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Rosana Jatobá

Histórico da China dá voto de confiança para plano de carbono-zero até 2060

Presidente da China, Xi Jinping, em Pequim -
Presidente da China, Xi Jinping, em Pequim

01/10/2020 04h00

Nem Estados Unidos, muito menos o Brasil. Quem parece enxergar o monstro das mudanças climáticas, são os olhos puxados do oriente. A China tem como objetivo atingir a neutralidade de carbono antes de 2060. Isto significa que o país asiático, responsável por 28% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, quer eliminar gradualmente qualquer uso convencional de carvão, petróleo e gás até meados do século. É a primeira vez que a China reconhece a necessidade de chegar a zero emissões de CO2, um verdadeiro marco na política climática internacional.

Sem este novo anúncio da China, o Climate Action Tracker estima que o aumento da temperatura global será de 2,7°C até 2100. O anúncio chinês baixaria o aquecimento para cerca de 2,4 a 2,5°C, mais próximo do limite de aquecimento de 1,5˚C do Acordo de Paris.

O líder chinês Xi Jinping pegou a Assembleia Geral da ONU de surpresa, uma vez que a pandemia e as tensões políticas paralisaram as negociações globais sobre o clima, e esperava-se pouco progresso nas mudanças climáticas até 2021.

A fala de Xi dividiu opiniões.

Alguns especialistas acreditam que o discurso dele foi vago, muitas perguntas ainda precisam ser respondidas, como exatamente o que ele quer dizer com neutralidade de carbono e como a China chegará lá. Os céticos afirmam ainda que o líder chinês se aproveitou do vácuo deixado por Donald Trump, que não abordou o tema do clima na ONU, para fingir compromisso com as metas ambientais.

"A promessa climática de Xi Jinping na ONU, minutos após o discurso do presidente Donald Trump, é claramente uma jogada ousada e bem calculada. Isso demonstra o interesse consistente de Xi em alavancar a agenda climática para fins geopolíticos", disse Li Shuo, especialista em política climática do Greenpeace Ásia.

Por outro lado, muitos observadores concordam que o pronunciamento de Xi é um passo significativo.

"A China não é apenas o maior emissor do mundo, mas também o maior financiador de energia verde e o maior mercado, portanto, suas decisões desempenham um papel importante em moldar como o resto do mundo progride com sua transição para longe dos combustíveis fósseis que causam as mudanças climáticas", afirma Richard Black, diretor da Unidade de Inteligência de Energia e Clima do Reino Unido.

Para que a China seja bem-sucedida, terá que trabalhar duro para acabar com sua dependência de carvão, que representa 58% da sua energia.

Parte da estratégia é se manter líder de investimentos em renováveis, (45% do crescimento global em 2018).

Equilibrar melhor as metas políticas de curto prazo com os objetivos de longo prazo é fundamental na transição para uma economia limpa.

O governo chinês já está desenvolvendo seu próprio mercado de carbono, que seria o maior do mundo, onde os países poderão acumular créditos pela redução de emissões e depois negociá-los.

O recém-criado Ministério de Ecologia e Meio Ambiente já está pronto para iniciar as negociações no setor de energia no próximo ano.

Enquanto isso, tenta concretizar uma grande mudança de política. Após anos financiando projetos de energia solar e eólica, que agregaram mais capacidade do que qualquer outro país, a China agora está diminuindo subsídios para o setor e promovendo projetos que possam competir contra usinas de carvão e gás natural. O presente tem raízes no passado.

O histórico da China na última década nos autoriza a dar um voto de confiança à fala do seu líder máximo. Semana que vem eu te conto como a China se posicionou como líder global em ação climática por meio de investimentos agressivos e uma mistura ousada de clima, energia renovável, eficiência energética e políticas econômicas. Você vai ver que os olhos puxados estão cada vez mais abertos quando o assunto é aquecimento global!