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Leitora avisa, e redação explica distinção de Exu para candomblé e umbanda

Desfile da Grande Rio, com enredo Exu - Divulgação Riotur
Desfile da Grande Rio, com enredo Exu Imagem: Divulgação Riotur

09/08/2022 04h00

Com um desfile para desmistificar Exu, a Acadêmicos da Grande Rio foi a grande vencedora do Carnaval do Rio de 2022. Aproveitando o interesse dos leitores, a redação levantou algumas curiosidades sobre a divindade, mas logo recebeu o e-mail de uma leitora: mesmo que esteja presente nas religiões de matriz africana, Exu é visto de forma diferente no candomblé e na umbanda.

A dica foi aceita e, na semana seguinte, a editoria de Notícias publicou reportagem com a explicação:

  • No candomblé, Exu é um orixá, uma divindade ou a personalização de fenômenos e energias naturais. Ele não é incorporado por fiéis para dar consultas, mas é grande conhecedor de todos os assuntos e dos segredos dos búzios.
  • Na umbanda, é considerado uma entidade, um espírito ligado aos caminhos, que incorpora nos médiuns para ajudar as pessoas na própria evolução.
exu - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

A reportagem ajuda a desmistificar a leitura cristã da entidade, que popularmente é vista como algo maligno ou o próprio demônio.

A própria noção de demônio, aliás, é cristã e não tem correlação na tradição africana. "Há ataques contra Exu, que sofre até hoje por ser ligado a questões que não são relevantes à cultura afro-brasileira, como a maldade, o diabo e o pecado", disse Gabriel Haddad, responsável pelo desfile, em entrevista a Splash.

A vitória da Grande Rio foi um bom momento para pautar a discussão pública de modo construtivo, ainda mais porque o tema costuma figurar em pautas de outra forma. Isso porque as religiões de matriz africana são alvos constantes de intolerância no Brasil.

Outra reportagem de Notícias, publicada em abril deste ano, mostra que denúncias de intolerância religiosa triplicaram entre 2016 e 2021 no estado de São Paulo. Os boletins de ocorrência com esse teor saltaram de 5.214 para 15.296, segundo dados da SSP (Secretaria de Segurança Pública) obtidos pelo UOL por meio da Lei de Acesso à Informação.

Cerca de 62% das vítimas de intolerância religiosa no Brasil declararam ao Disque 100 —canal federal de denúncias— professar uma fé de matriz africana, como umbanda e candomblé. Evangélicos somaram 9,8% dos casos; católicos, 4,8%.