ajudar alguém ou para repassar conhecimento.

Vestido com o uniforme dos bombeiros e com uma boneca nos braços, ele atrai a atenção dos passageiros ao ensinar procedimentos como a maneira correta de reagir em casos de engasgo, convulsões, desmaios, AVC ou parada cardiorrespiratória.

As pessoas prestam atenção, segundo Rubens, porque ele usa um método didático e substitui palavras técnicas da faculdade por linguagem simples. O aprendizado já surtiu efeito: o estudante conta que duas pessoas já usaram o que aprenderam e salvaram crianças.

Rubens conta a Ecoa que decidiu buscar nos ônibus uma renda para pagar a faculdade. Desempregado, ele chegou a vender mousse dentro dos coletivos. Ao perceber que o espaço poderia ajudar na divulgação de medidas de segurança, decidiu apostar na iniciativa.

"Sempre tive admiração pelos bombeiros e pelos profissionais do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Aos 16 anos, presenciei uma grande amiga convulsionando por conta de uma epilepsia. Não sabíamos que ela sofria dessa doença. Ao ver a situação e não saber o que fazer, decidi que aprenderia e levaria isso como profissão. Então, levo orientações sobre como proceder em casos de engasgo para adultos e crianças, desmaios, convulsões, AVC, entre outros", explica.

Dia a dia

Rubens sai de casa às 5h30, diariamente. Os ônibus que pega são aleatórios. Em média, ele embarca em 17 a 19 ônibus por dia. Repete as orientações até o meio da tarde e retorna para a casa. A rotina de levar conhecimento às pessoas naquele momento de deslocamento vem cumprindo o objetivo. O estudante conta que, vez ou outra, chegam até ele relatos de famílias que se lembraram das técnicas em momentos de crise.

rubens - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Rubens adota método didático e substitui palavras técnicas por linguagem simples
Imagem: Arquivo pessoal

"Já tive conhecimento dos exemplos de duas famílias. Teve uma menina de dois anos que se engasgou com uma tampinha de ketchup. A mãe dela tinha presenciado minha apresentação um dia antes e salvou a vida da filha. Outro foi um menino de 11 meses, com um pedaço de copo descartável. Seu pai tinha me visto uma vez apenas, e esse episódio ocorreu três meses depois de me conhecer. Mesmo assim ainda se lembrava da técnica e salvou seu filho", relata.

'Salvei meu filho graças ao que aprendi no ônibus'

O eletrotécnico Gleydson da Silva, 28 anos, conta a Ecoa como foram os momentos de pânico ao perceber que o filho havia engasgado. O susto ocorreu quando o filho John Wesley, hoje com 1 ano e 5 meses, tinha apenas 11 meses de vida.

"Ele se engasgou, mas na hora não sabíamos o que tinha acontecido. Só depois do procedimento percebemos que era um pedaço de copo descartável. Minha esposa deu um banho nele e depois do banho ele estava chorando. Aí, pegou o copo e ficou brincando nos braços dela. Não imaginamos que ele iria arrancar um pedaço", diz.

Eletro - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
O eletrotécnico Gleydson da Silva e a família
Imagem: Arquivo pessoal

De repente, o bebê começou a mexer os braços e as pernas com características de engasgo. A mãe, a dona de casa Ana Raquel Lobo, 26 anos, percebeu o engasgamento, mas não imaginava o que poderia ter provocado.

"Eu o peguei dos braços dela e na mesma hora me lembrei do procedimento que havia aprendido dentro do ônibus. Comecei a fazer os procedimentos meio sem jeito. Ele começou a ficar roxo, mas eu continuei com o procedimento enquanto minha esposa chamava a ambulância. Deu tudo certo", conta o pai da criança.

O pânico durou aproximadamente um minuto, mas para os pais do garoto pareceu uma eternidade. Assim que colocou o plástico para fora a criança foi voltando ao normal. A pele retomou a cor original, a respiração se equilibrou e a família ficou aliviada. "Logo em seguida, ele já se animou. Ainda chorando, quis sorrir. Na hora do desespero, fizemos umas gracinhas para ele e ele voltou a sorrir. Tenho certeza de que Deus tem colocado esse cara, o Rubens, para ajudar muitas famílias, sabe? Isso não aconteceu por nada", comenta o eletrotécnico.

A angústia da família foi parar nas redes sociais. Os pais resolveram contar o que aconteceu e mostrar que os ensinamentos do estudante de enfermagem ajudaram a salvar o filho.

"Logo depois que aconteceu, eu compartilhei no Instagram dele. Porque assim: nós costumamos aprender coisas e reter, mas o que o Rubens ensina de graça tem salvado vidas, sabe? Acredito que, se não fosse o que aprendi com ele, poderia ter acontecido uma tragédia. Na hora não é tão simples. Às vezes, não conseguimos pensar direito, mas quando aconteceu, eu só lembrei o que o Rubens ensinou no ônibus", comemora.