Em tempos de pandemia, nova série retrata quem se dedica a ajudar o próximo

O desejo de acolher e ajudar quem precisa falou mais alto na vida do italiano Gianfranco Mellino, um dos personagens da nova série documental da HBO, "Missões de Vida".

Em 1996, Gianfranco abriu mão de sua vida pessoal, deixou familiares e amigos em Turim, na Itália, e desembarcou no Brasil ao lado de três colegas para coordenar o que viria a ser um dos maiores centros de acolhimento do país, o Arsenal da Esperança. Há 24 anos, o missionário italiano se dedica integralmente a transformar a vida de 1200 pessoas, em sua maioria moradores em situação de rua, que passam diariamente pela casa de acolhimento, localizada no centro de São Paulo.

"Pessoas como Gianfranco são exemplos de solidariedade. Nesse momento que vivemos, em que o mundo luta contra uma pandemia, mostrar histórias de quem tem como missão ajudar o outro, é inspirador. Diante de tanta notícia ruim, precisamos de exemplos de solidariedade na sociedade. Por isso escolhemos dar voz para pessoas que estão fazendo a diferença e que têm a vida dedicada a uma causa", comenta a cineasta Mara Mourão, que assina a direção geral da série.

Criada por Ana Cláudia Streva e Bruno Modolo, "Missões de Vida" mostra em cada um dos 10 episódios a história de vida de dois personagens, que se entrelaçam em um só tema. Em um deles, está a trajetória do colunista de Ecoa, Rodrigo Hübner Mendes. Após sofrer um assalto, que o deixou tetraplégico ainda jovem, Rodrigo fala sobre os caminhos que o levaram a fundar o instituto que leva o seu nome e hoje é referência na defesa da educação inclusiva.

Assim como Rodrigo, outro exemplo de recomeço que contamos é o de Ivanise Espiridião, que vivenciou a maior tragédia que pode acontecer com uma mãe: sua filha desapareceu ao visitar uma amiga. Para lidar com a dor o desespero de, até hoje, não ter encontrado uma só pista sobre o paradeiro da jovem, Ivanise criou a Associação Mães da Sé, que dá suporte e ajuda famílias a encontrar entes perdidos.

Mara Mourão, diretora da série

Com trabalhos reconhecidos no cinema, como o longa-metragem "Doutores da Alegria (2005)" e o premiado "Quem Se Importa (2013)", Mara vê o audiovisual como uma ferramenta importante de transformação social.

"É uma tendência mundial. Cresce cada vez mais o número de produções que discutem e refletem sobre a falta de políticas públicas. Em 'Missões de Vida', por exemplo, abordamos desafios, dilemas e conflitos de pessoas que levantam bandeiras em prol da saúde, da consciência ambiental, da educação e contra a desigualdade social", afirma.

Produções do gênero têm um potencial de transformação grande, segundo Mara, principalmente por haver um efeito "replicador". São conteúdos que costumam ser compartilhados e rapidamente entram no circuito educacional, ganhando exibições em salas de aula.

Para a cineasta, "Missões de Vida" chega como um refúgio nesse momento de isolamento e crise, e aproveita para criticar a falta de investimento público no audiovisual.

"São programas de TV, séries, filmes, que, agora, mais do que nunca, nos distraem. É um mercado que gera milhares de empregos, mas que está totalmente parado. E por quê isso está acontecendo? Porque falta uma 'canetada'. Basta o governo autorizar o fundo setorial e liberar as verbas para projetos aprovados desde 2018. Com isso, muitos profissionais, como produtores, teriam condições de entrar em pré-produção. E esse trabalho pode ser feito em casa, online, pelo computador, sem a necessidade de ir para rua. Ou seja, colocaria muita gente na ativa e fortaleceria a indústria nesse momento de crise", concluiu.

"Missões de Vida" é uma produção feita em parceria entre a HBO, a Grifa filmes e a produtora Nós e vai ao ar às segundas-feiras no canal a cabo Cinemax, às 18h55.