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Mariana Belmont

Ainda esperamos o impeachment do presidente do Brasil, Jair Bolsonaro

Coalizão Negra por Direitos pede impeachment de Bolsonaro - dIVULGAÇÃO/Coalizão Negra por Direitos
Coalizão Negra por Direitos pede impeachment de Bolsonaro Imagem: dIVULGAÇÃO/Coalizão Negra por Direitos

Mariana Belmont

21/01/2021 04h00

Às vésperas de completar 33 anos, amanhã, 22 de janeiro, eu me peguei olhando para um mundo cheio de barbárie, e fazendo o exercício de deslocar o olhar para o que é importante.

O que se faz quando pessoas estão morrendo sem ar? Isso não para de ecoar na minha cabeça. As violências são recorrentes e se manifestam de diversas formas (criminosas!). O fato é que as pessoas continuam morrendo pela mão do Estado - armado ou desarmado -, sobretudo pela falta de políticas públicas e direitos humanos. Mas nesse caso específico, as pessoas estão morrendo asfixiadas, por falta de insumos básicos para o tratamento da covid-19, como o cilindro de oxigênio. A causa maior: o negacionismo do presidente da república.

Cenas dos hospitais lotados em Manaus, onde corpos de pessoas - sim, elas tem nomes e sobrenomes - eram carregados e estavam ali só esperando o fim. Pessoas vivas, mas morrendo por falta de ar. Equipes de reportagem largando equipamentos para segurar cilindros de oxigênio, profissionais de saúde chorando, mães desesperadas. Um eco do abandono sem fim.

A política do deixar morrer, somando mais de 212 mil mortes.

Quem vai nos salvar de nós?

O presidente mente sobre a covid-19, e sobre absolutamente tudo, e não se importa com nada. O Ministro da Saúde, que eu nem sabia que era ministro, achei que era interino ainda, diz algo, depois volta atrás. Fico me perguntando como será que eles planejam o genocídio da população? Será por Estado? Será por cidade? Por raça e classe, com certeza.

Qual será a estratégia? Será mesmo que o ministro Pazuello não soube organizar a logística ou usamos essa piada para aliviar o plano premeditado de matar as pessoas "a cada minuto que demoramos com a vacina quantos matamos? Quantas deixam de respirar e eliminamos?". Parece cruel para você? Parece desumano?

No subsolo do país, a baderna e a esbórnia rolam com bebidas caras e gargalhadas. Se eu fecho os olhos consigo imaginar Ricardo Salles colocando as florestas na roleta russa assim. Consigo imaginar que todos esses homens cheiram mal, exalam lixo e morte.

Era 28 de outubro de 2018, resultado da eleição presidencial, quando o mais perverso dos vírus se consolidou no país, Jair Bolsonaro foi eleito. Talvez essa seja uma das nossas maiores tragédias recentes, e nem sei como futuramente contaremos essa história, só sei que ela será triste. Um tempo de terra arrasada. Nesse dia de 2018, saímos na rua com medo, escondendo camisetas vermelhas ou com cores que não representavam o ódio. Seguimos com medo.

Em outros textos meus e de colegas aqui do Ecoa, em muitos momentos, nos últimos 2 anos, pedimos o impeachment de Bolsonaro. Em 12 de agosto de 2020, a Coalizão Negra Por Direitos protocolou pedido de impeachment, por conta dos crimes de responsabilidade e da negligência criminosa no contexto da covid-19. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, tem em suas mãos um pedido completo, consolidado e importante, basta fazer valer a necessidade do país.

O impeachment do presidente é uma questão humanitária

Lembro de Ailton Krenak:

Não existe democracia no Brasil. Nunca existiu. O Congresso é uma farsa dominada pelas grandes corporações. E quem elegeu Bolsonaro e se diz "surpreso" agora deveria trabalhar para retirá-lo do poder.