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Milo Araújo

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

'Estamos morrendo em níveis alarmantes, mas estamos cada vez mais nas ruas'

Coletivo RO.LO - RO.LO/Arquivo Pessoal
Coletivo RO.LO Imagem: RO.LO/Arquivo Pessoal

Milo Araújo

Colunista do UOL

16/09/2022 06h00

Desde que entendi que era capaz de andar de bicicleta e de fato me coloquei nesse lugar de ciclista, eu ouço falar nesse pedal que vocês vão conhecer melhor agora.

Talvez pela minha porta de entrada para esse mundo ter sido um pedal auto proclamado racializado, eu tenha tido contato com uma cena de ciclismo de valores menos burgueses. Fico feliz e sou agradecida por isso.

O Alexandre Reis (@ahnaomano_) e o Xis (@bruxismo_161) vão representar o RO.LO nessa breve entrevista, mas já deixam claro que grupo não possui hierarquias.

Milo Araujo: Me explica, por favor, a origem do nome do pedal?

Alexandre Reis: O coletivo começou a partir de um grupo de Whatsapp criado pelo Paulo, também conhecido como Perigo, um cara que tem uma paixão por ver bike na rua e juntar gente boa. Nesse grupo, ele começou a reunir gente que tinha alguma afinidade com a zona leste e com quem ele negociava peças. Virou meio que uma feira do rolo. Então o nome RO.LO é uma mistura da feira do rolo com o rolê na 'lost'.

Milo: E qual a história do nascimento do RO.LO?

Ale: O coletivo começou reunindo uma galera da zona leste que trocava peças e tinha um entusiasmo pelas bicicletas fixas, que até então era um nicho bem específico. Com isso veio a necessidade natural de se trombar para trocar umas ideias e girar junto, mas até então os únicos pedais que rolavam saíam do centro, o que dificultava pra quem morava no fundão da leste, então veio a ideia de organizar um pedal que partisse de algum lugar na ZL. Com isso, além de descentralizar o rolê, conseguimos incluir uma galera que se sentia deslocada nos pedais mais tradicionais.

Milo: Como vocês se organizam?

Xis: Nós temos os pedais toda segunda e quinta, que partem às 21h31 e se concentra uma hora antes no Sino do RO.LO, na praça Silvio Romero, no Tatuapé. Temos um grupo no Whatsapp pra trocar ideias, peças, e informações em geral, mas tudo que é relevante é discutido pessoalmente pelas ruas de SP.

Milo: Como vocês enxergam a situação atual das bicicletas na cidade de São Paulo?

Ale: A bicicleta em SP passa por um momento interessante, com uma conjunção de fatores que inviabilizam a utilização dos carros por uma parcela da população, com aumento nos combustíveis e queda da renda em geral, o sucateamento da malha de transporte público e a explosão das entregas de bicicleta durante a pandemia. Tudo isso junto colocou na rua uma quantidade enorme de ciclistas, fazendo com que os motoristas tivessem que se acostumar a ver bikes nas ruas em todos os lugares, independentemente da existência de malha cicloviária nos locais, por pura necessidade do ciclista estar circulando.

Continuamos à margem no trânsito, estamos morrendo em níveis alarmantes, mas estamos cada vez mais nas ruas, e isso não pode ser ignorado. Tanto que agora em tempo de campanha eleitoral, até os candidatos mais conservadores têm mencionado de alguma maneira a expansão e melhoria de ciclovias.

Milo: Qual a importância do RO.LO no cenário do cicloativismo?

Xis: É difícil mensurar a importância no cicloativismo porque o coletivo tem seu ponto forte na horizontalidade e na ajuda mútua, mas sempre temos alguém envolvido em projetos cicloativistas, principalmente se envolve proteção e emancipação das populações marginalizadas. O nosso coletivo leva muito a sério qualquer questão que envolva opressão de mulheres, pretos, pobres, periféricos, trabalhadores precarizados, LGBTQIA+, e tentamos a todo momento ser um espaço seguro a todos. Completamos 4 anos recentemente e temos mais de 100 pessoas participando do grupo de alguma forma e seguimos resistindo, não sei o tamanho disso pro cenário de SP, mas pra mim isso é gigante.

Milo: Faltou falar algo que eu não perguntei, mas vocês acham super importante pontuar?

Xis: Se em algum momento você sentir que não tem espaço em algum lugar, junte-se aos seus e construa você mesmo. Ande de bike e destrua!

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